quinta-feira, 31 de dezembro de 2009


Recuso-me a fazer cena!
Privo-lhe das chantagens emocionais banais e despropositais.
Preservo nossas últimas virtudes, já tão pequenas e gasta pela sua insistência na minha transformação em algo tão ridiculamente incomodativo.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Oh! Santa Sensatez!
Incansável na sua missão de tentar nortear tamanho amontoado de incoerências
Continuai abrandando os resultados dessa tragédia nonsense
E poupai-nos dessa dramalheira inspirada pelo patético existir

[Se o mundo girasse mais rápido ao menos pelas imagens da minha janela...]

à uma estranha implicante

Linda Menina, a salvação nunca está exatamente onde imaginamos, muitas vezes estamos caminhando para o abismo sem nem ao menos notarmos, imaginamos uma suposta luz e a seguimos, inconsciente e inconsequentemente afundamos dentro de nós.


Perder-se pode até ser caminho, mas para onde nos leva?


"Conhecer-te a si mesmo", eis o conselho considerado mais sensato, mas a vida, essa incognita possuidora de assustadores requintes de crueldade, essa não se limita a acontecer "dentro", e quando nos voltamos muito para nós mesmos, enlouquecemos, da pior loucura, a irreverssível...


Para mim o "perder" também nunca será fácil, principalmente quando se trata deste...
Tenho o costume, quase suicida, de guardar lembranças das pessoas que passam pela minha vida. Ano passado, exatamente nessa data, recebi um email que acalentou meu coração, lembro exatamente do que senti, o que pensei, lembro do meu sorriso, da mania que eu tinha de apoiar o rosto no braço esquerdo e olhar insistentemente para lugar nenhum, bancando a reflexiva , quando na verdade apenas patinava sobre fatos e elementos triviais, coisas tão pequenas que hoje me doem tanto, não pelo significado, mas pelo tempo que me custou... De tudo isso que se passa sempre costuma restar apenas e uma dor branda, silenciosa e temporária.


Quando não fazer sentido ultrapassa o próprio entendimento de si,
Eis o sinal de alerta final
Tantas efemeridades fadadas ao desmonte
E a dissimulação impera com invejável maestria


"Amanhã tudo volta ao normal
Deixa a festa acabar,
deixa o barco correr,
deixa o dia raiar
Que hoje eu sou da maneira que você me quer"

Chico Buarque

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

não abdico do meu direito de achar uma merda..

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

nada aleatório

Se você não se atrasar demais, posso te esperar por toda a minha vida.

[Oscar Wilde]
Vença-me.
Seduza-me.
Fique comigo.

Ah, faça-me sofrer!

[James Joyce]

domingo, 20 de dezembro de 2009

A decadência me atrai mais.
Oscar Wilde
“O amor é uma espécie de preconceito. A gente ama o que precisa, ama o que faz sentir bem, ama o que é conveniente. Como pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse? Mas a gente nunca conhece.”
Charles Bukowski

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Qual o problema das coisas serem efêmeras?
Se a própria existência tem como fundamento tal característica, que desejo insensato é esse das pessoas almejarem o eterno?

domingo, 13 de dezembro de 2009

De fato, eu não poderia deixar de concordar com a atrocidade cogitada por essa Coisa Pensante que há dentro de mim, realmente, é inegável, o convívio social nem chega a ser algo que exige tanto de nós.
Ok! Coisa Rebatedora das Questões Postas Pela Coisa Pensante, não estou entrando em contradição com meus, digamos, princípios anti-sociais, ou até mesmo essência anti-social, ou então cogitando a possibilidade de fazer-me também um néscio, definitivamente, não é disso que se trata!
Creio que o que a Coisa Pensante estava a supor sobre tal convívio refere-se ao grau de exigência dos interlocutores comuns, aqueles que costumam ser inconvenientemente postos por artimanhas malignas das idéias mirabolantes tramadas pelo Senhor Destino, juntamente com os pitacos maquiavélicos do mentecapto infante do Senhor Acaso, trata-se daqueles seres que adentram no convívio social por meios que ultrapassam a possibilidade de filtragem de qualquer seletividade, e que apenas atitudes efetivas e inquestionavelmente psicóticas os afastariam, são aquelas pessoas que costumam compor os “pacotes sociais”, ou seja, normalmente dentre os mesmos sempre há um que você verdadeiramente (e ingenuamente) resolveu conviver, mas que trazem consigo toda uma série de seres não tão agradáveis quanto você supunha. Tais pessoas costumam ser caracterizadas como: “amigos dos amigos”, “família dos amigos”, “família do respectivo cônjuge, ou aspirante ao cargo”, “colegas de trabalho”, “colegas de classe”, e mais uma quantidade incontável deles, são aquelas pessoas de teor utilitário indispensável, mas de atributos qualitativos a beira da inexistência.
Apesar de provocarem invariavelmente certa náusea, ou apenas aquele tédio com capacidade inconfundível de transformar minutos em horas, ou então de causarem com uma constância incomparável a tal a “vergonha alheia”, tais pessoas não são de todo inconvivíveis.
Sim, elas exigem que se use absolutamente toda a carga da bateria concedida pelo aparelho regulador das virtudes não concedidas e moderadas naturalmente, tanto que se faz necessário deixar o modo “paciência” em freqüência mais alta que o modo “tolerância”, “simpatia”, “cordialidade”, é imprescindível que se deixe o aparelho na tomada durante toda a noite para não se correr risco de ficar sem carga.
Contudo, tais seres não costumam ter um grau de exigência de convivência provido de muito requinte, em pouco tempo é possível perceber exatamente aquilo que esperam de nós, afinal, não se pode desprezar o fato de podermos dizer que não são todos iguais, até que são variáveis as categorias, há os que querem ouvir, os que querem ser ouvidos, os que apenas querem que estejamos próximos, os que nos usam de bengala, os que pensam ser a nossa bengala, mas não chega a ser um trabalho árduo detectar com precisão em que categoria se enquadram.
De modo geral, para garantia inquestionável que uma vida social saudável e desprovida de conflitos perturbadores e desnecessários, basta apenas selecionar algumas expressões faciais, preferencialmente algo do tipo “Monalisa” que não demonstre grandes efusividades, ter decorado meia dúzia de comentário, opiniões, conselhos, criticas, e chavões que via de regra não denota nenhum sentido que propulsiona o horror alheio. Comprovadamente, decorar as tais “frases feitas” de Augusto Cury a Pedro Bial, ainda lhe garante o troféu de Bom Moço com Aspirações Intelectuais!
Nada que uma pequena quantidade de experiências práticas testando os métodos que vierem em mente não lhe garanta elogios e bons adjetivos acompanhados de seu nome!

sábado, 12 de dezembro de 2009

E eu que pensava ter me afastado definitivamente desse sujeito impertinente,
já nem buscava imaginar por que campos jazia,
acreditando-o totalmente decomposto,
eis que em uma noite de tédio
ausência absoluta de sono
presença plena dos efeitos massacrantes da monotonia
ressurge o tal!
risinho meia boca
[tentando esconder a gargalhada que causou meu olhar de espanto]


- Saudações, Bom e Velho Pieguismo! Já que insiste em ficar, venha cá, puxa uma cadeira e conte-me os ventos que o trazem!



"E a paixão é loucura que passa,
como um terremoto
com o tempo acalma.
Mas onde você esta?
Onde você esta?"
Barão Vermelho

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Daquilo que me causas...


"Já não sei dizer se ainda sei sentir.
O meu coração já não me pertence.
Já não quer mais me obedecer.
Parece agora estar tão cansado quanto eu.
Até pensei que era mais por não saber,
que ainda sou capaz de acreditar.
Me sinto tão só.
E dizem que a solidão até que me cai bem.

Às vezes faço planos.
Às vezes quero ir.
Para algum país distante e voltar a ser feliz.
Já não sei dizer o que aconteceu.
Se tudo que sonhei foi mesmo um sonho meu.
Se meu desejo então já se realizou.
O que fazer depois, pra onde é que eu vou ?
Eu vi você voltar pra mim.
Eu vi você voltar pra mim.
Eu vi você voltar pra mim."

Legião Urbana
"Já estou cheio de me sentir vazio
Meu corpo é quente e estou sentindo frio
Todo mundo sabe e ninguém quer mais saber
Afinal, amar o próximo é tão demodé."

