sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

[Ver-se sendo transposto
Rir-se de se ter em letras
Aquilo que foge da carne
Ser não cabe em métricas]
[Em minha falta de inspiração
está a saudade que sinto
de estar em contato
com sua respiração]

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Esperanças de um vão contentamento - Marquesa de Alorna

Esperanças de um vão contentamento,

por meu mal tantos anos conservadas,
é tempo de perder-vos, já que ousadas
abusastes de um longo sofrimento.

Fugi; cá ficará meu pensamento

meditando nas horas malogradas,
e das tristes, presentes e passadas,
farei para as futuras argumento.

Já não me iludirá um doce engano,

que trocarei ligeiras fantasias
em pesadas razões do desengano.

E tu, sacra Virtude, que anuncias,

a quem te logra, o gosto soberano,
vem dominar o resto dos meus dias.

George Dunlop Leslie (1835-1921)

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Ao meu, e ao meu eu, ausentes...

            Em mãos estava presente um dos exemplares preciosos do velho Buk, o que possivelmente mais lhe apeteceria, assim como aconteceu comigo, cuja posse provocou um gozo imenso, um elemento profundo na satisfação do meu ego. Os ouvidos ensurdeciam-se com os gritos de Janis, gritos que certamente eu também daria, não fosse a mansidão da noite, e a necessidade de que estes ficassem de alimento apenas aos ouvidos:
     
"Maybe, maybe, maybe, maybe, maybe, dear,
I guess I might have done something wrong,
Honey, I'd be glad to admit it
Ooh, come on home to me!
Honey, maybe, maybe, maybe, maybe... yeah"
             A noite havia caído lentamente, e assim como o prórpio clichê do cair da noite, outros infindáveis clichês também se faziam pertinentes a serem ressaltados. E como acontece costumeiramente nos finais de ano, e em todos os dias antecedem as supostas datas dignas de nota e contemplação, eleitas para nos sentirmos especiais e tratarmos o outro como tal, exercendo legitimamente nossa hipocrisia em seu nível mais elevado, pairava no ar toda uma aura de amabilidade injustificada composta de palavras gentis, cortezia sem fundamentos, e afabilidade despropositada.
            Fazia um frio aconchegante, depois de cumprido o ritual de superação de mais um dia desesperadamente quente, após um inverno rigoroso que se estendeu além da minha compreensão por toda a primavera, aqui estava eu usufruindo de uma noite fresca em um autêntico dia de verão.
             Chovia, e aquilo tudo não poderia parecer melhor em sua superficialidade.
             O caos encontrava-se perfeitamente camuflado por entre aqueles elementos fajutos de paz e ordem, por pouco não se chegaria acreditar que a vida ainda tinha jeito, que a humanidade estava salva, e que desse momento em diante  tudo passaria a fazer algum sentido, ou então, em uma hipótese ainda mais tentadora, a palavra sentido em sua conotação existencial perderia toda a sua razão de ser.
              Como era de se esperar de um pequeno encontro em família, no transcorrer desse dia que se finda, haviamos executado com maestria uma verdadeira análise conjunta de tudo aquilo que haviamos feito, desfeito e refeito, e mais ainda, de tudo aquilo que todos aqueles que estavam ao nosso redor unidos pelos laços consanguíneos, outros unidos por esse, mas separados pelas peripécias do acaso da vida haviam feito daquilo que as interpéries haviam lhes proporcionado.
             Erros, acertos, pequenas tragédias pessoais, e grandes adequações às mais diversas e inimagináveis circunstâncias que levou cada um desses personagens a formação do seu EU. Cada um parecia estar indiscutivelmente onde lhe cabia, evidentemente com lamentáveis variações no que tange a satisfação pessoal, ou então quando visto pelo viés da sorte, mas visto pela ótica das circuntâncias, cada um estava vestindo o número adequado às suas formas.
            Mas com a dificuldade que se compreende a matemática do universo e sem a mesma objetividade, tentava eu descobrir, com simples material especulativo que baseava-se apenas em informações aleatórias, relatos e reles observações, em que momento cada um havia se tornado aquilo que era, ou se sempre haviam sido um protótipo daquilo que haveriam de ser.
             A vida alheia parecia ser a prova cabal da falta de brilhantismo da existência  humana, uma série qualquer de especificidades desinteressantes desvelava um ser supostamente completo provido de id, ego e super ego. Parecia que todo ser estava determinado por um fato que seria capaz de definir o que seria pelo resto de sua vida.
             Um relacionamento frustrado, uma profissão não escolhida , uma tentativa fracassada, um tiro escuro que não atingira nada além dos próprios pés, uma bela cusparada para cima aterrizada com requintes de precisão na própria testa, um discurso proferido erroneamente, ou mal interpretado, e outra diversidade infinda de acasos, definidos em momentos infímos que faria com que cada um se tornasse aquilo que irremediavelmente É.
               E em todo esse contexto, nessa perplexidade desprovida de qualquer peso, nesse desenrolar de palavras que ainda não sabe se fará uma epifânia, ou não passará de um amontoado de palavras sem nexo, eu buscava respostas sensatas para adormecer indagações eternas, nos entremeios de tudo aquilo que aparentemente seria alheio, mas que despertavam perguntas que até então estavam amordaçadas ou em estado de pré-prepado para vir a tona no momento propício.
              Afinal, alguma das minhas escolhas já haviam sido tão definitivas a ponto de ter me proporcionado alguma caracteristíca irremediável daquilo que sou?
             Estaria eu entre os seres suficientemente firmados em si para revolucionar tais escolhas e tornar-se outro?
Assustam as coisas que adentram o âmbito do irremediável, e apavoram os elementos que compõem o irrevesível.
            Aquilo que para maioria apresenta os trejeitos de segurança na verdade não passa de um elevado grau de inércia associado a uma grande dose de covardia.

