sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Sim, eu era alguém pertencente à classe de mulheres que não possuem medo de baratas. Certamente eu também arrumaria pontos de confusão nisso, algumas pessoas foram colocadas no mundo para não permanecerem por muito tempo com convicções, e de fato eu era uma delas, encontro-me agradavelmente distante de qualquer compromisso com a ciência-religião-coerencia e todas as suas derivações. Eu havia decido nutrir o apego a essa ausência de medo, e comecei, mentalmente, catalogar mulheres com a mesma característica. Obviamente, a primeira que me viria em mente é a Tia Rita (Lee), tudo que emana dela anuncia a ausência desse medo, penso nisso e imagino aquela imagem jovial que ela possuía (e ainda possui) quando era membro ativa dos Mutantes, aquele ar de rock engraçadinho de quem está com a bunda virada para toda e qualquer questão – social - existencial - moral – filosófica – religiosa – psicanalítica - literária e essa banalidade toda.
Mas eu havia cansado dela, ela foi deveras resistente, ultrapassou a expectativa de vida para continuar entre os mestres, depois de certa idade perde-se aquela aura de “dane-se”, tudo demonstra inegavelmente passagem por terapias, tratamentos prolongados, especialistas de diversas áreas e tantas outras técnicas de manutenção e prolongamento da vida.
Chega dar medo de um dia vê-la com os cabelos castanhos, toda vestida de branco, desprovida de seus óculos debochados, com um crucifixo no pescoço fazendo o especial de Natal da Globo no lugar do Rei, cantando aos berros “Jesus Cristo eu estou aqui” , sendo contemplada pelo marido que a aguarda com os olhinhos brilhantes, marido este que ela conheceu quando estava produzindo seu primeiro de uma série de curtas onde expunha todo o seu drama de como se livrou dos vícios ao encontrar Jesus.
Céus! Isso foi até nauseante, completamente infundado, mas não menos medonho por isso.

Nenhum comentário: