sábado, 27 de dezembro de 2008

Ah! Velho Buk!




-Você acha que se deva glorificar a bebida?
-Não mais do que qualquer outra coisa
-Beber nao é uma doença?
-Respirar é uma doença
“Com ignorância e vileza absolutas, nossos genitores, isto é, nossos pais, nos põem no mundo e, feito isso, não conseguem lidar conosco, todas as suas tentativas fracassam, eles desistem logo, mas sempre tarde demais, sempre e somente quando já nos destruíram faz tempo" (Thomas Bernhard)

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Shakespeare criou o mundo em sete dias

No primeiro dia fez o céu, as montanhas e os abismos da alma.
No segundo dia fez os rios, os mares, os oceanose os outros sentimentos -e deu-os a Hamlet, a Júlio César, a Antônio, a Cleópatra e a Oféliaa Otelo e outros,para os dominarem, eles e os seus descendentes,até o fim dos tempos.
No terceiro dia reuniu todos os homense ensinou-lhes o gosto:o gosto da felicidade, do amor, da desesperança,o gosto do ciúme, da glória e assim por diante,até se terem acabado todos os gostos.
Chegaram então alguns indivíduos que se tinham atrasado.
O criador afagou-lhes a cabeça compadecidoe disse-lhes e que não lhes restava senão tornarem-secríticos literáriose contestaram-lhe a obra.
O quarto e o quinto dia reservou-os para o riso.
Soltou os palhaçospara darem cambalhotas,e deixou os reis, os imperadorese outros infelizes divertirem-se.
No sexto dia resolveu alguns problemas administrativos:pôs no caminho uma tempestadee ensinou ao rei Learcomo se deve usar a coroa de palha.
Ainda haviam sobrado alguns desperdícios da criação do mundoe então fez Ricardo III.

No sétimo dia viu se ainda tinha algo por fazer.
Os diretores de teatro já tinham enchido a terra com cartazes,e Shakespeare pensou que depois de tanto trabalhomerecia ele próprio ver um espetáculo.
Mas antes, como estava exaustivamente cansado,foi morrer um pouco.

Marin Sorescu
tradução de Luciano Maia

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008



Escrever fora o único jeito que ela havia encontrado para suportar a vida.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

_ As vezes eu não sinto nada, não escuto, não falo, tenho vontade de não ver também, mas se eu fecho os olhos eu quebro a cara, tô de saco cheio dessa falta de sentido, dessa palhaçada nonsense, sacou?
_ Relaxa, meu amor, relaxa.
_ É preciso reconhecer o espaço, eu não tenho mais que cinco minutos, é preciso que as coisas se resolvam, se demorar muito eu vou continuar sem entender.
_ Relaxa, meu amor, relaxa.
_ Se ficar muito tempo ninguém aguenta, tem que saber onde se pisa, entendeu?
_ Relaxa, meu amor, relaxa.
_ Se relaxar o negócio sai mal feito, é preciso dedicãção, saber onde tá se metendo. Geralmente a gente não sabe que tá com a cabeça dentro da boca de um leão, e o bicho tá louco para matar a fome!

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

quão detestáveis são as noites de verão. quão incoveniente é o riso. as falas desconexas. as efusividades desses hóspedes temporários dos prazeres.
Ah! Esse medo de morrer (essa aflição por estar no mundo)
De braços cruzados, a vida segue (e eu: imóvel)

[vou me esfacelando contra as palavras]

domingo, 21 de dezembro de 2008

Ah! Oscar Wilde, meu caro, eu poderia ser uma mera reprodutora de ti sem nenhum trauma!




Aquela dama estava usando arrebique demais, ontem à noite, e roupa de menos. Isso é sempre sinal de desespero, numa mulher.

sábado, 20 de dezembro de 2008



Eu não estou doente, só sei que a vida não vale a pena ser vivida.


Os olhos parados numa expressão estranha, misto de ironia e tristeza. Mas não se pode negar que tinha algo diferente - alguma coisa assim que transcendia o corpo e ficava pairando como... como uma névoa vaga de manhã de outono. O fato é que ela possuía uma graça especial, talvez o jeito como se debruçava à janela, ou mesmo o jeito de sorrir apertando os lábios, como se temesse revelar no sorriso todo o seu mundo interior.

Caio Fernando Abreu


" vai pelo caminho da esquerda, boy, que pelo da direita tem lobo mau e solidão medonha " (c.f.a.)

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008



É o fim , bela amiga
De nossos planos detalhados... o fim
O fim do riso e das leves mentiras
O fim das noites em que tentavamos morrer

sábado, 13 de dezembro de 2008

esse estado de expectadora da existência.
essa doce morbidez.
essa fuga em busca de uma falsa segurança no mundo interior.

[ah! a patética confissão desse desejo de fuga...
nostalgia de distância e novidade,
esse anseio por libertação, desobrigação e esquecimento!]

esse ar nas entrelinhas de texto batido de amante mal amado.
essas falsas e densas complexidades psicológicas.

[ah! como eu queria me aconchegar no seu colo acolhedor e sentir que estas a me poupar dessas presentes e futuras dores dilacerantes. olha! nada mais quero que não seja ter entre as minhas tuas mãos]

talvez eu me firme na certeza de que há sempre alguém que não vemos nos deixando flores.


“Danem-se”, repetiu olhando enfrentativa em volta. Mas “danem-se” não era suficiente para aquela gentalha. Então rosnou: “Fodam-se!” em voz baixa, mas com ódio suficiente...


"Vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno, bem no meio duma praça, então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta, mas tanta coisa que eu vou ficar calada um tempo enorme...só olhando você, sem dizer nada só olhando e pensando: Meu Deus, mas como você me dói de vez em quando!"

(Caio Fernando Abreu)

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008



Horas a fio,

esperando que a ausência se vá..


hoje
se soubesse morrer,
morreria

tédio, ócio e ausências desencadeiam uma série de possibilidades absurdas em nossas cabeças...

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

fazia um friu insuportável. lá fora caia a chuva enfurecida prometendo vingar-se de qualquer um que tentasse afrontá-la. não havia possibilidade de nenhum dos dois fugir.
o líquido tombado dos copos misturava-se com a cinza dos cigarros. restava ainda na mesa pedaços de um passado passado a limpo. cada minuto fazia-se interminável. o acaso havia condenado os dois a digerirem aquela história frente a frente. qualquer manifestação de desalento seria derramada nos olhos do outro. ela que sempre teve os olhos fugitivos agora o inundava de sentimentos gélidos. ele martirizava-se por tê-la apunhalado com tantas delicadezas e falsas promessas que jamais seriam cumpridas. nada mais se poderia esperar daquela junção de insonias profundas e sonos intermináveis. era o fim das noites de ciclos etílicos bukovskiano.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Havia apenas uma certeza em sua mente: não iria mais proceder da mesma forma! era definitivo, nada faria com que ela mudasse de idéia, afinal, depois de ter cometido o mesmo erro tantas vezes seguidas sem refletir por nenhum segundo, de fato não teria como não ter criado alguma resistencia, ainda mais quando se tratava dele, que pouco a motivava sentimentalmente, mas que sempre a convencia com sua argumentação bem pouco coerente e articulada, contudo, dessa vez ela estava preparada, ele não a convenceria.
Como era de se esperar, a situação estava ocorrendo assim como ela imaginou, e no momento exato, exatamente na hora em que ela havia suposto, eis que ele aparece, o semblante de sempre, aquele ar transmitindo a impressão de que haviam se visto apenas a poucas horas e que ele estava sendo esperado, em outras situações isso já havia lhe causado uma certa irritação, mas agora não lhe provocava nenhum sentimento negativo, o que ela sentia era uma profunda satisfação por estar certa de que dessa vez os planos dele seriam frustrados.
Cheia de si ela foi até onde ele estava e deixou que ele falasse, ela se limitava apenas a responder o que ele perguntava, e eis que surge a proposta, como sempre, nada inovador, ela não compreendia como foi capaz de perder tanto tempo com um humano que a fez ler um livro de micro história, e que tinha em mente apenas programas detestáveis em lugares e com pessoas igualmente detestáveis.
Surtou por alguns segundos e começou repetir baixinho para si: "Ah, então foi pra ele que eu dei meu coração e tanto sofri? Amor é falta de QI, tenho cada vez mais certeza". Apesar de nem ao menos ter chegado a amá-lo, ela sempre se feria por seu excesso de sentimentalismo em todo relacionamento que se envolvia.
Voltou a si. Perguntou a ele se recordava quanto tempo não se encontravam, riu descaradamente na cara dele com o ar mais debochado que encontrou ao ouvi-lo dizer que deviam fazer umas três semanas, e aproveitou para dar um de seus conselhos sarcásticos de que ele deveria levar mais a sério a multidisciplinariedade, a História deve ter deteriorado o senso numérico dele, ou ele realmente pensou que a enganaria? afinal, confundir dois meses com três semanas não é algo tão comum de acontecer, não dava para relevar mais uma de suas tolices.
No fundo o que ela queria era encontrar uma forma categorica de mandá-lo para o inferno, não poderia abrir mão de sua sutileza por tamanha insignificancia, ela poderia passar muito tempo desinflando o ego e destruindo-o com seu imenso arsenal de ofensas travestidas de eufemismos, mas não, isso prolongaria a presença dele, e quanto maior fosse o periodo em que ela passasse falando, ele se sentiria no direito de usar a mesma proporção de tempo com explicações, e não era isso que ela desejava... se limitou a mandá-lo embora e dizer que não era mais bem vindo em sua vida... (se livrara de mais um 'fantasma').