             E o livro do Buk continua em minhas mãos amparando as folhas em que escrevo, mas não irei abri-lo, eu só precisava que ele estivesse aqui para poder lhe materializar como meu interlocutor, já que não mais atende os meus chamados.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

"Com a mesma falta de vergonha na cara
eu procurava alento no seu último vestígio,
no território, da sua presença
Impregnando tudo tudo que
Eu não posso, nem quero, deixar que me abandone
 (...)
São novamente quatro horas, eu ouço lixo no futuro
No presente que tritura, as sirênes que se atrasam
Pra salvar atropelados que morreram, que fugiam 
Que nasciam, que perderam,  que viveram tão depressa,
Tão depressa, tão depressadepressa demais
A vida é doce, depressa demais.
(...)
E de repente o telefone toca e é você
Do outro lado me ligando, devolvendo minha insônia
Minhas bobagens, pra me lembrar que eu fui
 a coisa mais brega que pousou na tua sopa. 
Me perdoa daquela expressãopré-fabricada de tédio,
 tão canastrona  
que nunca funcionou nem funciona"
(...)

terça-feira, 29 de novembro de 2011

domingo, 27 de novembro de 2011

"E gira em volta de mim, sussurra que apaga os caminhos, que amores terminam no escuro, sozinhos...."

No radio: Nana Caymmi
com sua Resposta do Tempo
traduzia aquilo que os anônimos sentiam
Lá fora: o tempo de uma tarde de novembro
seguia seu padrão esquizofrênico
Nublado, como tudo que jaz aqui dentro
E no peito: Também nublado
E essa coisa que bate,
que a priori, chama-se coração
Entoava uma piegas e antiga canção
Para anunciar o folego de vida
Que nos faz seguir continuamente
apesar dos inúmeros chegares
e das incontáveis partidas


sábado, 26 de novembro de 2011

De quando o maluco [não] sou eu...