Legião Urbana

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009


Aqui a sensação não era a mesma, apesar de se tratar de um espaço em branco sendo preenchido por letras, tentando transmitir qualquer coisa que fosse, não era a mesma coisa, e não se devia ao fato de efetivamente não se tratar da mesma coisa, era algo que ultrapassava esse não ser uma folha de papel e uma caneta. O sentir provocado por bater os dedos e ver as palavras surgirem não conseguia adquirir a mesma autenticidade, não havia a mesma marca de angústia que se pode perceber através dos traços feitos pelas próprias mãos, aquela marca singular que a letra de cada um imprime às mensagens, as impressões digitais presentes, de fato, a materialização do sentir. Aqui não era o mesmo, aqui soava falso, artificial, corriqueiro, aqui, antes de ser lido, o que todos faziam parecia igual, visto à distância. Aqui, a primeira vista, todo mundo não passava de farinha do mesmo saco. E tenho dito!

domingo, 6 de dezembro de 2009

Dos primórdios da idealização...


...de quando idealizar era uma experiência lúdica
do acreditar na plenitude das possibilidades...
do ser tudo...
...poder ser tudo
querer ser tudo






[e deixar tudo esvair-se]
quando, daqui a umas horas, a manhã vier branca e fria, saberei eu andar?
lembrar-me-ei como se põe um pé à frente do outro? sem cair...

Al Berto, in O Medo

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Maníacos da procriação, bípedes de rostos desvalorizados, perdemos todo atrativo uns para os outros, e somente sobre uma terra semideserta, povoada no máximo de alguns milhares de habitantes, nossas fisionomias poderiam reencontrar seu antigo prestígio. A multiplicação de nossos semelhantes beira a imundície; o dever de amá-los beira o absurdo
Emil Cioran, História e Utopia


"Quando olhou para o espelho,
os olhos, do outro lado,
disseram-lhe coisas estranhas.
Por exemplo:
pode-se vomitar tudo
menos o medo e a solidão."

Dennis McShade
Oh, abre os vidros de loção,
E abafa
o insuportável mau cheiro da memória.
Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Sofredora (Augusto dos Anjos)


Cobre-lhe a fria palidez do rosto
O sendal da tristeza que a desola;
Chora – o orvalho do pranto lhe perola
As faces maceradas de desgosto.

Quando o rosário de seu pranto rola,
Das brancas rosas do seu triste rosto
Que rolam murchas como um sol já posto
Um perfume de lágrimas se evola.

Tenta às vezes, porém, nervosa e louca
Esquecer por momento a mágoa intensa
Arrancando um sorriso à flor da boca.

Mas volta logo um negro desconforto,
Bela na Dor, sublime na Descrença.
Como Jesus a soluçar no Horto!

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

"... e eu quero chafurdar na dor deste ferro enfiado fundo na minha garganta seca que só umedece com vodka, me passa o cigarro, não, não estou desesperada, não mais do que sempre estive, nothing special, baby, não estou louca nem bêbada, estou é lúcida pra caralho e sei claramente que não tenho nenhuma saída..." Caio F.
Seu senso estético não permitiria.
Tudo aquilo era desagradabilíssimo aos seus olhos. Ela não poderia compactuar com tamanha trivialidade!
Tudo que os outros almejavam como “tipo ideal” soava deveras mal aos seus ouvidos, era como se todo aquele arsenal historicamente preparada por seus amáveis ancestrais não lhe coubesse, o tamanho era sempre grande, ela sempre terminava perdida dentro daquelas vestes, seu ser possuía deformidades que impedia sua locomoção dentro daqueles moldes.
Contudo, fora sempre movida por certa covardia travestida de uma infinidade de sentidos controversos que sempre bloquearam aquelas indelicadas palavras que seus semelhantes lhe inspiravam, mas internamente, dentro de si, ela sempre esteve aos berros desejando que todos se danassem!
Era uma espécie de insanidade camuflada de conformidade. Para si, ela se sabia louca, totalmente desvairada, mas para com os outros havia produzido um auto-controle incontrolavelmente imbatível. Nada, nem ela própria, seria capaz de soltar aquelas amarras que impedia que os matassem, mas, por dentro, o extermínio de cada um deles já estava planejado, em determinados momentos cogitava até a possibilidade de acreditar nos maus fluidos, na possibilidade de se jogar pragas, encosto, e toda uma série de coisas pertinentes, mas inatingíveis no seu ceticismo.
Que faltava alguma coisa ela não tinha dúvida.
Sabia também que não se tratava de nada semelhante àquela falta eterna daquela coisa que provavelmente se concretizaria apenas com a morte.
Talvez fosse algum elemento sutil, mas que impossibilitava que se chegasse ao êxito sem a presença dele.

[O bom de ser realista, ou de se supor realista, é a possibilidade de poder livrar-se de grande parte dos clichês (e criar mais um série deles) que podam nossa evolução e justificam a mediocridade com artifícios ou elementos subjetivos que objetivam apenas aquele contentamento conformista, uma verdadeira hipnose para convencê-lo de que não tem dentes visando à aceitação da santa sopa de cada dia.
O fato é que, tendo sido justificado o meu não apego a tais preceitos, a fluência verbal desvincula-se de tais amarras, que mesmo sabendo de sua inconveniência e impertinência, é insistente em levar seu trabalho para todos os departamentos existentes.]

Esta parte ínfima, mas elementar, que imaginava faltar, provavelmente devia estar na ausência dos elementos complementares de compõem esse mundo sujo, ou talvez não sujo o suficiente, afinal, dentro já existia a ânsia, o potencial criativo era inegavelmente real, o que matavam eram as meias ausências, as semi-presenças, quase incompletudes.
Onde estavam os bruscos fins?
As ausências avassaladoras...
E o que fizeram das presenças transbordantes?
Para onde foram as pessoas que exacerbam?
Onde estariam aqueles que preenchem todo o espaço dos olhos,
dos ouvidos,
os que exalam tudo que há de mais singular,
ou até mesmo aqueles que impressionam com o próprio exagero da imbecilidade?
As pessoas estavam/eram opacas demais,
foscas demais,
amenas demais,
mas era um demais que se fazia “demenos”,
um exagero de falta seguido de um exagero de elementos ocos,
um vazio composto por tudo que há de mais nauseante.
Eles eram tão cheios, absorviam tudo que os cercavam de maneira poluente, não filtrada, não selecionada.
Ah! A santa seletividade!
Totalmente mal distribuída entre os seres que habitam a esfera terrestre!
[Há pessoas que necessitam do tal "dialogo de almas", mesmo sem saber exatamente o que ele significa, considerando que as denominações para tal podem ser variáveis. Mesmo sem definições, é possível indetificá-lo quando ocorre, e principalmente quando não ocorre. ]

De quando me tornei massa amorfa

Tudo é irrelevante,
falar,
concordar,
se expor,
omitir-se...
o mais sensato é escolher o menos dolorido,
o menos conflitante,
aquilo que seja capaz de fazer com que você continue invisível,
imperseptível.
Não há grandes causas capazes de valer o esforço,
aliás,
não há causa nenhuma com essa capacidade.
A irreverência é uma farsa,
um problema adquirido sem nenhum benefício,
se algo provoca os seus sentidos,
dane-se,
manifestar-se de forma autêntica e sincera apenas lhe concede danos futuros,
na maioria das vezes irreversíveis.
O nó na garganta é passivel de ser engolido,
é apenas uma questão de prática,
deixar que ele se liberte,
se desate,
imobiliza partes ainda mais essenciais,
o nó apenas se estende para impossibilitar todos os outros movimentos

sábado, 28 de novembro de 2009

"Tento me concentrar numa daquelas sensações antigas como alegria ou fé ou esperança.Mas só fico aqui parado, sem sentir nada, sem pedir nada, sem querer nada."
Caio F.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

"Como é que é? Vai ficar com essa náusea seca a vida toda? E não fique esperando que alguém faça isso por você. Ocê sabe, na hora do porre brabo, não há nenhum dedo alheio disposto a entrar na garganta da gente."
Caio F.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

(...) tudo é engodo e constante ilusão.

O infortúnio se esconde e se abisma no peito,(...)

(Goethe)

sábado, 21 de novembro de 2009

Ah, quem me salvará de existir? Não é a morte que quero, nem a vida: é aquela outra coisa que brilha no fundo da ânsia como um diamante possível numa cova a que se não pode descer.