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

"É uma honra arruinar-se pela poesia".



Bêbadas,brancas,bacantes o beijam
Suas artérias hírcicas latejam
sentindo o odor das carnações abstêmias
e anoite vai gozar,ébrio de vício
no sombrio bazar do meretrício
o cuspe afrodisíaco das fêmeas.



chama-se Dor, e quando passa enluta
e todo mundo que por ela passa
há de beber a taça da cicuta
e há de beber até o fim da taça!!


Melancolia! Estende-me a tua asa! És a árvore em que devo reclinar-me... Se algum dia o prazer vier procurar-me dize a este monstro que eu fugi de casa!


"...porque neste mundo em que habitas não tens outro direito que não o de chorar."
(augusto dos anjos)

domingo, 30 de novembro de 2008

Quando você vai embora de nós
o pronome parte-se ao meio
você diz que só leva o s
e o que adianta?
se comigo sobra o nó
na garganta.
Então, quando você me beijar,
vai sentir o gosto da minha escrita,
pois a fim de nunca esquecê-las
eu trago todas as minhas palavras
na ponta da língua.

sábado, 29 de novembro de 2008

... as luzes apagadas poupavam meus olhos da efusividade das cores, seria uma afronta qualquer objeto ao meu redor possuir algum brilho enquanto tudo que parte de mim é fosco e opaco. pensei em acender um cigarro, mas frustrantemente lembrei que não fumo. quis me embriagar. contudo. o senso de responsabilidade me fez recordar das atribuições a mim conferidas para o dia seguinte. esperei que o telefone tocasse. não. ele não tocou. colho a solidão do silêncio do telefone. do silêncio da sua voz. a noite prossegue seu percurso. tenho apenas a insônia como companheira fiel.

Só por hoje queria ter aquela voz suave novamente me dizendo:
- "Uma rosa para deixar seu dia mais bucólico"
- "Um livro para sua alma impulsiva serenar"
Hoje quero me nutrir de toda melancolia que tenho ao meu alcance, vou esquecer o quão patética e monotona é a minha vida, e sofrer junto e com a intensidade do drama dos que realmente usufruem de suas existências.
Vou esquecer que meu coração não está partido, que ninguém foi embora e que tudo em mim é extremamente convencional a ponto de eu ser quase invisivel.
Hoje eu quero apreciar a fossa, como se minha vida pudesse servir de inspiração para um blues, quero acreditar que tudo está perdido, que existe alguém que foi embora para nunca mais voltar, e que minha ressaca moral será eterna.
"Podia esperar de qualquer um essa fuga, esse fechamento. Mas não de você, se sempre foram de ternura nossos encontros e mesmo nossos desencontros não pesavam, e se lúcidos nos reconhecíamos precários, carentes, incompletos. Meras tentativas, nós. Mas doces. Por que então assim tão de repente e duro, por que?"
- Caio Fernando Abreu

sábado, 22 de novembro de 2008

Meu prazer está nas festas literárias, onde minha vaidade consiste em, antes e sair, ir ao dicionário retocar o verbo..

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Não há puritanismo, moralismo, cristianismo capaz de esconder a volúpia que salta dos olhos (...)
O processo criativo continua bloqueado, mas o desejo de expressar se desenvolve a cada dia, é uma evolução crescente e gradativa, creio que um surto, que certamente virá em breve, trará a luz uma imensidão de algo ainda não identificável, mas que já aponta a serenidade e o brilho leve que trará a calmaria plena para o que entendo por alma.
Que seja firmado na inconsequência, que as bases não se sustentem por muito tempo... Quero o efêmero, a fragilidade de um castelo de areia, e a profundidade da ternura das coisas findas.
Interno, inteiro, intenso.. sinto por si só, as influências externas são meros agravantes... Deixo que os objetos idealizados tenham a autonomia de se enquadrarem (ou não) em minhas definições.

Amante dos leitores de entrelinhas!
Os humanos são detestavelmente previsíveis, prezam por tolas banalidades e supervalorizam as mais fúteis superficialidades. Vivem presos a preceitos inexistentes, não ousam, não extrapolam, seguem a risca o roteiro que recebem de mentes doentias e controladoras, deixam de viver para preservar valores invisíveis e deixam escapar das suas possibilidades o prazer do que lhes pode ser palpável.
Quão terrível é a sua limitação!

domingo, 16 de novembro de 2008

Pior do que idealizar algo, é encontrar um objeto correspondente a suas idealizações e se ver inapto para usufruto do mesmo.
(Não se trata de reflexões de cunho conservador, retrogrado, arcaico, ultrapassado, desatualizado, é apenas a manifestação em prol dos sentimentos genuínos).
Em meio a tanta vulgaridade, as coisas perdem o sentido estrito que antes lhes eram atribuidos. E enquanto uns forjam amizades, outros forjam amores.
Seriam todos hipócritas, ou estariam simplesmente se adaptando ao contexto?
O problema é que só tenho o caos, não me foi dado o potencial criador. E caos, meramente caos, só resulta em desordem, sem cor, sem som e sem palavras meticulosamente alinhadas.
(a vida me veio como um soco na cara. nenhum rompante de bom senso me impede o furor de revidar)
nada além de palavras
unidas por um conjunto de sutilezas,
uma tramóia confortável,
uma cultura de palavras
muito elegantes e cuidadosas

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

sábado, 27 de setembro de 2008

A mãe dos imbecis está sempre grávida. Fato irrefutável. Uma breve peregrinação entre os bípedes que habitam qualquer parte da esfera terrestre não deixa dúvidas sobre o que foi afirmado a princípio.
Mitos, crenças, crendices entre outros diversos artifícios permeiam a mente de tais seres desprovidos do mínimo de inteligência que desperta o entendimento do óbivio e a persepção de tudo que cerca suas vidas medíocres.
troquemos o pão e circo por óculos!