Mas o que, diabos, haveria de sobrar
Ao negligenciamos nossas vontades
E desrespeitarmos nossa individualidade?
Se reclamo é porque penso
E se nego é apenas porque reflito!

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Haikai em prece..

Para quando não controlo aquilo que falo:
Freud, protegei-me do inconsciente
E livrai-me do Ato Falho!
  



Amém

terça-feira, 22 de novembro de 2011

De quando impera a acidez

E isso que chamamos de vida, 
por vezes se vê limitada, reduzida
 à mera reprodução 
de tudo que temos visto sendo [des]feito 

desde tempos imemoráveis
 em que nos reconhecemos 
e temos [in]consciência
 de nossa existência.

E não se ultrapassa
 um centímetro 
do plano pré-determinado
 que nos foi traçado

E ainda há, absurdamente
 quem ouse inconsequentemente
 aclamar alguma autenticidade

FRANCAMENTE

Espécie que pelo primor ao condicionamento 
se perpetua indefinidamente
seres pouco imaginativos e dementes

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Haikai daquilo que se vai... (e de tudo que permanece)

Aquela velha angústia de sempre
Ainda me persegue, insistente
...Mas, não mais me consome

domingo, 20 de novembro de 2011

De quando a realidade ameaça

Há quem se reconheça apenas pelos sentidos rasos
Eu me contento somente com o incompreensível e raro
E se meus pulmões não são fáceis,
 Assim como na alusão Shakesperiana
É por mostrar os dentes apenas 
Para o que emana da peculiaridade
E transcenda a alma humana

Há quem perpetue o desconhecer-se 
Por meio de série de artifícios
Eu quero o nobre sentimento obscuro
De ver-me despida de todos os recursos
E se a realidade for suficientemente torpe
Pertinente para que algo interrompa o meu curso
Encerro o meu caminho, antes que sufoque
E mergulho no mais profundo desconhecido

Do interminável percurso de não-ser

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

De quando impera a acidez

Aos que alardeiam o bom gosto
Fundamentados em suas doutrinas
a receita prática atesta
a necessidade ensina
em momentos excepcionais
ou aplicado aos percalços da rotina
tudo é possível que resolvamos 
com um palito de fósforo
e um pouco de gasolina 

Helmut Newton

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Da noite de Curitiba

- Moça, me arruma um cigarro?
[E o vício se faz campo para demonstrativo de virtude]
- Claro!
[E num sorriso largo, um ser que nunca vê olhos ternos voltados para si, tem os seus cheios de lágrimas ao dizer:]
- Carlton! era o que eu fumava quando era gente...

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Das injúrias cotidianas...

Eu, sujeito meramente observador das relações que me cercam, em nome da minha sanidade e da não segregação oriunda de minha natural contrariedade.
No meu exercício incansável de auto chateação me pergunto incessantemente: O que, diabos, faz com que as pessoas ordenem vossas palavras da maneira mais nonsense possível, dando a tudo aquele teor moralista que unidade de medida nenhuma poderia mensurar?

terça-feira, 25 de outubro de 2011

"A uma hora dessas, por onde andará seu pensamento, terá os pés na pedra ou vento no cabelo?"

Em todos os semblantes
que despersonalizados
por mim cruzam

Em todas as esquinas
insignificantes
e mórbidas
que atravesso

Em todos os bares
pelos quais passo,
repasso e transpasso,
na tragetória diária

***

Em decorrência do inconsciênte
em apelo da memória recente
em função da minha miopia...

Incansavelmente
sua imagem
me persegue

Todos os dias

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Me recuso aos trâmites que permeiam beleza anunciada:

Quero antes
a graça do obscuro
o limiar que separa
aquilo tudo
deste nada

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Clarice Lispector, in Felicidade Clandestina

"Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. 
É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria - e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele. É também porque eu me ofendo à toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa."