Fernando Pessoa in Livro do Desassossego

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

"Oh Deus, como é triste lembrar do bonito que algo ou alguém foram quando esse bonito começa a se deteriorar irremediavelmente. C.F.A.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Quando eu quis você
Você não me quis
Quando eu fui feliz
Você foi ruim
Quando foi afim
Não soube se dar
Eu estava lá mas você não viu
Tá fazendo frio nesse lugar
Onde eu já não caibo mais
Onde eu já não caibo mais
Onde eu já não caibo mais
Onde eu já não caibo em mim
Quando eu quis você
Você desprezou
Quando se acabou
Quis voltar atrás
Quando eu fui falar
Minha voz falhou
Tudo se apagou você não me viu
Tá fazendo frio nesse lugar
Onde eu já não caibo mais
Onde eu já não caibo mais
Onde eu já não caibo mais
Onde eu já não caibo em mim
Mas se eu já me perdi
Como vou me perder
Se eu já me perdi
Quando perdi você
Mas se eu já te perdi
Como vou me perder
Se eu já me perdi
Quando perdi você

ARNALDO ANTUNES
de todas as pessoas que há no mundo
por que justo você?
foi cair na minha frente assim
como um agouro ruim
por que você?
por que você?
entre tantos homens e mulheres
e mulheres homens e homens mulheres
por que você?
será que eu te pedi pra ir embora
você não foi, e agora?
se quando eu te pedi para ficar você ficou.
por que coxas pelos pele seios
cabelos músculos pescoço
por que?
se o mundo é tão imenso e tudo tão distante
todos tão distantes uns dos outros
cada um por si
como é que eu fui cair
de boca aqui?
se tudo fica tão intenso
quando eu penso em você
e eu
vou ter agora e sempre que sofrer
sem nunca poder esquecer
você?
se existem tantos pensamentos possíveis e impossíveis por que só
a sua imagem vem a todo instante me assombrar
assim?
eu quis você sim
mas não assim
eu sei que eu fui a fim, sim,
mas não assim
se o que te impede de sair da minha vida
insiste em te dizer não
e magoar quem te deseja e te quer bem
também não deixa de querer mas nunca vem
pra mim
não quero nada de você
não quero nada de você
só vocêAlinhar ao centro
de você não quero agora
de você eu quis
você

ARNALDO ANTUNES

sábado, 14 de novembro de 2009



"carrego coisas pesadas e quase não mais flutuo. há tempos, navego sem encontrar portos pelo caminho. lugares onde se possa parar. descarregar as cargas amontoadas. atirar o que é sobra ao chão do cais. navego enquanto posso, sem conseguir me livrar da bagagem. das pedras dentro das malas. sabendo que a mudança foi com a embarcação e não com o mar. navego, sabendo que afundar é questão de tempo." (eduardo baszczyn)
"(...) a verdade é que eles formam para si uma casca de orgulho, um invólucro repugnante, uma sólida hipocrisia, mas no fundo são ocos. Asquerosos e ocos. E padecem da mais horrível variante da solidão: a solidão de quem não tem sequer a si mesmo." Retirado de A Trégua, Mario Benedetti

"O que eu queria era uma caverna no Colorado com um estoque de comida e bebida para três anos. Limparia minha bunda com areia. Qualquer coisa, qualquer coisa que me salvasse do afogamento desta existência trivial, covarde e estúpida." Buk

terça-feira, 10 de novembro de 2009

segunda-feira, 9 de novembro de 2009



"Que vontade escapista e burra de encontrar noutro olhar que não o meu próprio - tão cansado, tão causado - qualquer coisa vasta e abstrata quanto, digamos assim, um caminho" Caio F.

Caio F.

"Ou me quer e vem, ou não me quer e não vem. Mas que me diga logo pra que eu possa desocupar o coração. Avisei que não dou mais nenhum sinal de vida. E não darei. Não é mais possível. Não vou me alimentar de ilusões. Prefiro reconhecer com o máximo de tranqüilidade possível que estou só do que ficar a mercê de visitas adiadas, encontros transferidos..."

domingo, 8 de novembro de 2009

É noite. Sinto que é noite
não porque a sombra descesse
(bem me importa se a face é negra)
mas porque dentro de mim,
no fundo de mim, o grito
se calou, fez-se o desânimo.

Sinto que nós somos a noite,
que palpitamos no escuro
e em noite nos dissolvemos.
Sinto que é noite no vento, noite nas águas, na pedra.

Carlos Drummond de Andrade
Então me vens e me chega e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que jamais será comprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque assim que és...

Caio Fernando Abreu
Por favor, não me empurre de volta ao sem volta de mim, há muito tempo estava acostumado a apenas consumir pessoas como se consomem cigarros, a gente fuma, esmaga a ponta no cinzeiro, depois vira na privada, puxa a descarga, pronto, acabou. Desculpe, mas foi só mais um engano? E quantos ainda restam na palma da minha mão? Ah, me socorre que hoje não quero fechar a porta com essa fome na boca...
Caio F.
Fora isso o que sempre estivera nos meus olhos no retrato: uma alegria inexpressiva, um prazer que não sabe que é prazer - um prazer delicado demais para a minha grossa humanidade que sempre fora feita de conceitos grossos.

Clarice Lispector.

sábado, 7 de novembro de 2009

Encostei-me a ti, sabendo bem que eras somente onda.
Sabendo bem que eras nuvem, depus a minha vida em ti.
Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao teu destino frágil,
Fiquei sem poder chorar, quando caí.
Cecília Meireles.

sábado, 24 de outubro de 2009

A comparação é totalmente pertinente, não haveria nenhuma possibilidade de questionamento, a não ser por parte dos adeptos aos frutos podres e desprezíveis da humanidade.
Nos memoráveis tempos de minha adolescência, quando ainda existia aquela necessidade gritante de socialização, de pertencer há algo, estar em meio aos iguais e todo um arsenal de motivos fundamentados na mais miserável dignidade adolescente que se embasa nos valores mais mesquinhos possíveis, tempos aqueles em que uma força mais intensa do que os gritos de minha mãe tinha o poder incontrolável de me acordar cedo aos domingos para frequentar o tão admirado Clube de Desbravadores, e para me fazer comparecer, até mesmo com um certo prazer, em todos aqueles acampamentos cobertos de lama, comida ruim, noites mal dormidas, e o principal, seres prepotentes que certamente inspiraram o início do legado da minha própria prepotência.
Pois então, hoje percebo que a sensação desagradabilíssima apenas se travesti, muda-se um pouco os personagens, o cenário, os valores pelos quais esses personagens prezam, mas a náusea que proporcionam sempre permanece.
Quando notei que estava quase estourando meus tímpanos com os fones de ouvido no máximo volume repassando minha lista de músicas provida do máximo de requinte que consegui alcançar, tive aquela mesma sensação dos dias em que chegava dos acampamentos e tomava os banhos mais quentes e demorados possíveis como forma de dar as costas para toda aquela valorização do contato direto com a natureza e principalmente com o contato direito com a àgua gelada da natureza, executava minhas mais perversas farras gastronômicas com a satisfação que só os recursos da auto-destruição proporcionam, era uma purificação inversa contra todos aqueles dias de aveia, lentilha e sopas de repolho, e dormia o mais profundo sono, e por mais paradoxal que seja, sentido-se verdadeiramente leve.
O fato é que mesmo com os tímpanos provavelmente sofrendo sérias lesões, e com toda aquela perturbação que fones de ouvido no volume máximo proporcionam, ainda assim, vou dormir com a certeza de ter me purificado de todas aquelas atrocidades que invadiram meu campo visual e auditivo... faltam apenas os interlocutores de valor para me livrar da interação com tanta tolice...

sábado, 17 de outubro de 2009

Até as faltas mais torpes são passíveis de tolerância, menos a ingratidão, ela é a verdadeira Besta que deixa sua marca no herege morderno.

sábado, 10 de outubro de 2009



"[...]Que nojo o mundo, este jardim de ervas daninhas. [...]"
(Ato I, Cena II: Príncipe Hamlet)

domingo, 4 de outubro de 2009

Dos tempos em que o pieguismo não soava como uma afronta ao bom gosto...

"Há um muro de concreto entre nossos lábios
Há um muro de Berlim dentro de mim
Tudo se divide todos se separam
A diferença é o que temos em comum

Não ha nada de concreto entre nossos labios
Só um muro de batom e frases sem fim
holofotes nos meus olhos cegam mais do que iluminam
nem caiu a ficha e já caiu a ligaçao"
(engenheiros do hawaii)

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Desproposital Nostalgia

Há situações que carregam consigo uma certa magia mesmo tendo sido comprovado empiricamente o quanto podem ser desagradáveis em seus desdobramentos.