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

sua sanidade será sempre medida de acordo com a sua capacidade de danças conforme a música, e não, não vai adiantar você ficar inerte se limitando a movimentos repetitivos e contínuos de pés ou mãos, eles querem que você se ocupe, que você se mova por completo, haverá sempre mãos e braços insistentes te arrastando para a dança da vida.
e você demorará muito tempo para descobrir de onde está vindo a música, em determinados momentos até terá a impressão de estar avistado a orquestra, mas não se deixe levar por aqueles que figem ter o domínio de uma ou outra nota musical, aquele que rege sempre estará com o rosto encoberto.
seus interesses serão catalogados por terceiros, suas preferências serão pré determinadas por parâmetros que não serão definidos por você, e sempre haverá forças coercitivas com poder de persuasão suficiente para trazer você de volta caso tente romper com os limites.
eles vão insistir que você persista, com seus olhares de piedade tentarão fazer com que acredite em uma porção de lorotas, e o intuito será sempre o mesmo : fazer com que você dance, deixar seus passos em sincronia com o restante de baile da vida, e toda dança te entertirá, e por trás das cortinas vermelhas, seu futuro estará sendo tramado, a nova música estará sendo criada, os novos paços sendo programados, e todo o seu figurino projetado e o seu trabalho será reduzido, o intuito é sempre o mesmo, que você dance.
tentarão fazer com que se sinta importante mesmo você estando entre os figurantes, te pouparam do brilho das lantejoulas alegando não querer ofuscar o brilho dos seus olhos e você nunca estará entre os que vestem e exibem o extravagante vermelho, e suas piruetas serão dadas exclusivamente quando notar um chapáu de bobo da corte em sua cabeça, e nunca estarão rindo com você, mas sim de você, mas os risos certamente não irão durar muito tempo pois isso poderia inflar seu ego, e essa nunca será a intenção.
e não será permitido que você se ire, a ira se tornará perigosissíma, qualquer sinal de subversão será reprimido por forças ideológicas maiores do que o seu acervo de informação mental, e você nunca terá acesso a todo material informativo, lhe será passado apenas o fundamental para que exerça sua função dando um belo espetáculo
tudo até que chegue o fim, acompanhado lentamente e agradávelmente de uma marcha fúnebre.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Não quero parecer a vossos olhos um ser dramático, é sabido por todos que não faço esse papel ridículo, só quero deixar a situação elucidada para que não imagines que eu tenha fracassada por mera causalidade, ou que tenha havido um trabalho do acaso nisso tudo, não, não se trata de tal. Eu me perdi pelas circunstância, quando dei por mim já estava localizada na pior situação possivel, eu havia me posicionado de forma drástica, assumi um papel existencial de risco, e eis que pago o preço, e pago com a própria vida, perco aqui, consagro a perca neste momento, do futuro promissor, de novas expectativas... perdi-me, e não deixei caminho de volta, terei que ser banal para poder ser entendida, e não irei polpar vocábulos vulgares para me expressar da forma mais clara que eu achar que poderia.
Primeiramente, ou não tão primeiramente assim, sofri meu primeiro divórcio neste ano, quase uma vedadeira separação conjulgal, minha segunda experiencia fora de casa também não deu certo, conheci as pessoas, me desconheci, decepcionei-me e aos outros, senti remorso, carreguei o peso das minhas escolhas erradas, sem saber se tive oportunidade de fazer as ditas escolhas certas, alguns seres possuem em seu caminho apenas a via errada.
Tentei abraçar o mundo, iniciando dois cursos que eu não desejava, não trabalhei, não dei o melhor de mim nas duas faculdade, não tive forças para levar meu estágio do modo adequado condizente com o meu potencial, enfim, fracassei, perdi um curso, me arrasto no outro. Não vejo expectativas, não vejo caminho, terei que começar todo meu trajeto novamente, por descuido, por descaso, por um aglomerado de erros, de escolhas equivocadas...ah céus, por que, diabos, tive que ir tão longe, agora parar é quase impossivel, seguir... inevitável...
Depois daquele divórcio forçado me vejo em meio a usuárias de droga, aspirantes a alcoolatras e pessoas com vida sexual promiscua. Sem falsos moralismos, não é o caso, diferente delas, que cometem todos os erros visiveis, eu, que transpareço a maior pureza, peco com as piores atrocidades, possuo a alma imunda, carrego uma sujeira sem fim por dentro. Mas apesar dos pesares, não estou feliz em meio a libertinagem, se pudesse realizaria um exorcismo na minha vida, ou qualquer ritual que libertasse esses demonios...
E elas, sempre tão presentes, sempre ao meu lado, com seus problems inusitados, não queria que fosse dessa forma, elas que gostam delas, mas que possuem o coração de anjo, e eu, que por eles ainda espero, essa alma imunda, mas o que poderia fazer? as circunstancia me empurraram, eu não podia, eu não devia, eu não me distanciei, eu decai, fui decadente, vadia decadente, vadia sem nem ao menos ser vadia, me perdi, e perdi o que havia de mal em mim, e vi que não restava mais muita coisa.
Eu, que te amava tanto, que te vi decadente, que te vi decair, e vi tu tornaste mais um humano entre tantos outros, Céus, mais uma decepção, mais um erro, inumeras palavras ditas sem nenhum significado...
preciso me achar para depois me perder... não me sinto... não me acho... Diabos, não morro.
Mas consagro que não tenho mais caminhos, declaro minha derrocada.
eis o grito final.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Eih espere, onde pensa estar indo? Não analisou bem o seu campo de possibilidades? Abra esses olhos menina, assim o risco de cair se torna menor, nenhum desses caminhos vão te libertar da existência,
Fique calma, querida, todos eles foram embora, mas você ainda está aqui
Tudo bem, eu sei, você não faz questão de estar aqui...
Afinal, qual é o seu problema?
Do que estão te tratando? Está ciente do que está acontecendo contigo?
Tudo bem que seu ano ainda não acabou e que você já possui toda uma história trágica que te perturba... Esse foi um ano de separações drásticas, descobertas decepcionantes... Pessoas mostrando seu lado mais deplorável, mas e você? O que você significou para essas pessoas que te deixaram o que fizestes por elas? Fizestes algo para não partirem?
Mas não se preocupe, estou longe de lhe recriminar, eu sei tudo o que se passa, sei que eles foram porque era hora de irem, já tinham feito um estrago na sua vida, mas foram embora, agora você já pode descansar, vai ficar tudo bem.
Bom seria se eles tivessem ido embora antes, talvez o estrago fosse bem menor, você não teria feito tanto mal a si mesmo se eles tivessem partido mais cedo, eles deixaram você cheia de cicatrizes, mas e você? Também não levou pedaços deles embora? Passou despercebida? Fez com que eles se sentissem idiotas? Afinal, era o que pensavam de você, não é?
Você que carrega esse ar de superioridade, esse perfeccionismo, esses seus detalhes irrelevantes... Esse peso da irrelevância da vida
você que carrega esse semblante triste, você que só desperta as coisas nas pessoas que elas mais tentam esconder. Você é um ser detestável, docemente detestável,
Essas vozes, o que é que você pensa estar ouvindo?
Você vai passar pela vida dessas pessoas e no fim você esquecerá de todos eles,
mas por que você ainda não expurgou o que mais te machuca?
Quem foi que pediu para ele ficar por tanto tempo... E se ficou, por que não permaneceu?
Mas foi você que proporcionou a guerra interior dentro de todos que apareceram na sua vida,
nada mais permanece.
Por favor, não vá sem se despedir, ao menos diga adeus.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Alguns contam os dias que estão pertos,
outros os que estão distantes.
Tem quem se esquece de datas importantes,
e outros que relembram a todo instante.
Histórias de casais ninguém entende,
mas de amigos, tem quem aceite.

Ando ocupado,
mas fico feliz,
em saber de você.

Se já se faz um mês,
quase não percebo,
mas estive aqui,
quase sempre!

É como se estivéssemos soltos
envoltos nas leis da atração
e por um breve momento..
..perdemo-nos de vista
no lindo girar do horizonte.

Mas para onde buscar?

Se for para um dos lados,
tornarme-ei limitado.
Se viver pelos cantos,
serei envolto de prantos.

Ser esquecido é qualidade?
A pouco não terás de lembrar.

Faça-se novo cada dia,
um novo amigo, um novo lugar.

Mas quem sabe a noite traga,
um clarão que não se espera,
daqueles que nem na poesia se enxerga.
Que confunde a cada instante,
que angustia ao invés de apascentar.
O sentimento que eu sinto,
sentimento que não posso..
..pressupor pela distância.

Entre eu e você
existe o espaço entre
a terra e a lua.

Mas de onde te vejo,
desperta a vontade,
de tudo igualar.