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

                                                                 [Palavras aleatórias invadem bruscamente meus ouvidos
Pessoas aleatórias me sufocam com suas presenças injustificadas
E enquanto a chuva lá fora esforça-se por purificar todo esse circo
                      Eu busco a fórmula para resgatar o substancial]

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

essa vida que me pede urgência

essa mesma que me prende
e indiscriminadamente me sufoca
contraria os meus anseios 
e acentua os meus receios
dessas inverdades de outrora
que ressurge com poucos retoques


quinta-feira, 6 de outubro de 2011

PEITO VAZIO - Cartola


Nada consigo fazer
Quando a saudade aperta
Foge-me a inspiração
Sinto a alma deserta
Um vazio se faz em meu peito
E de fato eu sinto em meu peito um vazio

Me faltando as tuas carícias
As noites são longas
E eu sinto mais frio
Procuro afogar no álcool a tua lembrança
Mas noto que é ridícula a minha vingança
Vou seguir os conselhos de amigos
E garanto que não beberei nunca mais
E com o tempo esta imensa saudade
Que sinto se esvai.

terça-feira, 4 de outubro de 2011


"Cansa-me ser assim quem sou agora:
Planície, morte, treva, transparência.
Cansa-me o amor porque é centelha.
E exige posse e pranto, sal e adeus."



[Hilda Hilst -Obra poética Reunida, Do livro Ode Fragmentária (1961),Heróica, pág 339 ]

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

"A vida está cheia de segundas-feiras"

[Anoitece em mais um dia em que não haverá nada para futuramente despertar o meu espírito de saudosa nostalgia. E a vida acontece nos entremeios desses dias de corriqueirices, que por sua facilidade de fluência, imperam em sua maioria. E tudo não passa de um amontoado de acontecimentos cotidianos insossos e medíocres, uma interrupção inconveniente das minhas ilustres noites de sono]

George Holz

sábado, 24 de setembro de 2011

E todo mundo é ninguém

Além das estatísticas
faz-se incontável
a quantidade de seres
incompreensivelmente a vagar

Corpos inanimados que transitam
uma infinidade de matéria orgânica
imersos em suas redomas
levando vossos egos pelas ruas

Suas particularidades dissolvidas
por aquilo que os fazem iguais
egos que se cruzam e não se notam
egos que atravessam as esquinas

Em total desimportância
todos irrelevantes
por conta daquilo que os fazem iguais
Ninguéns que se trombam

E todo mundo é ninguém

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

"Só quando se passa alguns meses sem ler os jornais e depois se leem todos em conjunto é que nos damos conta do tempo que perdemos com essa papelada. O mundo andou sempre dividido em partidos - hoje mais que nunca - e o jornalista, sempre que se prolonga uma situação indefinida, trata de seduzir este ou aquele partido, alimenta dia após dia a sua inclinação ou a sua repulsa por cada uma das facções, até que chega finalmente o momento em que os factos se decidem. E o acontecimento passa então a ser admirado como se fosse coisa divina."

Goethe





Não,
                                                          eu não sei das notícias populares

E não,
definitivamente,
isso não me afeta

E pouco me importa as variáveis
que de tais acarretam

Nada me dói o desprezo de seus olhares
perante a minha postura 
frente ao que nada posso

Se me julgam alienada
internalizo o personagem
e chafurdo no meu nada 

Se a postura correta é fazer-se de interessada
e emanar ares de indignada
faço pouco de vossa hipocrisia
e abstraio de vossa postura vazia 

Me alieno:
na música
na literatura
na arte
na poesia

E se não sei dos acontecimentos e mortes
anunciadas nos telejornais da noite passada
Durmo tranquila em meu conforto
"emburrecida" e alienada

sábado, 17 de setembro de 2011

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

"Nada me prende a nada. Quero cinquenta coisas ao mesmo tempo." — Álvaro de Campos

As situações são facilmente classificadas
até que fazem-se presente
em meio ao nosso enredo

E o que antes atestava-se sem titubear torpeza
hoje não se repreende, 
e nem se cogita denominar fraqueza