Essa era uma daquelas noites em que ela gostaria de estar sentido o mau cheiro daquela rede molhada pela chuva e secada pelo sol incontáveis vezes, ouvindo “Sob um céu de blues” no volume mais incomodativo possível para os viventes dos arredores, colocando em risco a vida útil dos seus tímpanos, vendo aquela lua imensa ameaçando cair sobre sua cabeça no primeiro deslize em que ousasse dormir, ingerindo aquelas substâncias baratas totalmente características de todo o contexto, vagando pelo seu corpo na inútil tentativa de driblar os efeitos do frio, e todo aquele arsenal de palavras vãs, toda aquela banalidade falsamente poética, fatalmente inculta, totalmente desprovida da dignidade fabricada pela contemporaneidade.
Em noites como aquelas ela necessitava daquele caos, daquele cheiro de cigarro misturado com incenso, impregnados nas paredes, nos móveis, nas cortinas, na pele, no cabelo... Faltavam sensações aromaticamente definidas como aquelas.
Queria outro exemplar daqueles pseudo-intelectuais inconseqüentes lhe contando histórias de livros que ela depois chegaria a ler para tentar alcançar novamente aqueles sentidos indefiniveis . Doía um pouco saber que nenhum outro lhe contaria tão bem a história do “Como me tornei um estúpido”, em cima de um telhado que anunciava em sua estrutura que seus dias estavam contados...

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Nem sempre há uma explicação plausível, aceitável, justificável, digna, coerente... O que se sente em relação às coisas, em relação ao mundo, em relação às pessoas simplesmente flui de lugar algum, e não se direciona a nada, apenas paira no ar, deixando aquela sensação semelhante aos dias de calor quando não há vento. Abafa, sufoca, respira-se arduamente, pouco ar a ser dividido entre tantos seres.
Os sentidos que derivam de motivações especificas assemelham-se ao frescor do fim de uma tarde de inverno, quando o sol ainda aquece, mas de forma sutil, proporcionando sensações inexplicáveis na pele gélida, mesmo não se tratando de circunstâncias agradáveis, ainda se tem aquele leve resquício de algo inominável anunciando que a alteração de algum elemento poderia fazer com que as coisas se acertassem, são circunstâncias em que os argumentos habituais ainda têm alguma serventia, quando ainda é possível dizer que ‘vai passar’, ou outros artifícios de continuidade do mesmo gênero. Contudo, quando não se consegue identificar qualquer espécie de motivo, dilaceram-se as possibilidades.

Algo anunciava que o dia não seria bom, e ela sabia não estar equivocada em relação a isso, aquele distanciamento em relação ao que acreditava ser, e ao que realmente era, de acordo com as evidências irrefutáveis, acirrava-se nesses dias. Demorava tanto para os merecimentos, e antes deles era preciso passar pelas situações mais desagradáveis que se pode imaginar. Causava certa fúria a constatação daquele descaso tão espontâneo, algo premeditado certamente inflamaria menos a pele, definitivamente, personificar a irrelevância é um trabalho árduo que exige um longo percurso, porém, irreversível após feito.
Ela queria dizer tantas bobagens, tão imprecisas quanto os seus pensamentos. Queria que soubessem o quanto os achavam detestáveis, queria poder dizer que qualquer sentimento que transcendesse aquela dependência direcionava-se para maldizeres, mas não haviam sujeitos, sofria da falta de interlocutores.
Ela só tinha um cachorro e um cigarro, e considerando que o primeiro não ouviria e o segundo calaria sua boca, sentou-se naquele chão sujo e esperou... Incansavelmente esperou por tudo o que certamente não viria. Dias como estes são capazes de destruir a leveza conquistada por toda uma vida.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

(em caso de não continuidade - siga a marcha fúnebre)

Todos aqueles pensamentos eram insistentes, diariamente apareciam nem que fosse pelo simples fato de fazer-se notar, nada muito marcante nem muito dolorido.
Na verdade doía, mas era aquela dor que não compensava o efeito colateral de qualquer analgésico, uma dor de anunciação querendo reclamar um passado mal digerido, como se alguém dentro abrisse as janelas da alma, ou daquilo que chamamos de alma, e despejasse pequenos fragmentos de vida concretizada ou meramente imaginada, deixando-as fluir pelas frestas, almejando livrar-se ou apenas compartilhar todas aquelas lembranças indigestas, lembranças estas que ainda traziam um gosto na boca, um som aos ouvidos e todo aquele excesso de imagens em tão pouco tempo, nada assimilado por completo.
E aquele nó impossível de ser desatado ou então simplesmente empurrado estomago adentro, e aquele “nós” impossível de ser resgatado ou apenas esquecido, guardado no fundo de uma gaveta qualquer junto com todas aquelas coisas as quais estamos totalmente cientes de que nunca mais terão utilidade, mas que por uma espécie de piedade, guardamo-las com aquela sensação enganosa de um dia precisar novamente, nem que seja apenas como forma de materialização de um passado significativo.
Mas a persistência em se mostrarem vivas causava uma perturbação que impedia o enterro, um eterno funeral de lembranças ainda vivas, quase um rito, uma espécie de cerimônia para adverti-las de que mesmo estando apenas “meio mortas” haveriam de ser enterradas, seus últimos momentos seriam a asfixia.
Entretanto, analisando o requinte de crueldade de uma asfixia, foi então que decidi matá-las...
Ao se analisar com frieza todas as situações que permeiam a existência, certamente têm-se um sentimento absurdo de banalidade, nada escapa do crivo de uma reflexão mais apurada e estritamente racional.
Absolutamente previsíveis, e inescapáveis, as situações se desenvolvem com pequenas variações de tempo, espaço e personagens.
Os que pensam estar preservando certa individualidade e exclusividade em relação a sua interação com todas as facetas do próprio eu, e com o todo que os envolvem, certamente, em algum momento, em meio a qualquer fato banal, ou então, no que pensam ter ou ser de mais excêntrico e incomum, inevitavelmente, em algum dos momentos deixarão cair os óculos com as lentes que distorcem a realidade, ou então se distanciarão demais da neblina enganadora que os envolvia, e indiscutivelmente se darão conta do roteiro pré-estabelecido que estavam seguindo, ludibriados apenas com sutis e quase imperceptíveis variáveis, que ao serem colocadas no cálculo geral, não servem de agravantes de peso significativo.
Não se trata de pensar em ideologia, manipulação, alienação, ou qualquer derivação de tais termos repugnantes, a nossa própria biologia, que independe de qualquer fator influenciável pela “inteligência” humana, já faz de nós essa coisa genérica, totalmente substituível.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Sensações
Náusea crônica
Totalidade indigesta
Vomitar-se do mundo

sábado, 19 de setembro de 2009

Definitivamente, não sou capaz de manter uma relação amigável com minhas estratégias de auto-engano, sempre acabo sendo sabotada por essas calhordas. E tenho que suportar seus risinhos cínicos, e sua eloquência inconfundível , despejando sobre mim seus bem articulados verbetes anunciando que eu já sabia que elas não eram confiáveis.
O fato é que há sempre algum atrativo nas mesmas que me induz a compactuar com elas. O que as tornam tão atraentes, e irresistívelmente convincentes, é o fato de servirem como auxílio no enfrentamento dos percausos subjetivos. São resolutoras incomparáveis para as circunstâncias que criamos no imaginário, porém, nunca resistem quando verdadeiramente e objetivamente são colocadas à prova.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Eu quero
Ser exorcizado
Pela água benta
Desse olhar infindo
Que bom
É ser fotografado
Mas pelas retinas
Dos seus olhos lindos
Me deixe hipnotizado
Prá acabar de vez
Com essa disritmia...

Z.B.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Abraça tua loucura antes que seja tarde demais

Quando o monólogo interior ultrapassa o estritamente interior, com essa necessidade gritante de materialização em palavras, e não se possui um interlocutor para tal, a insanidade torna-se certa. Entretanto, que propriedade eu teria para falar sobre o que pode vir a ser insanidade?
Eis-me aqui! A personificação do que se pode chamar de "homem do senso comum!
Pode ser que seja uma tentativa de falar sobre essa loucura que se gesta, evidenciando-se através de abruptas sutilezas...
Afinal, nada poderia se caracterizar mais como loucura do que tornar-se ao mesmo tempo locutor e interlocutor, trata-se do momento em que o monólogo já não basta, a necessidade sem possibilidade de ultrapassar essa condição.
Contudo, hoje em dia é possível atribuir um distúrbio psicológico para cada indivíduo, principalmente porque todas as caracteristicas inerentes ao ser humano são apontadas como sintomas de algo passível de medicação.
Sendo assim, nenhum escrúpulo me impede de ser o louco, mesmo porque, sendo eu mesma o locutor e o interlocutor, em nenhuma das duas posições eu colocaria obstáculos maiores do que os possíveis de serem ultrapassados pelo tamanho das minhas pernas (não nesse caso), que pudessem me impedir de exercer essa papel.
Essa auto atribuição de loucura é uma espécie de auto proteção contra a verdadeira loucura. Me protejo contra a verdadeira, sufocando minhas angústias e neuras nessa pseudo loucura, ou seja, eu a abraço antes e a mantenho no meu controle, eu a internalizo para que fique no meu domínio para que o oposto não ocorra.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Sei rir mostrando os dentes e a língua afiada
mais cortante que um velho blues
Mas hoje eu só quero chorar
como um poeta do passado
e fumar o meu cigarro
na falta de absinto
Eu sinto tanto
eu sinto muito
eu nada sinto

Z.B.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

São só palavras: teço, ensaio e cena
A cada ato enceno a diferença
Do que é amor ficou o seu retrato
A peça que interpreto
Um improviso insensato
Essa saudade eu sei de cor
E há muito estou alheio a quem me entende
Recebe o resto exato e tão pequeno
E dor, se há - Tentava, já não tento
E ao transformar em dor o que é vaidade
E ao ter amor se este é só orgulho
Eu faço da mentira, liberdade
E de qualquer quintal, faço cidade
Insisto que é virtude o que é entulho:
Baldio é o meu terreno e meu alarde.