Não pedimos mais tanta distinção,
não queremos o oposto a nossa união.
Não quero saber,
a quem tenho de me aproximar,
se a terra ou se a lua,
se ao reflexo dela ao mar.

Que me levasse ao descanço,
amaria um silêncio branco,
calmo, firme e certeiro,
sem nexo em errar.

As palavras são como enfeite,
as formas são só adornos.

A privação tem tanta realidade,
quanto a constante verdade.

Eu amo.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Aniversário

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje
(e a casa dos que me amaram treme através das minhaslágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim..
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!Não penses!
Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

sábado, 9 de agosto de 2008

Eu podia sentir que não viriam mais outros abraços como aquele, ele possuia uma singularidade quando se tratava de abraço. Não sei se era pelo cheiro, ou somente por ter a pele mais macia de todas as outras que já havia sentido em abraços. Mas agora ele teria que partir, e eu que não posso poupar as palavras, mesmo elas sendo extremamente simplórias.
Mandei de mim o meu melhor pedaço, sei que não o terei de volta, mas me agrada saber que não o deixei partir só. (mesmo ele tendo me deixado só).

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Hoje percebo o quanto me faz falta, vejo a realidade na fala dos decadentes, sinto-me em estado mais decadente que o deles, vejo a razão em suas falas, e a falta de lógica na minha incoerencia. Como aquilo me pareceu agradável, como aquele me pareceu detestável, e como eu, aqui, bem mal localizada, desejei aquele que não deseja nem a si mesmo, e ao mesmo tempo quer a todas possuir, da maneira mais baixa e vulgar que se poderia pensar, "então essa é sua concepção de vulgar?" "deixe de falso moralismo minha cara" , "Eu? moralista?"
sigo os padrões conservadores mesclados de um pós modernismo decadente.
Fugir? mas para onde? é só um pouco de falta de sorte, meu bem.
Um dia as coisas se acalmam, um dia aquele abraço terá braços, mesmo não sendo os dos seus obejtos de desejos.
Mas por favor, não se renda as evidencias,e nem a primeira impressão.
Qual outro "caminho" poderia seguir?
Os horizontes não estão mais tão vastos como já foram um dia.
Hoje só resta esse aperto no peito, e a certeza de um desejo incomedido, irremediável e irrealizável.
perdestes todos seus fieis interlocutores, agora é só você e este nó na garganta. Mas não chores, as coisas ou terão seu fim, ou irão se ajeitar,o pulsar do coração mostra que a vida está passando, e eu vou ficando, um dia agente morre e tudo se finda.....
espera-se.
ansiosamente.
com o coração partido.
é passado o tempo de engolir os "nós" da garganta...

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Não adianta
(Zeca Baleiro)

Não adianta,
Não adianta nada ver a banda,
Tocando “A Banda” em frente da varanda,
Não adianta o mar,
E nem a sua dor.
Não adianta,
Não adianta o bonde,
a esperança,
E nem voltar um dia a ser criança,
O sonho acabou,
E o que adiantou?
Não tenho pressa,
Mas tenho um preço,
E todos tem um preço,
E tenho um canto,
Um velho endereço,
O resto é com vocês,
O resto não tem vez.
O que importa
É que já não me importa
o que importa,
É que ninguém bateu em minha porta,
É que ninguém morreu
,ninguém morreu por mim.
Não quero nada,
Não deixo nada,
que não tenho nada,
Só tenho o que me falta
e o que me basta,
No mais é ficar só,
Eu quero ficar só.
Não adianta,
Não adianta, que não adianta,
Não é preciso, que não é preciso,
Então pra que chorar?
Então pra que chorar?
Quem está no fogo,
está pra se queimar,
Então pra que chorar?

quarta-feira, 7 de maio de 2008

-Dane-se. Comigo sempre foi tudo ao contrário.

-Tudo bem, descansa. Faz parte não conseguir.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Não adianta usar de todos os seus artifícios bem elaborados, de suas estratégias cretinas e convincentes, de seus bons argumentos contribuintes para a intensificação da minha misantropia. Tudo bem que estou sendo sufocada por este cotidiano medíocre que exala um cheiro horrendo comunicando a chegada triunfal do tédio, e que tenho me tornado assustadoramente decepcionante e extremamente sem graça, que os escapes habituais estão sendo drogas de pouco efeito considerando meu estado deplorável, que tenho levado muito a sério a pretensão inconsciente de manter toda e qualquer derivação da espécie humana afastada, e que meus sentidos entendam tudo como desnecessário e desinteressante. Não, Apática Existência, ainda não chegou a hora, eu não vou surtar.

segunda-feira, 28 de abril de 2008


e de repende já não era mais possível fingir nem fugir nem pedir perdão ou tentar voltar...

sábado, 26 de abril de 2008

E como escreveu Charles Baudelaire: "É hora de embriagar-se! Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso". Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.
Via seu espaço : aquele silêncio fazendo cama para solidão; a certeza da segurança que vai além de chaves e fechaduras; a desesperança de qualquer visita ou mágoa sem aviso prévio. Assim era a menina: excessivamente só. Insistia na solidão, afinal, era muito mais tranquila a sobrevivência longe do convívio com as pessoas do mundo. Evitava a intimidade. Encontrava em curtas saudações uma maneira fácil e prática de lidar com as situações cotidianas. Por isso, esforçava-se ao esboçar expressões como: "Boa Tarde", "Como Vai?" e "Até logo". E era só. Nos momentos de crise, sentia-se melhor ao constatar que poderia, a qualquer momento, optar pelo abandono de si mesma. Fazia-se livre para se reinventar como melhor lhe conviesse. Escolhera viver só. Achava mesmo que estaria melhor consigo própria do que com alguém que estivesse ali somente para ocupar um lugar no espaço.
''Não se preocupe, não vou tomar nenhuma medida drástica, a não ser continuar, tem coisa mais auto destrutiva do que insistir sem fé nenhuma? Ah, passa devagar a tua mão na minha cabeça, toca meu coração com teus dedos frios, eu tive tanto amor um dia.''
C.F.A.

sábado, 19 de abril de 2008

Há sempre um momento exato em que matamos as pessoas dentro de nós, a questão é que quase sempre passamos despercebidos por esses momentos, então atribuimos o esquecimento ou a desimportância de algo ou alguém há todo um processo mental gradativo.
"(...)Nas bochecahas a caimbra de uma alegria incompleta
Nada como um sorriso burro e paranóico
Para não perceber a velocidade terrível da queda(...)"

sexta-feira, 18 de abril de 2008







Um dia desses,
eu separo um tempinhoe ponho em dia todos os choros
que não tenho tido tempo de chorar.
Carlos Drummond Andrade





sexta-feira, 11 de abril de 2008

Vive-se bem na mediocridade da vida irrefletida.

terça-feira, 8 de abril de 2008

"Caí em meu patético período de desligamento. Muitas vezes diante de seres humanos bons e maus igualmente, meus sentidos simplesmente se desligam, se cansam, eu desisto. Sou educado. Balanço a cabeça. Finjo entender porque não quero magoar ninguém. Este é o único ponto fraco que tem me levado à maioria das encrencas. Tentando ser bom com os outros, muitas vezes tenho a alma reduzida a uma espécie de pasta espiritual."

