segunda-feira, 1 de junho de 2009


O descontentamento sempre aparenta a mais clara limpidez, desprovido de recursos enganadores, amanhece o dia com promessas de verdades absolutas, não causa estranhamentos e nem proporciona subsídios para o auto-engano, não promove a inveja, não desperta a luxúria, traz consigo certa santidade, uma estado de permanência, sem grandes oscilações, não surpreende com nada inesperado, como se fosse um fim inevitável no qual chegariam todos, um porto, parada obrigatória, todos estariam predestinados há conhecê-lo, em todas as direções e independente do percurso, lá estaria ele representado pela vossa santidade: A Infelicidade! Pronta para agarrar com seus braços frios, e assoprar nas faces seu hálito petrificante. E de tão coerente que se faz, tão condizente com todos os tipos de evidencias, tão longe de qualquer equivoco, provoca entregas irrelutantes.
A felicidade assemelha-se a uma meretriz, uma farsante, seus atributos parecem provir de artifícios superficiais, não suportando analises aprofundadas, uma embriagues que certamente se cura ao amanhecer, trazendo a ressaca moral revestida do mais desesperado arrependimento.
Uma elevação onde a queda faz-se inevitável; como se a insatisfação, ou qualquer outro estado tão lamentável quanto, provido dos mesmos requintes de crueldade, proporcionasse uma certeza de se estar com os pés firmados no chão, na mais profunda lucidez e com os pensamentos regidos pela mais sensata racionalidade.
A felicidade soa como uma espécie de traição; a presença dos rompantes de contentamento transmite a impressão de erro, falha no senso de responsabilidade, anunciação de um mal maior que os anteriores, um inquestionável equivoco, sensação de se estar caminhando com um sapato números menores que o necessário para o tamanho dos pés, uma ousadia irresponsável e sempre inoportuna.
A infelicidade consegue ser algo tão predominante ao ponto da felicidade aludir certo desvio no percurso existencial.

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