R.R.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A vida tem sido deveras medíocre ultimamente, entretanto, em algum momento ela não foi, ou apenas existia um certo caos em relação a mediocridade, ou seja, ela se fazia presente, porém, o fato da sua extrema consciência deixavam maiores as possibilidades de livrar-se dela?
A diferença não estaria no fato de agora a mediocridade estar envolta em uma certa imobilidade ainda mais intensa?
Existiria um total estado de imobilidade na mediocridade ou um total estado de calmaria inconsciente de qualquer mediocridade mas totalmente imerso na mesma?
[estaria eu caminhando para tal?]
Creio que esse desespero seja apenas imaturidade, uma sensação tipíca de quem ainda está na infancia existencial.
O fato é que a vida sempre segue o seu fluxo, independente dos percausos desses seres pequenos que somos; ok! sem generalização, desse ser pequeno que sou. Mas tirar o resto da humanidade dessa generalização de pequenez não seria superestimá-los? Afinal, pelo que a minha constatação embasada em observação de um insignificante ser em sua infância existencial, a mesquinhez impera sobre a humanidade. Mas que credibilidade, que sanidade, que capacidade eu poderia ter para fazer tais constatações? Em contrapartida, eu não estaria me subestimando?
É de fato característico de seres pertencentes a infância existencial apelar para os extremos, e a consciência disso não ameniza absolutamente a situação, trata-se de uma daqueles situações em que se tem plena consciência de que o fato de ter certa postura é totalmente decorrência da posição em que se está ocupando, porém, no que difere? Afinal, como já disse anteriormente, o fato de se ter consciência de algo não altera susbstancialmente a situação, porém, o que a alteraria?

[algo realmente se altera? e se ocorre a tal alteração, quais são as garantias de direção ao exito? e o que seria esse tal exito?[

Acalmaria na mediocridade serviria para algo? E o caos na mediocridade, do que poderia servir? E o que seria extingui-la? E o que fazer do estado de total ausência de mediocriade? Imaginar tal estado e analisá-lo porteriomente já se demonstra como algo falho, resta sempre pequenos vestigios de algo extremamente pequeno em tudo o que é imaginável....
Mas o inimaginável não é alcançável, é algo que apenas se sabe, ou se pensa saber, mas não se mensura, um estado ideal, termo que não deveria ser aplicado, totalmente falho, ele sempre nos escapa, e desse modo, não se aplica, usa-se apenas para demonstrar ainda mais mediocridade, aquela que se remete a falta de compreensão em relação a tudo que se faz presente, mesmo dentro de tanta pequenez, ainda falta... O fato é que a falta sempre impera.

[mesmo não sendo o caso, qual seria a utilidade de expressar-se? No que isso resolveria, ou ao menos amenizaria qualquer situação?]

É um vazio pleno... a plenitude no vazio.

sábado, 15 de agosto de 2009

que exista em ti
minha casca
minha casa
deixa-me ficar
em ti e por ti
para sempre
[me faltam os músculos de existir se te vais]
Luminosidade opaca que me habituei a tomar como certa e que sempre me untou a alma de uma angústia sem razão.
Creio que nunca abandonei de fato a falta de coragem que me persegue desde pequena, que me encurrala no medo diário de me procurar, de atingir aquilo a que devia ter aspirado, a metamorfose final em mulher, o ponto de chegada do ciclo de eterna gestação em que me arrasto.
Nunca tinha me visto sem máscara como agora, onde está a minha ironia, o meu escárnio, a minha força inabalável?
[senti uma súbita auto-piedade e detestei-me por isso]
Sou afinal tão igual, tão igual a toda a gente, que me dói sem que saibam suspeitar-me assim indefesa, assim humana, que me magoa sem que eu demonstre, descobrir-me tão à sua medida agora que tenho de partir, que uma vez mais tenho de partir..

terça-feira, 11 de agosto de 2009


"Alguém que tenha sobrevivido a duas ou três gerações encontra-se na mesma dis­posição de espírito que um espectador que, sentado numa barraca de saltimbancos na feira, vê as mesmas farsas repetidas duas ou três vezes sem interrupção: é que as coi­sas estavam calculadas para uma única re­presentação e já não fazem nenhum efeito, uma vez dissipadas a ilusão e a novidade." (Schopenhauer - Dores do Mundo)

sábado, 1 de agosto de 2009

- Quando foi que se apegou tão fortemente às tais condições objetivas? Ora, procuremos algo de sensato dentro dessa infinda insensatez. Como podes? É improvável que consiga exito dentro desse paradoxo... tentas ser um louco consciente e controlador da própria loucura?
Esse discurso pautado nas "condições objetivas" é para os que estão em pleno estado de sanidade, e o simples fato de eu ser o seu interlocutor nesse momento já o liberta das responsabilidades para com esses parâmetros.
Permanecerás grávida de um futuro que não se atreveu a arriscar por conta das ditas "condições objetivas", com a insatisfação de relembrar um passado de dias abortados? Esse caminho que vos obriga a seguir, e que tens caminhado penosamente por ele, unicamente será capaz de levar-lhe para um estado de constante e imparável multiplicação de uma solidão sem remédio. Se persiste em provocar arranhões nesse 'tipo ideal' que tens seguido, torturantemente, por que não quebras de uma só vez?

domingo, 19 de julho de 2009

Oh, que esta carne tão, tão maculada, derretesse,
Explodisse e se evaporasse em neblina!
Oh, se o Todo-Poderoso não tivesse gravado
Um mandamento contra os que se suicidam.
Ó Deus, ó Deus! Como são enfadonhas, azedas ou rançosas,
Todas as práticas do mundo!
O tédio, ó nojo! Isto é um jardim abandonado,
Cheio de ervas daninhas,
Invadido só pelo veneno e o espinho –
Um quintal de aberrações da natureza.


(Hamlet, Shakespeare)

terça-feira, 14 de julho de 2009



[Quis implorar por mais uma dose daquela loucura, mas não adiantaria... nada seria capaz de me possibilitar tal delírio].

terça-feira, 7 de julho de 2009

[crise]
[caos generalizado]
Tédio incomodativo;
Seres incomodativos;
[caos generalizado]
Extremo desagrado;
Pleno descontentamento;
[crise]
Fuga;
Grades;
I-M-P-O-S-S-I-B-I-L-I-D-A-D-E
Total ausência de estímulo;
Excesso e Falta conjugados;
I-N-C-O-M-P-R-E-E-N-S-Ã-O
Péssimo posicionamento;
Desconhecimento;
Ignorância;
[caos generalizado]
PERIGO!
Manifestações inquestionáveis;
[crise...
Ainda cíclica?
Finda?
Enfim a Infinda?
Algo de Infindo?]
AQUI JAZ!

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Agimos certo sem querer
Foi só o tempo que errou
Vai ser difícil sem você
Porque você esta comigo o tempo todo

E quando vejo o mar
Existe algo que diz:
- Que a vida continua e se entregar é uma bobagem...

Já que você não está aqui
O que posso fazer é cuidar de mim
Quero ser feliz ao menos,
Lembra que o plano era ficarmos bem?

O problema reside no fato de eu ser o "vôcê", e tendo "você" partido, o que foi essa coisa que ficou?

Extinguindo-se as sentimentaloidices torna-se mais complexo explicar uma dor, poucos compreendem esse sofrimento que transcende.... [Eu compreendo?]