Henry Chinaski (Charles Bukowski)

quarta-feira, 26 de março de 2008

Não nego que vínculos proporcionam uma sensação confortante de segurança, mas nada se compara com o agradável sentimento de poder ser triste sem ter que dar grandes explicações, e só os solitários possuem esse privilégio.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Dúvidas valem por si só. A maioria delas não surgem em busca de respostas, e as respostas costumam as deixar bem pouco interessantes.
E eis que me pergunto:
Ele se demonstra tão atraente pela voz mácia que invade o campo auditivo, pelo cheio de maturidade que invade do campo olfativo, ou pelos olhos azuis-quase-cinza que emanam a seriedade mais incoerente já constatada, olhos esses que simbolizam o inverno ao serem focalizados juntamente com os cabelos cobertos de neve, ou seria aquela maneira peculiar de ver as horas no seu relógio de bolso, que dá a ele um ar ainda mais arcaico, como se tudo que ele levasse consigo fossem velharias raríssimas. Pode ser que haja alguma relação com as sutis demonstrações da ironia mais fina e doce já expressa, ou será simplesmente por que meu cerebro o vê como a materialização do outro que meus olhos não alcançam?

sábado, 15 de março de 2008

"Não são os inimigos, mas sim os amigos que condenam o homem á solidão."
Milan Kundera

quarta-feira, 12 de março de 2008

O príncipe encantado convencional que me desculpe, mas quando um homem trata de sua liberdade, referindo-se a ela como o direito de ler o que tiver interesse, eis onde encontro meu ideal masculino.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Ser levado a sério não é uma das tarefas mais simples, principalmente considerando a volubilidade das relações sociais que são travadas diariamente. A conquista da credibilidade é uma tarefa que exige muito além de boas intenções, usando de uma das máximas aceitáveis usada pelo marxismo, em uma época onde o homem tornou-se uma mercadoria, e que o marketing pessoal encontra-se tão em alta que abriu espaço para um mercado de profissionais especializados em ditar o "dever ser", expor-se ao público de forma impensada, quando o intuito é mobilizar as pessoas ao redor que desconhecem suas causas, é um crime gravíssimo.
Os movimentos estudantis que surgem no seio da universidade encontram-se absurdamente descaracterizados e desprovidos de seriedade, se os representantes dos mesmos prezassem realmente com tanta convicção pela permanência e efetividade das conquistas políticas e sociais adquiridas em um longo processo histórico, ao supostamente reivindicarem pela efetivação da democracia provavelmente manteriam a civilidade e fariam o máximo para expor-se de modo minimamente formal.
Fazendo uma análise geral que quem são os estudantes que se vinculam a esses grupos, logo é perceptível o baixo nível intelectual, e para constatar essa característica nem sempre é necessário estar dentro da universidade.
Deparar-se com faixas e cartazes por todo campus de uma universidade propondo "Paralização das atividades acadêmicas" já é um fato que diz por si só.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Alguns sentimentos são tão torturantes que seus danos são aparentes antes mesmo de serem provocados por fatos concretos. É o que acontece com a rejeição, antes que qualquer ato possa indicá-la, apenas a possibilidade de que ela ocorra, já é tão traumático quanto o fato em si.
Não seria por menos, segundo a definição da palavra, fica evidente que não se passa por tal situação ileso:
Rejeição: ato ou efeito de rejeitar; repulsa
Rejeitar: lançar fora; expelir; vomitar; repelir; recusar, negar; desaprovar; desprezar.
Para consolo dos mais sensíveis, a palavra rejeição não tem sido usada com muita frequência de forma brusca, devido a sugestão de hostilidade que o conceito tráz consigo, então dificilmente alguém irá dizer de forma explicita:

_ Você está sendo rejeitado!

Para isso foram inventados os eufemismo, para que você não seja "expelido", "vomitado", "repelido", "recusado" e todas as outras derivações da palavra, o máximo que irá ouvir será um:

_Você não é apto para (...)

_ Você não possui o perfil que estamos procurando.


Se é que isso serve realmente de consolo.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

A condição primordial para uma boa convivência em grupo é a tolerância. Sabe-se bem que cada indivíduo é formado por particularidades que não dependem unicamente da escolha do mesmo, são influências externas que atuam significantemente sobre cada um. Traços culturais, sociais, econômicos, tem ação coercitiva sobre cada um de nós, nossa capacidade de filtrar as informações que recebemos possui um certo limite que nem sempre é perceptível.
Tolerar, respeitar, ter noção consciente que as diferenças existem sem tentar catalogá-las como melhores ou piores é aceitável, mas isso não implica necessariamente que deva existir uma convivência com seres de "ideologias" incompatíveis, forçar convivência é nauseante.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008



Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.
O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.
Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.
Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humor?
A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.
Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.


(Carlos Drummond de Andrade)

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Poucas chances,
Poemas experimentais,
Filosofia existencial,
Novas velhíssimas canções,
Alguém que muito te gosta,
Mas que te causa repulsa,
Alguém que você gosta mas que diz:
Você é interessante,mas não estou interessado,
Ah! a eterna quadrilha de Drummond...
Sessão de cinema,
Vinho tinto,
Um disco novo daquela banda,
Eh! quem sabe as coisas melhorem...
Acho que Nietzsche tinha razão quando disse que Deus está morto.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008


Milágrimas
Alice Ruiz

Em caso de dor ponha gelo
Mude o corte de cabelo
Mude como modelo
Vá ao cinema dê um sorriso
Ainda que amarelo, esqueça seu cotovelo
Se amargo foi já ter sido
Troque já esse vestido
Troque o padrão do tecido
Saia do sério deixe os critérios
Siga todos os sentidos
Faça fazer sentido
A cada mil lágrimas sai um milagre

Caso de tristeza vire a mesa
Coma só a sobremesa coma somente a cereja
Jogue para cima faça cena
Cante as rimas de um poema
Sofra penas viva apenas
Sendo só fissura ou loucura
Quem sabe casando cura
Ninguém sabe o que procura
Faça uma novena reze um terço
Caia fora do contexto invente seu endereço
A cada mil lágrimas sai um milagre

Mas se apesar de banal
Chorar for inevitável
Sinta o gosto do sal do sal do sal
Sinta o gosto do sal
Gota a gota, uma a uma
Duas três dez cem mil lágrimas sinta o milagre
A cada mil lágrimas sai um milagre

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Lembro daqueles dias de caos quando demonstrávamos ao mundo toda a nossa incoerência, e que por ser a idade das máximas manifestações de tolices, nem nós notávamos o quanto tudo aquilo não fazia o mínimo sentido, e nem os outros conseguiam perceber a falta de lógica, mas por ser aquela fase também a que dava inicio as percepções mais apuradas, tanto nós como eles tinham a certeza de que algo ali estava errado. Nós respondíamos a isso perpetuando aquela atitude insana, e eles a respeitavam como se fosse um ritual sagrado.
Foi um ano de tentativas arriscadas, queríamos sustentar um mundo inteiro em um tripé onde cada perna possuía uma altura diferente, e só quem já teve o desprazer de tentar se equilibrar em uma cadeira de três pernas, sabe o quanto o trabalho é árduo. Mas as circunstancias nos levaram a forçar essa união, e quando demos por si já não estava mais em tempo de ativar o campo de retração, o vinculo havia sido formado.
O ritual aos poucos foi se tornando sagrado. De segunda a sexta, lá estávamos nós, o que dava marco ao inicio do ritual era o tocar do sinal que anunciava o termino da aula, e o fato do nosso lugar ser estrategicamente localizado ao lado da porta nos garantia que saíssemos primeiro. Tinha-se algo que compartilhávamos ,o pânico do corredor no inicio e no final da aula. Os meninos do ultimo ano, na tentativa de firmar sua imagem de suposta superioridade, alinhavam-se encostados na parede, uma fila de ogros de cada lado, e quando os nerd’s, cdf ‘s e afins por ali passavam, eram feitos de bolas humanas, sendo literalmente arremessados de um lado para outro, com as meninas era diferente, aquele era o momento de cortejo, no momento em que as moças por ali passavam a animalidade era até amenizada. Mas conosco a atitude era outra, o espaço era aberto de modo que pudéssemos passar sem ser interrompidas, os mais ousados faziam sinais de educação com os olhos, mas mantendo sempre atitude de reverencia e respeito, fatos estes que indago o motivo até nos dias de hoje, mas estou quase certa de que era porque nossos atributos físicos não contribuíam.
Como havia dito, sempre éramos as primeiras a sair no termino das aulas, e eis que tinha inicio o ritual. Eu, a passos largos ia ao encontro de minha bicicleta, a moça dos cabelos roxos sempre tinha algum caso pendente com algum bípede do sexo oposto para resolver, a outra, a mais imponente entre nós, era quem garantia que o ambiente do nosso ritual fosse mantido desocupado. E em questão de minutos lá estávamos nós, a posição era sempre a mesma, eu e a moça imponente de um lado e a moça dos cabelos roxos do outro, e nossas pernas no meio do caminho impedindo a passagem de todos – ou quase todos -, aquela esquina havia se tornado o comitê dos nossos encontros e debates. Primeiro esperávamos todos saírem, havia certa glória em ver aquelas pessoas pelas quais nutríamos uma antipatia desmedida terem que desviar seus caminhos pela rua, e chegávamos a cogitar possibilidades de nos aproximarmos dos que ousavam pular nossas pernas, de fato nunca nos aproximamos – com exceção do caso Lasek Junior - , mas apesar de mantermos distancia, os ousados ganhavam nosso respeito, alguns até conseguiram fazer com que tirássemos as pernas no caminho para que pudessem passar, mas foram raros. O ultimo a passar era sempre o admirável professor de química, eu e a moça imponente o víamos como modelo de homem ideal - apesar da química -, a moça dos cabelos roxos naquela época já se livrava dos últimos parâmetros de seletividade que lhe restava, e nesse caso, o via como ideal pelo simples fato de ser homem.
Quando percebíamos que nada mais iria interromper iniciávamos a conversa, cada assunto era discutido em seus pormenores, nunca saímos de lá sem antes tomar inúmeras decisões, que a cada dia se alteravam substancialmente, íamos de suicídio a casamento - que dá quase na mesma – de futilidades a situação monetária do país, discussões filosóficas quase sempre fomentadas por aquela professora principiante que só eu e a moça imponente ouvíamos, nos torturávamos a cada dia que passava com a tão difícil escolha do curso para o vestibular, e tantas outras irrelevâncias.
Como era de se esperar, o desequilíbrio só poderia resultar em queda. Fizemos tudo diferente do planejado, cada uma com seu erro peculiar sustentou seus absurdos, e como é de se esperar de toda construção com maus alicerces , a ruína foi inevitável.