E o tempo comprova 
quão perecível são os conceitos
quão relativas são as verdades

...e quão necessária a maleabilidade

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

domingo, 11 de setembro de 2011

perco-me em meio aos papéis
que desempenho em minha trama
transito nos entremeios
dessa tragédia posta
dessa verdade insossa
que subsidia o meu drama

quero ser absorvida por esse cinza
para quem sabe sentir-se absolvida
de todos os elementos propulsores
dessa infinita angústia
desse abismo em que me encontro
cavado com minhas próprias mãos

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Dirás em tom grosseiro
Ironias impensadas
Dignas seriam suas palavras
Ao oposto do que eu verdadeiramente almejava proferir



Sinto-me farta de suas interpretações errôneas
Ofendo-me deveras a cada dia frio em sua ausência
É de um pesar insuportável notar que não me entendes
Tu, que podias ter sido o mais notável dos afetos
Dos que perduram pela posteridade, 
Deixando rastros que não se apagam d'alma
Fere-me insistentemente
Com certo prazer que minha sanidade não compreende
Priva-me da própria licença poética
E cobra-me pelo pobre senso estético
Alegando uma baixeza que nunca foi real
E esse enredo ridículo do qual participas
E que sempre participará
Serão as linhas inapagáveis do histórico de sua existência
Mesmo que negue, que fuja, ou que se ofenda
Com os rompantes verbais impensados
Típicos de uma mulher apaixonada
Que por si só,
Nunca será capaz de ausentar a mulher amada

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Sublime e Subliminar

O que se espera das tragédias súbitas da existência
são as resoluções instantâneas
Grosseiras e desprovidas do pesar 
que garante o fundamento da glória contemporânea
Resolutos e irrisórios são os nossos dramas
supervalorizado em nossa patética trama
Ostensiva e folhetinesca
que garantiria enredo para novela mexicana

Alain Senez





Mas tu
que tens a beleza certa 
dos que jamais serão tomados
pelas mãos da Senhora Maturidade
há de condenar-me
a uma eterna espera
 pela aparição que nunca acontecerá

E Eu, 
que envelheço n'alma,
com a velocidade intensa
semelhante a certeza dessa ausência
que contínua se perfaz 

Anoiteço todas as manhãs por saber-te longínquo

terça-feira, 30 de agosto de 2011

segunda-feira, 29 de agosto de 2011


Saiba que os poetas, como os cegos, podem ver na escuridão. - Chico Buarque


a noite segue quente
irreconhecível
minha alma segue morna
inexpressível

domingo, 28 de agosto de 2011


"E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas. Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada" Vinícius de Moraes

a semana que guardou alardeios 
no transcorrer dos seus inesperados entremeios
encerra-se muda
e a necessidade de grito
em meio a tudo o que se silencia
nessas inverdades profundas 
e nesses caminhos tortuosos 
trilhados com palavras sórdidas
e ironias mal faladas e obscuras
desfaz tamanha necessidade de contato
nessa ausência de doçura aguda

e ficam pétalas de rosas vermelhas
espalhadas por entre as páginas inconclusas

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

[eu sou esse vagar leve por entre as palavras
e nunca poderei ser nada de preciso
de conciso e de aprisionável
eu sou esse deslisar livre por entre os versos
e esse fugir brusco daquilo que me sufoca
esse paradoxo inquestionável
de irritar fácil contínuo e indelével
esse cansar de nada e de tudo
de nada esclarecer-se
e de tudo transtornar-se
eu sou essa sua incompreensão 
e essa escolha pelo pisar em espinhos
e por dilacerar as idealizações
e achar que tudo não passa de tolices 
e inverdades dispersas pelo caminho
eu sou esses olhos que me fitam
e essas mãos que me tocam
eu estou nesses olhos que me comem
e nesse corpo que me rejeita]

sexta-feira, 19 de agosto de 2011


sexta feira chuvosa
o ócio se faz presente
e o discernimento
como sempre
a poucos pertencente
a ignorância manifesta
meus nervos se retorcem
e a paciência se testa

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Que a delicadeza
que reside na pequenez
 das  minhas frágeis minúcias
Ainda me salve!