Eih, olha só o que eu achei : cavalos-marinhos ...
Sei que faço isso pra esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando tudo embora ...

segunda-feira, 29 de junho de 2009

De subito, certo pânico impera, e eis que surge uma série de indagações, dentre tantas há aquela que sempre consegue destaque, gritante, desesperada, o velho queixume intensificado. Do lamento ao verdadeiro surto, acordando a inquietude que havia dado trégua. É decretado o fim da mornidão, acrescentado subsídios desconhecidos para garantia da consistência de sua pasta espiritual.
Insistentemente perguntava-se, querendo saber a todo custo, sem se importar com o quão dolorida poderia ser a resposta: Em qual parte do percurso haveria dormido?
Em meio as interrogações, apenas uma afirmação fazia-se inquestionável: Os elementos estavam no mais absoluto desalinho.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

"Mamãe há pouco bateu na porta, depois abriu e perguntou se eu estava bem. Achei engraçado. “Eu nunca estou bem” tive vontade de responder. Ou então: “O que é estar bem?” Preferi dizer que sim: "Sim, mamãe, estou bem".
C. F. A.

terça-feira, 23 de junho de 2009

[fadada ao clichê]

quinta-feira, 18 de junho de 2009

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Eu necessitava daquelas palavras da mesma forma que necessitava de oxigênio, ambos disputavam o primeiro lugar na hierarquia das coisas indispensáveis, mas havia certo equilíbrio quanto à perturbação que me causava a ânsia por eles.
Primeiramente, a vida não me agradava, eu não havia conseguido apreender o sentido que fazia as pessoas darem continuidade a vossas existências, desse modo, o não respirar me salvaria do mais profundo desalento, porém, a constatação desse fato não diminuía o desespero frente a qualquer possibilidade de asfixia, contradição irremediável, como se houvesse um duelo entre a minha mente e as minhas funções vitais, contudo, meus pensamentos considerados adoecidos nunca predominavam frente à necessidade de continuidade do meu corpo.
Dessa mesma maneira incompreensível, havia aquela profunda necessidade pela junção que se podia fazer daquelas palavras, ao vê-las sentia a mais sincera necessidade de enquadrar-me nelas, dar a minha pequenez um pouco daquele brilho, que para muitos aparentava a mais profunda opacidade, mas que reluziam frente aos meus olhos, como se aquelas explanações exageradas acerca da mediocridade, ou apenas providas dela, acabassem por abrandá-la, como se fosse possível proporcionarem a produção de anticorpos contra as sentimentaloidices mal fundamentadas daqueles que pensam me ludibriar.

O descontentamento sempre aparenta a mais clara limpidez, desprovido de recursos enganadores, amanhece o dia com promessas de verdades absolutas, não causa estranhamentos e nem proporciona subsídios para o auto-engano, não promove a inveja, não desperta a luxúria, traz consigo certa santidade, uma estado de permanência, sem grandes oscilações, não surpreende com nada inesperado, como se fosse um fim inevitável no qual chegariam todos, um porto, parada obrigatória, todos estariam predestinados há conhecê-lo, em todas as direções e independente do percurso, lá estaria ele representado pela vossa santidade: A Infelicidade! Pronta para agarrar com seus braços frios, e assoprar nas faces seu hálito petrificante. E de tão coerente que se faz, tão condizente com todos os tipos de evidencias, tão longe de qualquer equivoco, provoca entregas irrelutantes.
A felicidade assemelha-se a uma meretriz, uma farsante, seus atributos parecem provir de artifícios superficiais, não suportando analises aprofundadas, uma embriagues que certamente se cura ao amanhecer, trazendo a ressaca moral revestida do mais desesperado arrependimento.
Uma elevação onde a queda faz-se inevitável; como se a insatisfação, ou qualquer outro estado tão lamentável quanto, provido dos mesmos requintes de crueldade, proporcionasse uma certeza de se estar com os pés firmados no chão, na mais profunda lucidez e com os pensamentos regidos pela mais sensata racionalidade.
A felicidade soa como uma espécie de traição; a presença dos rompantes de contentamento transmite a impressão de erro, falha no senso de responsabilidade, anunciação de um mal maior que os anteriores, um inquestionável equivoco, sensação de se estar caminhando com um sapato números menores que o necessário para o tamanho dos pés, uma ousadia irresponsável e sempre inoportuna.
A infelicidade consegue ser algo tão predominante ao ponto da felicidade aludir certo desvio no percurso existencial.

sábado, 23 de maio de 2009

Há uma espécie de pessoa que surge apenas de forma inesperada, súbita e intensamente, nunca estão entre aqueles que nos cercam. Não são passiveis de serem categorizadas, os conceitos fogem quando se trata de tais seres. Quando você nota, eis que lá estão! Por mais que digam o caminho que trilharam até chegar nesse ponto onde você também se encontra, ainda assim, fica certa impressão de falta de sentido no que tange tal aparição, surgem envoltos em um ar nonsense, trazem consigo um aparato existencial inconfundível, no sentido de serem exatamente correspondentes as suas idealizações, no semblante feições acolhedoras para serem eternamente contempladas, não exigem que se selecionem virtudes em meio a suas falas, conseguem ser impressionantes até mesmo nos suspiros, como se tivessem preparado minuciosamente as palavras a serem proferidas, porém, exigem respostas e decisões rápidas, a coexistência com eles não permite erros durante o processo, nunca há tempo para falhas, mesmo as mais ínfimas, aquelas que na vida cotidiana se dissolvem em meio a tantos outros fatos corriqueiros, qualquer deslize os leva para distancias as quais os olhos nunca alcançariam, fútil olhar mais uma vez. Surgem para deixar aquele gosto doce na boca de que idealizações podem sim encontrar objetos correspondente, surgem como a própria personificação das idealizações, para provar que nunca se está realmente preparado para os mais intensos desejos... E se vão, consolidando frustrações eternas.

sábado, 16 de maio de 2009

Havia todos os motivos possíveis e prováveis para adentrar em um estado de angústia generalizada. Ela estava sozinha, sem pretensões que pudesse lhe causar interesses, não havia possibilidades que despertasse seu entusiasmo, porém, de forma incompreensível dentro de si havia aquele sentimento de paz medíocre, infundada, sem grandes motivações, era apenas uma recusa ao sofrer, sentido esse que de tanto se fazer presente em seu percurso imaginava ela já estar controlado, sofreria quando imaginar ser conveniente.
Sim, até o sofrimento exige certa coerência, um contexto determinado, simplesmente sofrer, despretensiosamente seria um despropósito, e viver já era o despropósito mais significativo que ela carregava consigo, tolo seria se firmar em novos desalentos, a não ser que as motivações e os estímulos fossem de dimensão superior as suas defesas.
Chovia, no momento mais impróprio, não havia fuga, aquilo que mais lhe agradava na natureza havia acontecido em um momento inoportuno. Nada possibilitava que ela se escondesse, a necessidade de proteção a direcionava sem muitas escolhas para entre os mortais, meros mortais, que ali se faziam presentes. Todos com seus motivos que consideravam digno, essa falsa dignidade que nos move e nos expõe as situações indesejadas.
Não fora suficientemente feliz na arte de ficar alheia aos seres que a cercava, com aquela espécie de paranóia neurótica que a acompanhou durante todo o seu percurso existencial, imaginava estar sendo observada, tinha medo que seus pensamentos reluzissem, tomassem forma, se personificassem com o intuito apenas de expô-la ao ridículo... Aquilo que ela mais temia: o ridículo, não pelo ridículo em si, mas sim pela atenção que o mundo voltava ao ridículo, pela exposição que ele proporcionava, ela nunca estaria preparada para controlar suas indagações perante uma quantidade maior do que o esperado de olhos voltados para ela, enlouqueceria, instantaneamente. E era exatamente isso que ela pensava que a chuva causaria, nesse ambiente tão despreparado para tal fenômeno. A quantidade limitada de pessoas e de estímulos visuais faria com que qualquer movimento fosse perceptível. Supunha até estar bem localizada, nessa espécie de dialogo interior que executava para que a insanidade não tomasse conta da ínfima parte sadia de si que ainda restava.
O medo que superava todos os outros, mas que não lhe causava sofrimento, era o da loucura, sentia-se apta a ocupar o lugar dos loucos no mundo, pensava até possuir traços marcantes do estereotipo destes.
Ela carregava nos olhos um misto de força e de fraqueza, diferente dos outros, sentia na expressão dos que a observava existindo, certa perplexidade. Isso que se mesclava dentro dela estava longe de qualquer espécie de mediania, eram extremos, oscilações constantes, diferente de qualquer bipolaridade, pensava ela ter certo controle sobre seu mundo interior que desconhecia. Havia uma fera coberta pelo seu semblante composto de segurança, doçura e a mais fina ironia. Fera esta que ela domava com pequenos agrados, carícias, elogios, facilmente influenciável, mas que necessitava de atenção constante. Incansável, exigia um trabalho diário, era preciso dispor de tempo e de paciência, tudo isso em prol da sua sanidade, e do bom andamento de tudo aquilo que compunha seu "mundo exterior". E era justamente por isso que ela temia tanto enlouquecer, não era possível avistar por quanto tempo seria viável negar seus instintos mais sinceros, seu desejo de nada, sua vontade incontrolável de sentar em uma poltrona macia e deixar o mundo seguir sem sua interferência. Longe de qualquer desejo de morte, ela queria ser apenas expectadora, a vida não lhe interessava o suficiente para haver vontade de coexistência, os poros da vida jorravam algo patético que ela achava deplorável, não queria ter parte naquilo. Se acontecesse de forma espontânea, assim como ela imaginava ocorrer com as outras pessoas, seria de certa forma, aceitável, mas ela não fora preparada para simplesmente existir, havia algo que ultrapassava o existir, ou que ficava anterior a este, a medida exata imprescindível a qualquer ser vivente, havia lhe faltado.
O ônibus haveria de chegar, para fim da sua pré-angústia.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Tenho dado voltas vertiginosas na roda da vida, porém, meu desejo continua sendo o de ficar ali embriagada de vinho, virtude ou poesia, parada, pateta, ridícula... Preencher-se de vazio é a imbecilidade mais paradoxal que existe, ludibriar-se com recursos tolos provoca lacunas ainda maiores do que as já existentes...