entre tantos
loucos e livres
existe um
que é doce
e que me falta

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Preferia não pensar tanto assim em você, mas meu lado humano-fraco-e-imerso-no-sentimentalismo-barato impede que a racionalidade atue nesse setor. O afeto que há em mim, que só se manifesta em/para ocasiões/pessoas especiais, costuma ser muito atencioso com o meu estado psicológico, predominantemente perturbado; quando ele nota o quão feliz me faz uma existência tão humana e complexa, de imediato ele ocupa as vias centrais dos meus pensamentos e busca espaço para a expansão desse sentimento benévolo. E o sentimento brando e carinhoso por ti insistentemente cresce a cada dia.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Decadência mesmo é se ver discutindo marxismo com um cara que vê toda mulher, única e exclusivamente, como uma parceira sexual em potência... Todo o resto pode ser relativizado.


terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Não devemos tomar a arte muito ao pé da letra, especialmente no que diz respeito ao 'amor', as orgias verdadeiras nunca são tão excitantes como nos livros pornográficos.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Tudo bem que por mim uma mente insana poderia se apoderar de armas biológicas ou bombas nucleares e por fim em toda humanidade, a decadência já ergueu seu império, o intelecto da maioria das pessoas já se encontra em estado deplorável e irreversível, pouco me importa o futuro da nação, a salvação do universo, e isso tudo não é egoísmo da minha parte, é só indiferença mesmo. Mas isso não significa que vou me calar ou fazer cara de paisagem frente a qualquer discurso demagogo.
A preocupação em relação a escassez dos recursos naturais tem feito surgir ditos preparados pelos meios de comunicação para disfarçar as verdadeiras causas e culpados da degradação ambiental, por pouco não se é levado a crer em coisas do tipo : 'Somos todos responsáveis', 'Só depende de nós salvar e preservar a natureza'.
Ora, deixemos de ingenuidade, estratégia antiga essa de deixar sujeitos indefinidos em frases, quem são esses 'todos' e esses 'nós' de quem depende os seres viventes?
A humanidade inteira paga as consequências da ruína da terra, da intoxicação do ar, do envenenamento da agua, dos distúrbios do clima. Mas as estatísticas confessam e os números não mentem: os dados, ocultos sob a maquiagem das palavras, revelam que 25% da humanidade é responsável por 75% dos crimes contra a natureza.
Fazendo uma comparação entre as médias do norte e do sul, cada habitante do norte consome dez vezes mais energia, dezenove vezes mais alumínio, quatorze vezes mais papel e treze vezes mais ferro e aço. Cada norte-americano lança em média no ar, vinte e duas vezes mais carbono do que um hindu e treze vezes mais do que um brasileiro.
As empresas que mais devastam o planeta, são as que mais dinheiro ganham, e também são as que mais gastam em publicidade, que milagrosamente transforma a contaminação em filantropia.
Fiquem a vontade com suas atuações, o monopólio já está conquistado, a população já se tornou povo, a humanidade já está massificada, mas poupem os ouvidos daqueles que são ao menos um pouco esclarecidos de tanta hipocrisia, definam os sujeitos, por favor.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

















Fui em busca da paciência para cruzar os dias sem me deixar esmagar por eles...




...volto junto com o inverno.
“A religião é o ópio do povo.” (Karl Marx)

“O marxismo é o ópio dos intelectuais.” (Raymond Aron)


... e o meu ópio, é a tolice alheia.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Eu poderia agora me libertar desse claustro escuro, sair dessa prisão trancada por dentro.
Sairia em busca de remédios para o tédio, talvez chegasse a me render aos ópios habituais, poderia ingerir doses daquelas formulas mágicas que derrubam os muros do bom senso, ou então tragar aquilo que caracteriza um jovem do século XXI, me juntar aos modernos em seu ‘intercambio cultural’
orgiástico, deliciando-me com tantas presenças pornográficas fabricadas por encomenda. Eu gritaria meus ódios aos ouvidos presentes, cairia no riso junto com eles, participaria ativamente dos diálogos verborrágicos , zombaria de deus, clamaria por deus, cuspiria nos pés dos ateus que ali se encontrassem, carimbaria seus passaportes para o inferno, daria minhas gargalhadas reprimidas na face dos cristãos hipócritas, esfregaria em suas faces a verdade da impureza universal, faria deles motivo das mais cômicas chacotas.
Depois correria até o altar acenderia duas velas, uma para deus e outra para nietzche e voltaria em meios aos mortais, tão pura quanto antes.
Mas a situação ainda não pede medidas drásticas, apesar de a noite estar quente demais, da mediocridade estar presente, do tédio não dar trégua, do fracasso bater a porta, e da solidão estar aqui sentada ao lado com eu sorriso cínico e com aquele ar de superioridade que só é permissível aos vencedores, vendo as letras aparecer na tela vagarosamente devido à presença da delicada preguiça que se encontra deitada na cama ao lado.
Céus, eu deveria rezar, se restasse fé, ou então eu poderia agir em uma espécie de reflexo condicionado místico e ao menos acender uma vela, mesmo sem fé nenhuma. Ou então eu poderia acender apenas um cigarro, ficar nas drogas licitas, colocar uma musica qualquer cheia de melancolia, e bancar o artista americano em mais uma cena deplorável que algum crítico bem pago e mal intencionado chamaria de arte; mas só um completo idiota ou alguém totalmente perdido sentiria qualquer espécie de animação em tal atitude, e acho que ainda não me transformei em uma completa idiota.
Mas também não poderia ficar esperando o ‘deus acaso’ virar as paginas do seu roteiro chatíssimo e me mostrar a nova cena onde eu provavelmente ainda estaria chafurdada no pântano da depressão.
Vamos à vida, menina, mas sem exageros, doses homeopáticas de decadência diária mantêm o homem vivo.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Admirei aqueles olhos que me observavam da mesma maneira como os críticos ficam boquiabertos diante de Michelangelo .O mesmo prazer que uma leitura de Schopenhauer me proporciona, seguido da mesma sutil ira que suas demonstrações de machismo me provocam. O olhar era de uma vulgaridade semelhante aos romances do velho Bukowski, o rubor fácial que me aparece a cada linha, agora se dava a cada passo que me aproximava dele. O sorriso, diferente dos olhos, exprimia um romantismo tão enojante quanto as dramaturgias de Shakespeare. Não era belo, e já pecava por se mostrar tão sorridente, mas aquele rosto possuía uma simetria perfeita. Naquele momento eu era o foco, notava-se o esforço que ele fazia para demonstrar que nada seria capaz de movê-lo em qualquer outra direção, o mundo naquele segundo se resumia a mim. Cheguei imaginá-lo ao meu lado, poderíamos passar horas vagando sem sermos percebidos, apesar da efusividade do sorriso, ele possuía uma aparência discreta, só era visto por quem ele mesmo desejava.
Por um segundo,e numa piscadela pude experimentar uma eternidade de conforto.
Certas almas são tão espantosamente ligadas por um estranho magnetismo que o normal da natureza seria mantê-las fisicamente distantes, mas eis que inexplicavelmente ele aparecera em minha frente.
E eu não consegui fazer nada mais do que abaixar os olhos - e passar o resto da noite tentando descobrir o que ele teria visto em mim.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