[o prazer de ver a folha ser preenchida
uma certa psicose mal desenvolvida
que se desenrola de forma deficiente
fora dos padrões de verdades eminentes]

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

marco que define objetivamente a extensão dos meus dias existindo

O dias passam, e algumas idéias não se dissipam 
como era de se esperar com o despertar da suposta maturidade
Ainda sinto o gosto agridoce da falta de compreensão que decorre:
essa insensata conjugação de nossa pequenez e de nossa singularidade

Os dias passam,
e muito do que foi, 
persiste e fica, 
entranhado, 
em todas as manifestações do ser

Elementos autênticos se camuflam em meio a artifícios, 
protegidos para virem à tona refletidamente

Os dias passam,
e o que se é, 
se aperfeiçoa, 
rumo ao nada, 

que é apenas o que inquestionavelmente resta

E fica aquela graça circunstancial 
de fazer-se no mundo,
ainda com as rédeas dessa ação, 

sem pensar que se irá de forma inevitável 
fundir-se a ele no findar do trajeto 
que abrange a todos indistintamente 
desconsiderando nossa singularidade 
e atestando a nossa pequenez

terça-feira, 9 de agosto de 2011






[Senti sua falta por esses dias, saudades de quando olhava em seus olhos e via uma profundidade que não poderia pertencer a qualquer outro, chegando a confundi-los com abismos imperscrutável, ou ao se cogitar a possibilidade de você ter se feito um corpo que sobre a terra paira inabitado.


Com o que foi que preencheu todo esse espaço que lhe separava dos outros?

Tens estado leve ultimamente, assustadoramente leve, arriscaria dizer que tens transmitido certa felicidade, e uma peculiar facilidade de ser, alguma coisa branda tem se misturado a sua aura caótica de outrora.
Estas irreconhecível em sua nova amabilidade,  e preocupante em tais manifestações de  afabilidade, tens me confundido deveras, tens estado doce, mas não posso atestar tais elementos, pois não lhe sei, e é certo que nunca lhe saberei.

 Quando virá o próximo rompante que lhe fará romper novamente os vínculos com sua humanidade?] 

terça-feira, 2 de agosto de 2011

[Angustiada frente ao que escapa as rédeas que estão sob o meu controle,
 tomo-me pela mão e trilho o meu caminho 
Com a exaustão que só a presença inevitável do outro que não se escolhe é capaz de causar
Camuflo a temeridade e o desgaste que me causam no riso manso e na verborragia


Tremo de pavor frente ao desconcertante estado de inaptidão ao coexistir pacificamente com as amenidade  


Respondo pelos rompantes que escapam ao controle do inconsciente e deixam em evidência o quão vago se fazem 


Por impulso controlo a minha repulsa 
por mero condicionamento ao não estado de surto 
e me preservo ao meu próprio desfrute


Não ei de transbordar


Em prol da causa nobre que é a sanidade








Enlouqueço no espaço pertinente do seu corpo
O desvairo se limita a sua boca
O grito destino aos seus ouvidos
 E a força ao toque em sua pele]

sexta-feira, 29 de julho de 2011

sexta-feira, 22 de julho de 2011

quinta-feira, 21 de julho de 2011

"Você me disse que eu sou petulante, né? Acho que eu sou sim, viu? (...)
Você me disse que eu destruo sempre a sua mais romântica ilusão
E que destruo sempre com minha palavra o que me incomodou
Acho que é sim"
Oswaldo Montenegro





[as unhas sempre por fazer era um dos traços que marcava o desleixo que se estendia para tudo aquilo que era objetivamente contemplável. Não era capaz de compreender o mecanismo cerebral daqueles que ocupavam-se das minúcias exteriores, mas ainda assim os apreciava, entretanto não assimilava a possibilidade de tal dispêndio de tempo e fôlego de vida.
Bom era estar ocupando-se da decoração da alma, da elevação do espírito, mesmo não acreditando em nenhum deles.