segunda-feira, 11 de maio de 2009



Não havia motivos para buscar as causalidades, ela nunca havia entendido qual era a utilidade de encontrar a mola propulsora dos males, ela já conhecia as suas motivações e era plenamente consciente da sua irreversibilidade.
Tratava-se apenas de uma fase, mais um episódio de suas crises cíclicas, assim como nas outras circunstâncias, os sintomas viriam não se sabe se com a mesma intensidade, mas logo desapareceriam, subitamente, como o cair da noite, inevitável.
Aprendera a adoecer docemente. Encontrara na dor um colo macio e acalentador. Aprofundara-se na própria falta de objetividade, saída de emergência para quando a vida proporciona entusiasmos tão tênues como o gosto de uma alface, e a dor estaria momentaneamente suspensa, como poeira espanada logo voltaria a desabar.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Ainda me restava uma esperança na humanidade, algo que eu não notava, mas que se manifestava em algumas declarações impensadas, palavras ditas em rompantes pouco refletidos, na verdade tratava-se de berros do meu inconsciente.
Imaginava eu, na minha extrema ignorância, que algum vestígio da essência de todo e qualquer ser vivente pudesse apresentar algo no mínimo digno de alguns segundos de reflexão. Ilusão de contempladora inexperiente. O convívio não deixa dúvida de que algumas pessoas não passam de matéria bruta, nada além de um composto de células ambulante, completamente incapazes de abstrair ou de provocar a abstração alheia.
A irrelevância existencial de tais seres chega a picos inimagináveis, ocupam o grau mais alto na categoria da ignorância mais mesquinha possível, além de não proporcionarem nenhum estimulo para o desenvolvimento do potencial daqueles que os cercam, coexistir com os mesmo não exige nem ao menos que se gaste o próprio potencial. Chego a pensar que a obrigatoriedade de interlocução com essas pessoas "emburreceria" até as mentes mais esclarecidas, afinal, a não necessidade de uso do intelecto certamente o atrofia.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Deus, ou quer impedir os males e não pode, ou pode e não quer, ou não quer nem pode, ou quer e pode. Se quer e não pode, é impotente: o que é impossível em Deus. Se pode e não quer, é invejoso: o que, do mesmo modo, é contrário a Deus. Se nem quer nem pode, é invejoso e impotente: nem sequer é Deus. Se pode e quer, o que é a única coisa compatível com Deus, donde provém então a existência dos males? Por que razão é que não os impede.
(Epicuro)

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Qualquer bípede, com polegar opositor, massa cinzenta em funcionamento e o minimo de discernimento, tem consciência do quão pouco inteligente são as generalizações, isso é inquestionável, porém, em algumas circunstâncias, algumas características são tão persistentes em determinadas categorias de indivíduos, tornando-os tão passíveis de receberem para si atribuições generalizantes, que pouco inteligente seria não fazê-lo.
É preciso livrar-se desse zelo que nos fazem desenvolver para com os preceitos da exímia inteligência, as relações sociais se constantemente refletidas fazem de nós loucos ou babacas.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Com o passar do tempo é inevitável que as pessoas se tornem levemente acretinadas, o máximo que pode variar é a dose, a intensidade e a frequência de uso dessa técnica de sobrevivência. Não há virtude que perdure mediante os percalços da vida. Tolice é acreditar naqueles que mantém a todo custo uma patética expressão afetuosa como se desejassem desarmar o desdém do mundo.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Ninguém pode te salvar da lama movediça de ser você mesmo. O amor, assim como as outras válvulas de escape, são artifícios momentâneos, o sentimento quase alucinógeno que proporcionam é efêmero, breve, passageiro... em pouco tempo torna-se trivial, corriqueiro, a beira do abismo da insignificância com o mais intenso instinto suicida..

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Não há nada mais sem limites do que a estupidez humana. Consciente ou inconscientemente cometemos tolices que poderiam ser evitadas caso analisássemos regras tão básicas que ao serem apontadas causam risos por parecerem tão óbvias.
Irracionalmente adentramos em mares de tinta verde com o desejo ingênuo de sairmos dos mesmos coloridos de vermelho, e ainda maldizmos a sorte, o acaso, o destino e entidades metafísicas pelo desgosto do resultado obtido.

terça-feira, 31 de março de 2009

A autocrítica comumente é confundida com a autodepreciação, nas mais diversas circunstâncias e com os mais diversos propósitos.
A dificuldade reside em conseguir detectar quando se trata de uma estratégia medíocre de algum espírito mesquinho na busca de diminuir-se para atrair para si atenção ou elogios fazendo uso exacerbado da piedade alheia ou até mesmo da falsa modéstia, ou se estamos verdadeiramente diante de um ser cuja alma, assim como alude o velho Buk, reduziu-se até tornar-se uma espécie de pasta espiritual.
É deveras tolo inflar o próprio ego, mas desinflá-lo é um despropósito. E se o seu egocentrismo exige reconhecimento, na pior das hipóteses, invista no marketing pessoal, já que seus atributos expostos de forma espontânea não lhe garantem a atenção desejada.

segunda-feira, 23 de março de 2009

O direito à contradição deveria fazer-se presente entre os direitos humanos inalienáveis. Todo esse arsenal de julgamentos morais, atento a toda e qualquer incoerência praticada ou proferida verbalmente, tem apenas a utilidade de podar as potencialidades inerentes ao indivíduo.

domingo, 15 de março de 2009

Nos finais de semana nunca é possível, você pode passar a semana toda camuflando-se entre seus companheiros de trabalho, supostos amigos de faculdade, aspirantes a magros ou fortões de academia, sem que nenhum deles perceba absolutamente nada de estranho em você, são cinco dias da glória da normalidade, você pode transitar entre todos sem o risco de ser apedrejado ou mandado para Sibéria, mas não nos finais de semana.
Nos finais de semanas desse mundo pós-moderno o que fica subentendido é que você tem que pertencer a algo, a qual grupo é o menos importante, mas é obrigatório que você seja visto entre os demais, misantropia tornou-se uma das espécies mais condenadas de criminalidade. As perguntas que irão definir o seu grau de sociopátia serão feitas comumente nas sextas, ou nas segundas, ou então a fatal evidencia será fabricada naqueles típicos telefonemas de final de semana.

-Oi tudo bem, e aí, to te ligando para saber se vai fazer alguma coisa hoje a noite.

Tornou-se obrigatório fazer alguma coisa toda a noite, só porque é sábado. Essa obsessão urbanóide de aliviar a neurose a qualquer preço nos fins de semana, como se os que não praticassem os rituais purificadores, sejam eles de cunho religioso ou orgiástico, estivessem marcados com o sinal da besta.
Francamente.

sábado, 14 de março de 2009

_Abandonou-te?

_Pior ainda: esqueceu-me...

quarta-feira, 4 de março de 2009

Da indigesta arte de engolir sapos..

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O problema é que algumas pessoas não são merecedoras nem ao menos do termo 'desinteressante', pois até este exige que se possua algum atributo. São verdadeiramente inadjetiváveis. Verbalmente costumam ser tão significativos quanto objetos inanimados, e quando falam, céus!, possuem o discernimento de um recém-nascido.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Apelando para os preceitos da moral judaico-cristão, indiscutivelmente, disparidade intelectual caracteriza-se como o mais grave julgo desigual.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Da suicida arte de adentrar em barcos furados.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

O problema de não conhecer alguns pontos essenciais de um indivíduo, e coexistir com o mesmo, reside na constante e cansativa oscilação entre subestimá-lo e superestimá-lo...

