terça-feira, 29 de setembro de 2009

Desproposital Nostalgia

Há situações que carregam consigo uma certa magia mesmo tendo sido comprovado empiricamente o quanto podem ser desagradáveis em seus desdobramentos.

Essa era uma daquelas noites em que ela gostaria de estar sentido o mau cheiro daquela rede molhada pela chuva e secada pelo sol incontáveis vezes, ouvindo “Sob um céu de blues” no volume mais incomodativo possível para os viventes dos arredores, colocando em risco a vida útil dos seus tímpanos, vendo aquela lua imensa ameaçando cair sobre sua cabeça no primeiro deslize em que ousasse dormir, ingerindo aquelas substâncias baratas totalmente características de todo o contexto, vagando pelo seu corpo na inútil tentativa de driblar os efeitos do frio, e todo aquele arsenal de palavras vãs, toda aquela banalidade falsamente poética, fatalmente inculta, totalmente desprovida da dignidade fabricada pela contemporaneidade.
Em noites como aquelas ela necessitava daquele caos, daquele cheiro de cigarro misturado com incenso, impregnados nas paredes, nos móveis, nas cortinas, na pele, no cabelo... Faltavam sensações aromaticamente definidas como aquelas.
Queria outro exemplar daqueles pseudo-intelectuais inconseqüentes lhe contando histórias de livros que ela depois chegaria a ler para tentar alcançar novamente aqueles sentidos indefiniveis . Doía um pouco saber que nenhum outro lhe contaria tão bem a história do “Como me tornei um estúpido”, em cima de um telhado que anunciava em sua estrutura que seus dias estavam contados...

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