quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Nem sempre há uma explicação plausível, aceitável, justificável, digna, coerente... O que se sente em relação às coisas, em relação ao mundo, em relação às pessoas simplesmente flui de lugar algum, e não se direciona a nada, apenas paira no ar, deixando aquela sensação semelhante aos dias de calor quando não há vento. Abafa, sufoca, respira-se arduamente, pouco ar a ser dividido entre tantos seres.
Os sentidos que derivam de motivações especificas assemelham-se ao frescor do fim de uma tarde de inverno, quando o sol ainda aquece, mas de forma sutil, proporcionando sensações inexplicáveis na pele gélida, mesmo não se tratando de circunstâncias agradáveis, ainda se tem aquele leve resquício de algo inominável anunciando que a alteração de algum elemento poderia fazer com que as coisas se acertassem, são circunstâncias em que os argumentos habituais ainda têm alguma serventia, quando ainda é possível dizer que ‘vai passar’, ou outros artifícios de continuidade do mesmo gênero. Contudo, quando não se consegue identificar qualquer espécie de motivo, dilaceram-se as possibilidades.

Algo anunciava que o dia não seria bom, e ela sabia não estar equivocada em relação a isso, aquele distanciamento em relação ao que acreditava ser, e ao que realmente era, de acordo com as evidências irrefutáveis, acirrava-se nesses dias. Demorava tanto para os merecimentos, e antes deles era preciso passar pelas situações mais desagradáveis que se pode imaginar. Causava certa fúria a constatação daquele descaso tão espontâneo, algo premeditado certamente inflamaria menos a pele, definitivamente, personificar a irrelevância é um trabalho árduo que exige um longo percurso, porém, irreversível após feito.
Ela queria dizer tantas bobagens, tão imprecisas quanto os seus pensamentos. Queria que soubessem o quanto os achavam detestáveis, queria poder dizer que qualquer sentimento que transcendesse aquela dependência direcionava-se para maldizeres, mas não haviam sujeitos, sofria da falta de interlocutores.
Ela só tinha um cachorro e um cigarro, e considerando que o primeiro não ouviria e o segundo calaria sua boca, sentou-se naquele chão sujo e esperou... Incansavelmente esperou por tudo o que certamente não viria. Dias como estes são capazes de destruir a leveza conquistada por toda uma vida.

Um comentário:

Nah disse...

retribuindo a visita, tenho que dizer que você é poéticamente obscura e que gosto disso.

voltarei mais vezes.