"Deus Todo-Poderoso, lamento ser agora um ateu, mas o Senhor leu Nietzsche? Ah, que livro! "
John Fante

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Não foi culpa do inverno, que chegou mais cedo do que o previsto, nem do tédio habitual que se vincula com a insônia para atormentar os dias e transformar as noites em momentos caóticos, o fato de todos os dias estarem impregnados com o cheiro de terça feira, de a redoma ter se partido em pedaços suficientes para impossibilitar a reconstrução, também foi mero detalhe.


A culpa foi do ceticismo que tirou férias.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

A menos de uma semana um amigo veio me perguntar se eu conhecia o livro ‘A insustentável leveza do ser’, e isso me fez lembrar o quanto eu chorei no capitulo da morte de Karenin. Na mesma época em que li o livro, Charles, o cão mais dócil que já tive, e olha que não foram poucos, acabara de falecer, não pude conter as lagrimas, foi como se Kundera narrasse o meu próprio drama. Mas até aí tudo bem, cheguei até a sentir um conforto ao lembrar que Sofia, o mais novo animal de estimação da casa, estava esbanjando saúde. E eis que o acaso me prega mais essa peça, Sofia adoeceu, há três dias recusa alimentar-se, e tem os olhos mais tristes que já vi.

(...)

É um amor desinteressado: Tereza não pretende nada de Karenin. Nem mesmo amor ela exige. Nunca precisou fazer perguntas que atormentam os casais humanos: será que ele me ama? será que gosta mais de mim do que eu dele? terá gostado de alguém mais do que de mim?

(...)


Mas sobretudo: nenhum ser humano pode oferecer a outro o idílio. Só o animal pode, porque não foi banido do Paraíso. O amor entre o homem e um cão é idílico. É um amor sem conflitos, sem cenas dramáticas, sem evolução.
"

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

As pessoas costumam ter suas atitudes agrupadas em duas categorias quando se trata da dor alheia. Temos aqueles que se assemelham a ‘livros de auto-ajuda ambulantes’, na primeira oportunidade que surge abrem seus sorrisos patéticos e miseravelmente felizes, com uma incurável visão seletiva dos fatos, e em questão de segundos deixamos de avistar a face do ser em questão, e nos deparamos com um Augusto Cury frustrado que na impossibilidade de escrever um livro cheio de atrocidades do tipo: ‘dez dicas para se feliz’, ‘você é insubstituível’, usa sua diarréia verbal para importunar um pobre ser possuidor de problemas corriqueiros e questões existenciais eternas, fazendo com que aquilo que não passava do resultado da condição humana imersa em acontecimentos decepcionantes, se torne motivo para o mais torturante suicídio, ou um violento homicídio, não mais pelo problema em si ou pela dor, mas sim pela ira que tal projeto mal desenvolvido de ser humano pensante nos causa.
Temos também aqueles que quando cruzam o caminho dos que admiram a categoria acima, são chamados com freqüência de chatos e incompreensíveis, eles se limitam a ouvir, só opinam quando existe alguma objetividade no que vão dizer, não tomam postura em relação ao problema alheio, nada de bancar o jesus cristo detentor da salvação, ou personificar o caminho a verdade e a vida, o máximo que fazem é ficar por perto, ou dispor de um abraço para derreter as camadas de orgulho, de raiva e de impaciência, tocando o coração do outro com a peculiaridade das coisas feitas para suavizar a crueza do mundo. Mas poucas vezes são compreendidos, principalmente quando se deparam com aqueles que limitaram a função dos sentidos apenas a ouvir e falar, e não entendem a sutileza e a complexidade dos sinais e do conforto dado pelos outros mesmo por um silencio ensurdecedor.

domingo, 27 de janeiro de 2008

Ela temia que a realidade continuasse sendo seus anseios ao avesso, se assustava com a possibilidade das palavras serem eternamente proferidas como ruído obrigatório, queria ouvir apenas aquilo que não fosse mera transgressão do silêncio, ansiava enfim encontrar aqueles que não se preocupavam em calar, e que diziam apenas o indispensável, queria as palavras sentidas, os diálogos secretos entre as mãos, a comunicação discreta entre os perfumes, ela só podia sentir o coração dos que não se escondiam atrás das palavras, queria um amor calmo, que desse tempo para que todos os sentidos usufruíssem do mesmo, e com a mesma intensidade. (cansou de confundir taquicardia com amor).

- O que está tirando seu sono?

- Tenho um homem atravessado nas minhas pálpebras.

- E por que não pede para ele ir embora?

- Outro me atravessa a garganta.



Existir.

[d]Existir.

[r]Existir.



[im]Pulsiv
a.

[re]Pulsiv
a.

[com]Pulsiv
a.

sábado, 26 de janeiro de 2008

Ela e ele no mesmo sofá. Um em cada extremidade, como se reconhecessem o lugar que a enorme barreira de distância deveria ocupar bem no meio deles. Ela pouco dirige a palavra a ele e a recíproca é verdadeira. Nem parece que antes se apertavam contra o corpo do outro, como se quisessem ocupar o mesmo pequeno espaço na cama, como se quisessem misturar o calor e ter a certeza que as essências estavam entrelaçadas até durante o sono. Notaram-se como estranhos, ela não poderia acreditar que ele estava lendo aqueles livros, e ele se sentiu envergonhado por ter dividido a mesma cama com uma mulher que agora tinha que pagar para alguém lhe dizer o que fazer. Sim, mas agora se tornaram desconhecidos, é fato. Tão distantes... Ela não suportou, mudou de sofá e tratou de procurar outras coisas pra se entreter, escondendo as mãos suadas. Incrivelmente portando-se com uma naturalidade mais cínica impossível. E provavelmente muito bem notada por ele, que ainda devia conhecer muito de seus artifícios e reações nervosas. Depois de um tempo, ele se levantou para ir embora e ela resolveu lhe lançar um olhar consideravelmente firme, na porta do apartamento enquanto o elevador não chegava, expressando um misto esquisito de sentimentos como se quisesse dizer "viu como eu estou bem sem você?" e "a saudade agora apertou como um sapato de número menor no calcanhar".