e acabara por descobrir que isso poderia sim ser apreciado!]

domingo, 17 de julho de 2011

Daquilo que não profiro

Eu tenho estado entre os que fazem silêncio,
não quero deixar transparecer ao mundo o desalinhado pensamento

quando tudo estiver novamente alcançado sua órbita
é possível que eu venha a vomitar por sobre os ouvidos afoitos aquilo que anseiam

Mas agora deixem que eu emudeça
tudo o que eu possa vir a dizer
poderá sofrer reformas num momento breve

E como palavras não aceitam remendos nem retorno
deixe que elas fiquem dentro
deixe que elas adormeçam enquanto não se fazem pertinente em cena

O teatro das palavras não aceita improvisos
e muito menos tolera que se concerte no espetáculo seguinte
o tempo é sempre no agora para o que se diz

....assim como para o que não se diz

há de escolher:
- entre proferir a palavra crua
- ou perder a disponibilidade dos ouvidos

Das palavras que profiro

O que posso lhe dizer
de tudo aquilo que impensadamente eu lhe digo:

- é que me saboto com as palavras...

e elas me ferem tão profundamente
quanto dilaceram as suas expectativas

a extrema acidez com que se mostra
é a mesma que passa por minha boca e deixa rastros.

E fico perplexa com a convengência sonora e prática entre acidez e lucidez

domingo, 10 de julho de 2011

Logo estará tudo no seu lugar... (oriundo de uma confusa tarde de domingo)

Uma gripe forte de tirar o sono
uma solidão de devolver a paz
uma barra grande de chocolate
e uma forma física que não se obterá jamais!

sábado, 9 de julho de 2011

Das pessoas e da solidão



Sentia que era como se as pessoas tivessem medo de encontrar-se consigo mesmas, e toda e qualquer possibilidade de se haver um momento solitário lhes proporcionasse um pânico fóbico de ter que se voltar para as antigas visões de si, ou então se deparar com as atuais formas que se toma frente ao espelho, objetiva e subjetivamente, e ter de ver fluir nos entremeios dos bloqueios que a mente não foi capaz de executar, as projeções que não se ousa expor, e que não se ousaria ser.







"Me mandei pra Curitiba E como eu gosto dessa vida! Ah! Eu sei."
Oswaldo Montenegro, Drop's de Hortelã



Quase dois meses que aqui me encontro, exatos 48 dias em que estive imersa nesses ares completamente diversos daquilo que havia sido toda a minha existência até o presente momento, e sinto-me deveras satisfeita, mesmo que arrebatada por uma gripe interminável, com as pontas dos dedos desagradavelmente geladas, e com uma série de responsabilidades antes desconhecidas, e circunstancialmente negligenciadas, sinto agora brandura morna em minhas entranhas.
Eu que havia me direcionado a esse lugar aos prantos, hoje me faria em lágrimas se tivesse que retornar às origens. Foi como se aqui eu tivesse me deparado com aquilo que há de mais sincero e autêntico na minha essência, e gostado.
 Desprendida de algumas das sufocantes obrigatoriedades humanas, não me assusto mais com a ausência de rotina dos dias, e não mais faço questão de ter os caminhos previamente trilhados para se seguir instintivamente, ver-se livre dos roteiros eternos de folhetins desinteressantes me deu abertura para executar a minha própria tragédia nonsense, e mesmo que para alguns isso possa limitar-se a livros e internet, eu não me debruçaria nesta causa para tentar provar o contrário.
 Existo ativamente se me convier, e se não, não devo a ninguém, além de mim mesma, os frutos podres da minha inércia. E se me interpretarem de maneira simplista, assumo o personagem frente a platéia, camuflo a minha esquisitisse de modo que faça sentido vossas previsões.