terça-feira, 22 de setembro de 2009

(em caso de não continuidade - siga a marcha fúnebre)

Todos aqueles pensamentos eram insistentes, diariamente apareciam nem que fosse pelo simples fato de fazer-se notar, nada muito marcante nem muito dolorido.
Na verdade doía, mas era aquela dor que não compensava o efeito colateral de qualquer analgésico, uma dor de anunciação querendo reclamar um passado mal digerido, como se alguém dentro abrisse as janelas da alma, ou daquilo que chamamos de alma, e despejasse pequenos fragmentos de vida concretizada ou meramente imaginada, deixando-as fluir pelas frestas, almejando livrar-se ou apenas compartilhar todas aquelas lembranças indigestas, lembranças estas que ainda traziam um gosto na boca, um som aos ouvidos e todo aquele excesso de imagens em tão pouco tempo, nada assimilado por completo.
E aquele nó impossível de ser desatado ou então simplesmente empurrado estomago adentro, e aquele “nós” impossível de ser resgatado ou apenas esquecido, guardado no fundo de uma gaveta qualquer junto com todas aquelas coisas as quais estamos totalmente cientes de que nunca mais terão utilidade, mas que por uma espécie de piedade, guardamo-las com aquela sensação enganosa de um dia precisar novamente, nem que seja apenas como forma de materialização de um passado significativo.
Mas a persistência em se mostrarem vivas causava uma perturbação que impedia o enterro, um eterno funeral de lembranças ainda vivas, quase um rito, uma espécie de cerimônia para adverti-las de que mesmo estando apenas “meio mortas” haveriam de ser enterradas, seus últimos momentos seriam a asfixia.
Entretanto, analisando o requinte de crueldade de uma asfixia, foi então que decidi matá-las...

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