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Ah! Como é ténue a linha que separa as palavras de romantismo das palavras triviais!

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Sim, evidentemente somos intrinsecamente sós, e quanto maior for a capacidade de assimilação desse fato, menos sofrimentos e transtornos possivelmente ocorrerão, mas levar essa questão ao extremo é insanidade. Pobres misantropos!

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Se elas conhecem os monstros da solidão? Obviamente! Frequentemente eles aparecem aos uivos, ferozes, vorazes, transmitem em seus olhos tipicamente vermelhos (assim como alude a santa televisão criadora de nosso inconsciente coletivo) a impressão de que dessa vez a glória do sucesso será atingida, o que lhes garantirá um altar com estofado macio para repousarem nos pequenos intervalos de uma injuria e outra. Mas elas já estão preparadas para esses ataques surpresa, livram-se deles aos berros, estéricos, mas inteligentemente controlados, e logo após uma bebida, um cigarro, uma página ou outra de qualquer bom escritor que domine o fluxo de consciência, os conselhos musicais da Tia Ângela (RôRô), e tudo está resolvido, resta apenas no rosto o sorriso sarcástico anunciando um: até a próxima!
Mulher sem medo de baratas tem como uma de suas características principais o fato de terem o ego assemelhado a demônios, e de manterem todos eles sempre acordados a postos para uma boa disputa com o ego alheio, principalmente quando notam que o ego de seu semelhante se travesti de qualquer coisa amena, opaca, insípida, angelical.
O que as torna perigosamente danosa à saúde física, mental e espiritual de seus semelhantes é que nunca deixam a real faceta do seu ego se apresentar em seus discursos, o que faz seres despercebidos dar subsidio para que as mesmas inflem seus egos, transformando o demônio que carregam em algo imensamente gigante, mal sabem eles, os interlocutores, que tudo que elas esperam é que a proporção da boca desses bichinhos que elas trazem dentro de si (e que os acariciam com mais precisão do que ao próprio clitóris) alcance tamanho bastante para abocanhar suas cabeças.
Sim, eu era alguém pertencente à classe de mulheres que não possuem medo de baratas. Certamente eu também arrumaria pontos de confusão nisso, algumas pessoas foram colocadas no mundo para não permanecerem por muito tempo com convicções, e de fato eu era uma delas, encontro-me agradavelmente distante de qualquer compromisso com a ciência-religião-coerencia e todas as suas derivações. Eu havia decido nutrir o apego a essa ausência de medo, e comecei, mentalmente, catalogar mulheres com a mesma característica. Obviamente, a primeira que me viria em mente é a Tia Rita (Lee), tudo que emana dela anuncia a ausência desse medo, penso nisso e imagino aquela imagem jovial que ela possuía (e ainda possui) quando era membro ativa dos Mutantes, aquele ar de rock engraçadinho de quem está com a bunda virada para toda e qualquer questão – social - existencial - moral – filosófica – religiosa – psicanalítica - literária e essa banalidade toda.
Mas eu havia cansado dela, ela foi deveras resistente, ultrapassou a expectativa de vida para continuar entre os mestres, depois de certa idade perde-se aquela aura de “dane-se”, tudo demonstra inegavelmente passagem por terapias, tratamentos prolongados, especialistas de diversas áreas e tantas outras técnicas de manutenção e prolongamento da vida.
Chega dar medo de um dia vê-la com os cabelos castanhos, toda vestida de branco, desprovida de seus óculos debochados, com um crucifixo no pescoço fazendo o especial de Natal da Globo no lugar do Rei, cantando aos berros “Jesus Cristo eu estou aqui” , sendo contemplada pelo marido que a aguarda com os olhinhos brilhantes, marido este que ela conheceu quando estava produzindo seu primeiro de uma série de curtas onde expunha todo o seu drama de como se livrou dos vícios ao encontrar Jesus.
Céus! Isso foi até nauseante, completamente infundado, mas não menos medonho por isso.
Havia algo de bombástico naquela descoberta, depois de anos desencontrada, eis que descubro uma das coisas que fará toda essa existência incoerentemente medíocre se tornar menos (ou mais) nonsense. Nada de equívoco, estou longe de buscar ‘salvação’ nos auto-conhecimentos redentores.
Em meio a uma conversa completamente desprovida de nexo chego a uma conclusão que dias depois mudaria toda a minha concepção a meu próprio respeito, ou quem sabe seja exagero usar o termo “mudaria”, digamos que essa conclusão me direcionou a compreender alguns detalhes das minhas concepções, afinal, elas são completamente inúteis quando não compreendidas.
Estávamos andando despretensiosamente em direção ao sagrado sorvete de chocolate recheado e eis que surge uma barata que provoca um típico “piti” em um dos seres que sempre me acompanha, e eis que me vem em mente: tudo é socialmente determinado, até mesmo o medo das baratas!
Essa parte é típica de quem tem passagem pelas ciências sociais, nada inédito, inovador, ou digno de glória, certamente não será isso que me levará aos anais da história.
Convenhamos, em sociedades onde esses bichinhos resistentes à bomba atômica são servidos como refeição certamente as mulheres não sobem em cadeiras e esperam a proteção de seus respectivos machos ao vê-los.
A questão que ficou em mente se remeteu a minha posição existencial, até então eu tinha me portado como as mulheres que possuem medo dos tais seres asquerosos, grotescos, provenientes de bocas de bueiros, com um pequeno detalhe que eu vinha esquecendo sempre: Eu NÃO tenho medo de baratas!
Foi então que me vi no mundo, e a ínfima possibilidade de um caminho que me deslocaria minimamente de toda minha incoerência. Não, eu não passaria a comer baratas, já passei da fase em que buscava psicoticamente “descondicionar-me”, onde se luta de forma tão tola como um cachorro que tanta pegar o próprio rabo. O fato foi que, depois de analisar todas as nuances da questão, e as possíveis, prováveis, inquestionáveis implicações da mesma, encho a boca, cheia de si, para dizer em alto e bom som: Eu, conscientemente, pertenço da classe de mulheres que não tem medo de baratas!

sábado, 24 de janeiro de 2009

Definitivamente, essa sociedade pós-moderna me assusta! tudo se tornou tão decepcionante, tão sem graça. Antes quando se tinha o objetivo de "lavar a alma" queimava-se cartas, arrancava-se cabeças de bichinhos fofos de pelúcia, chorava-se desvairadamente até pegar no sono, ouvia-se trilhas sonoras de novelas das oito, vomitava-se palavras de desalento... Mas hoje, bem, hoje as coisas são bem mais simples, nada que uma boa limpeza na caixa e emails não resolva.
I-N-S-T-A-N-T-A-N-E-A-M-E-N-T-E.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

A': - Céus! estou completamente perdida, completamente desnorteada, é como se estivesse no ápice da minha loucura! não poupo meu divertimento ao ver sua cara de susto em meio a tantas contradições. Confessa vai, foi uma dose de insanidade condensada que você colocou nesse copo, é a única explicação plausível.
A'': - (...)
A': - Não, esquece a parte do perdida, vamos dar uma entonação poética para minha derrocada: digamos que eu estou d-e-s-e-n-c-o-n-t-r-a-d-a! não acha bárbaro o que podemos fazer com as palavras?
A'': - E quando foi que você não esteve...
A': - Não seja desagradável.
A'': - Eu te amo!
A': - Ótimo! enfim algo que temos em comum, eu também me amo!
A'': - Você é tão... tão...
A': - Olha, nada de palavras com conotação de decadência verbal.
A'': ... tão cretina.
A': - Será este mesmo o caminho?
A'': - E que diferença faz? caso não seja.. dane-se. É como reza a lenda " todos os caminhos levam a Roma", no nosso caso, "todos os caminhos levam ao abismo", e mesmo se não fosse, no fim a gente morre e toda essa tolice se encerra..
A': - até onde consta (...)
A'': - Por que, diabos, eu ainda converso com você?
A': - Porque você me ama, esqueceu?!

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Poupai-me dessa falsa autenticidade,
desse exímio esclarecimento político,
da leitura desses livros ditos corretos,
dessa habilidade inquestionável com as normas e etiquetas,
dessa supostamente bem formada concepção acerca de todo e qualquer assunto!
Às favas com a boa educação!

Para os diabos com o perfeccionismo gramatical!

E detesto ter que dar a má notícia, mas a arte não vai salvar ninguém.