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Deixe que essa noite eu cuido de você, puxe as cobertas que a noite está fria, deixe essa tristeza e chegue perto de mim. Deixa eu te embalar no sono, tirar seus medos, to aqui do seu lado, vem dormir, encosta sua cabeça em meus ombros, deixe-se dormir.
A noite vem, e vem escura, o vento já bate forte balançando as janelas, mas durma tranqüilo, estou aqui do seu lado.
Tirei a noite pra cuidar de ti, velarei teu sono, e se do teu sonho fizer parte, que seja dos mais belos passeios no parque de mãos dadas, ao raiar do sol, bem de manhãzinha, sentindo ainda o cheiro do orvalho por sobre as plantas.
Deixa-me ficar aqui, só te olhando, não farei barulho, prometo não te acordar, apenas ficar aqui te admirando.
Isso, assim mesmo, durma bem, enquanto fico aqui do seu lado, sem nada dizer, apenas imaginando o que poderia viver ao seu lado.
Dorme tranqüilo, estou aqui, te afagando com os olhos.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Por alguns segundos ela chegou a pensar que aquilo fosse excesso sensibilidade e escassez de compreensão, julgou-se injusta, pensou nunca poder se perdoar, de fato ela realmente havia sido dura demais com as palavras, mas foi a única saída que ela encontrou para tapear o seu ego, afinal, ele estava a deixando, ela se sentia no direito de vencer ao menos esse ultimo jogo de palavras, apesar de saber que diferente das outras circunstancias, o vencedor não poderia olhar para seu oponente com um olhar cheio de afeto e apertá-lo em seus braços, agora era definitivo, teriam que traçar caminhos opostos, mesmo sabendo que poderiam usar o mesmo percurso para sempre, compartilhavam das mesmas preferências em tudo, era justamente essa afinidade absurda que havia os unido. Mas ele decidiu partir. Ela compreendia o fim, sempre soube que os sentimentos eram findos, efêmeros, transitório, nunca esperou que ele lhe fizesse juras eternas, e nunca cometeu a atrocidade de fazer o mesmo, julgava-se racional demais, tanto que cometeu o erro de aplicar isso aos seus sentimentos a ponto de tornar-se fria, pensava que isso daria aos seus relacionamentos alicerces seguros, tudo parecia estável e dentro dos seus planos, fazia do amor um negocio, regras, investimentos, lucros, juros, tudo era pré-estabelecido com antecedência, o caminho até seu coração era mapeado, placas explicativas poupava todo o trabalho daqueles que ela permitia transcorrer por ele. Mas ainda assim, algo havia fugido do seu controle, ele avisara que partiria essa noite, mas como ela mesma disse aos gritos diversas vezes, o problema não era ele estar indo embora, nem ao menos o vazio que ela teria que enfrentar, ou o martírio que o medo da solidão lhe traria, ela só queria um motivo. As últimas palavras daquele homem que ela tanto amava foram responsáveis por uma angustia que ela levaria mais do que alguns dias, alguns livros, alguns filmes e vinhos para esquecer. O ópio habitual não seria suficiente. Ela esperava que os finais seguissem sempre o mesmo roteiro : duas ou três frases frias ou sarcásticas, reclamações explicativas em forma de pretexto, e o adeus. Mas ele não permitiu que ela ditasse as regras até o fim, segurou-a contra a parede, calou-a com seu ultimo beijo, deslizou seus dedos pelos cabelos dela delicadamente pela ultima vez, passou suas mãos pelo rosto dela, que nesse momento já estava umedecido por duas ou três lágrimas, e por alguns instantes se reportou ao primeiro encontro que tiveram, e notou que a pele ainda possuía a mesma suavidade, observou-a ... notou que estava mais bela do que nunca. Ela só lhe pediu um motivo, não que esperasse que ele não fosse, esse era um dos tantos motivos que fazia ela o amar tanto, ele não tomava decisões irrefletidas. E sem nenhuma crueldade ou ironias, ele listou as qualidades dela de forma impecável, suas palavras exprimiam a mesma doçura de sempre, dizia não haver motivos, simplesmente sentiu que aquele era o momento de partir. Por que ele estava partindo? Era tudo o que se podia escutar entre o choro e os soluços ... Ele havia profanado o ritual de partida.

domingo, 20 de janeiro de 2008

O ambiente estava favorável para que ela se sentisse segura, a música adentrava seus ouvidos meigamente de forma quase imperceptível, o som havia sido minuciosamente preparado para confortá-la de deixá-la leve, o espaço fora escolhido de maneira que a manteria estrategicamente afastada de qualquer interrupção brusca, ele já sabia o quão frágil e vulnerável a sustos ela havia se tornado, nada indesejado ocuparia seu campo visual – como ela mesma costumava dizer – ela não escondeu seu riso ao perceber que aquelas cores só se faziam presentes porque a deixaria feliz, no fundo ela sabia que ele se sentiria muito mais seguro se as rosas fossem vermelhas – ele não compreendia como ela podia preferir as brancas. Na sua busca por informações, descobriu o quanto ela gostava de espelhos, e lá estavam eles por todos os lados, ela dizia que não era narcisismo, mas fazia o ambiente se tornar familiar, caso se sentisse angustiada poderia avistar sua própria imagem – ela sempre ria de si e analisava suas expressões faciais depois que algo inesperado que lhe causava emoções incontroláveis ao seu tão precioso bom senso acontecia . Em cada passo que ela dava percebia como ele havia assimilado bem suas palavras – e como suas mãos lhe foram gratas quando sentiram a maciez das inúmeras almofadas que ele colocara no sofá ,organizadas por cores e tamanho – ela sempre temia em pensar o que fazer com as mãos, tinha medo de que elas falassem algo inadequado, algumas leituras a respeito de linguagem corporal a deixou ainda mais cheia de paranóias. Ele deixou que ela decidisse a distancia entre eles, não conseguia compreender porque estava agindo daquela forma, depois de sentir o calor de tantos corpos e tê-los sob seu controle, tudo o que ele desejava agora é que ela escolhesse estar entre seus braços. Ela, com sua insegurança, bem provável que proveniente de sua imaturidade, se manteve um pouco distante, teve medo que ele percebesse que sua respiração ainda estava ofegante, ele por sua vez não deixou de notar, apesar de ter cogitado a possibilidade de ser efeito da subida das escadas, tinha medo da responsabilidade que sentiria se admitisse o quanto a desconcertava. A doçura com que ele a olhava a deixou incompreensivelmente segura, tomou para si as mãos dele, ele sorriu ao perceber o quanto um simples gesto havia exigido dela. Ficaram sem pronunciar uma palavra, nem um dos dois teve a audácia de correr o risco de estragar tudo com palavras, tudo era novo demais para ser dito.

Mantiveram as mãos e os olhos unidos, e apesar da incredulidade que compartilhavam, rezaram para que aquela noite fosse eterna. Ela não conseguiu resistir, os sentimentos estavam transbordando de tal forma que seria injusto demais não usar todas as maneiras que detinha para expressá-lo. Docemente pediu:

- Permite que eu viva nesses olhos?

sábado, 19 de janeiro de 2008

Talvez o pecado dela tenha sido perder o interesse...
Ela que sempre havia sido tão aplicada na arte de conhecer e deliciar-se com as descobertas que o mundo lhe proporcionava, em um súbito instante, descobre que nada poderia ser mais aconchegante e lhe dedicar mais afeto, do que os seus travesseiros e seus lençóis sem estampa, dentro de si havia um conforto seguro, um amor sem duvida, que não necessitava que constantes conquistas, ela não teria mais que se confundir com cheiros e gostos, poderia se tornar neutra assim como as cores - tão criticadas - que ela sempre preferiu, mas abdicou em prol de outras sensações (e como ela se sentia livre e limpa na presença delas), foi como se essas cores tão sem graça e sem emoção – assim como ela – criassem vida, e lhe desse um abraço forte jurando que sempre a protegeria.
...o único esforço que ela teria que fazer era continuar sendo...

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Foram tantas interrogações, exclamações e reticências...
...cansei
de fazer amor com as palavras.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Estou exausta de construir e demolir fantasias. Não quero me encantar com ninguém.


eles estavam certos...

...excesso de glicose não preenche determinados vazios.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Pensas mesmo que torna tua existência poética pelo simples fato de articular bem as palavras ? ... no fim só resta o tédio ou o caos, meu bem, toda essa beleza é descartável ...
Existir é mera vulgaridade.
Não, meu bem, não adianta bancar o distante
lá vem o amor nos dilacerar de novo...

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

"Produz-se então uma antítese terrível entre a profusão tropical da vida exterior e a negra esterelidade do túmulo. Nossos olhos vêem o verão, nosso pensamento visita o túmulo; a gloriosa claridade está ao nosso redor e em nós estão as trevas. E essas duas imagens, entrando em colisão, emprestam-se reciprocamente uma força exagerada"

Baudelaire, Paraísos artificiais.
Será que esses projetos mal desenvolvidos de "super homem" não notam a vulgaridade que é a existência, ou estariam tão ocupados com feitos e conquistas efêmeras para não se dar conta ?