Havia todos os motivos possíveis e prováveis para adentrar em um estado de angústia generalizada. Ela estava sozinha, sem pretensões que pudesse lhe causar interesses, não havia possibilidades que despertasse seu entusiasmo, porém, de forma incompreensível dentro de si havia aquele sentimento de paz medíocre, infundada, sem grandes motivações, era apenas uma recusa ao sofrer, sentido esse que de tanto se fazer presente em seu percurso imaginava ela já estar controlado, sofreria quando imaginar ser conveniente.
Sim, até o sofrimento exige certa coerência, um contexto determinado, simplesmente sofrer, despretensiosamente seria um despropósito, e viver já era o despropósito mais significativo que ela carregava consigo, tolo seria se firmar em novos desalentos, a não ser que as motivações e os estímulos fossem de dimensão superior as suas defesas.
Sim, até o sofrimento exige certa coerência, um contexto determinado, simplesmente sofrer, despretensiosamente seria um despropósito, e viver já era o despropósito mais significativo que ela carregava consigo, tolo seria se firmar em novos desalentos, a não ser que as motivações e os estímulos fossem de dimensão superior as suas defesas.
Chovia, no momento mais impróprio, não havia fuga, aquilo que mais lhe agradava na natureza havia acontecido em um momento inoportuno. Nada possibilitava que ela se escondesse, a necessidade de proteção a direcionava sem muitas escolhas para entre os mortais, meros mortais, que ali se faziam presentes. Todos com seus motivos que consideravam digno, essa falsa dignidade que nos move e nos expõe as situações indesejadas.
Não fora suficientemente feliz na arte de ficar alheia aos seres que a cercava, com aquela espécie de paranóia neurótica que a acompanhou durante todo o seu percurso existencial, imaginava estar sendo observada, tinha medo que seus pensamentos reluzissem, tomassem forma, se personificassem com o intuito apenas de expô-la ao ridículo... Aquilo que ela mais temia: o ridículo, não pelo ridículo em si, mas sim pela atenção que o mundo voltava ao ridículo, pela exposição que ele proporcionava, ela nunca estaria preparada para controlar suas indagações perante uma quantidade maior do que o esperado de olhos voltados para ela, enlouqueceria, instantaneamente. E era exatamente isso que ela pensava que a chuva causaria, nesse ambiente tão despreparado para tal fenômeno. A quantidade limitada de pessoas e de estímulos visuais faria com que qualquer movimento fosse perceptível. Supunha até estar bem localizada, nessa espécie de dialogo interior que executava para que a insanidade não tomasse conta da ínfima parte sadia de si que ainda restava.
O medo que superava todos os outros, mas que não lhe causava sofrimento, era o da loucura, sentia-se apta a ocupar o lugar dos loucos no mundo, pensava até possuir traços marcantes do estereotipo destes.
Ela carregava nos olhos um misto de força e de fraqueza, diferente dos outros, sentia na expressão dos que a observava existindo, certa perplexidade. Isso que se mesclava dentro dela estava longe de qualquer espécie de mediania, eram extremos, oscilações constantes, diferente de qualquer bipolaridade, pensava ela ter certo controle sobre seu mundo interior que desconhecia. Havia uma fera coberta pelo seu semblante composto de segurança, doçura e a mais fina ironia. Fera esta que ela domava com pequenos agrados, carícias, elogios, facilmente influenciável, mas que necessitava de atenção constante. Incansável, exigia um trabalho diário, era preciso dispor de tempo e de paciência, tudo isso em prol da sua sanidade, e do bom andamento de tudo aquilo que compunha seu "mundo exterior". E era justamente por isso que ela temia tanto enlouquecer, não era possível avistar por quanto tempo seria viável negar seus instintos mais sinceros, seu desejo de nada, sua vontade incontrolável de sentar em uma poltrona macia e deixar o mundo seguir sem sua interferência. Longe de qualquer desejo de morte, ela queria ser apenas expectadora, a vida não lhe interessava o suficiente para haver vontade de coexistência, os poros da vida jorravam algo patético que ela achava deplorável, não queria ter parte naquilo. Se acontecesse de forma espontânea, assim como ela imaginava ocorrer com as outras pessoas, seria de certa forma, aceitável, mas ela não fora preparada para simplesmente existir, havia algo que ultrapassava o existir, ou que ficava anterior a este, a medida exata imprescindível a qualquer ser vivente, havia lhe faltado.
O ônibus haveria de chegar, para fim da sua pré-angústia.
Não fora suficientemente feliz na arte de ficar alheia aos seres que a cercava, com aquela espécie de paranóia neurótica que a acompanhou durante todo o seu percurso existencial, imaginava estar sendo observada, tinha medo que seus pensamentos reluzissem, tomassem forma, se personificassem com o intuito apenas de expô-la ao ridículo... Aquilo que ela mais temia: o ridículo, não pelo ridículo em si, mas sim pela atenção que o mundo voltava ao ridículo, pela exposição que ele proporcionava, ela nunca estaria preparada para controlar suas indagações perante uma quantidade maior do que o esperado de olhos voltados para ela, enlouqueceria, instantaneamente. E era exatamente isso que ela pensava que a chuva causaria, nesse ambiente tão despreparado para tal fenômeno. A quantidade limitada de pessoas e de estímulos visuais faria com que qualquer movimento fosse perceptível. Supunha até estar bem localizada, nessa espécie de dialogo interior que executava para que a insanidade não tomasse conta da ínfima parte sadia de si que ainda restava.
O medo que superava todos os outros, mas que não lhe causava sofrimento, era o da loucura, sentia-se apta a ocupar o lugar dos loucos no mundo, pensava até possuir traços marcantes do estereotipo destes.
Ela carregava nos olhos um misto de força e de fraqueza, diferente dos outros, sentia na expressão dos que a observava existindo, certa perplexidade. Isso que se mesclava dentro dela estava longe de qualquer espécie de mediania, eram extremos, oscilações constantes, diferente de qualquer bipolaridade, pensava ela ter certo controle sobre seu mundo interior que desconhecia. Havia uma fera coberta pelo seu semblante composto de segurança, doçura e a mais fina ironia. Fera esta que ela domava com pequenos agrados, carícias, elogios, facilmente influenciável, mas que necessitava de atenção constante. Incansável, exigia um trabalho diário, era preciso dispor de tempo e de paciência, tudo isso em prol da sua sanidade, e do bom andamento de tudo aquilo que compunha seu "mundo exterior". E era justamente por isso que ela temia tanto enlouquecer, não era possível avistar por quanto tempo seria viável negar seus instintos mais sinceros, seu desejo de nada, sua vontade incontrolável de sentar em uma poltrona macia e deixar o mundo seguir sem sua interferência. Longe de qualquer desejo de morte, ela queria ser apenas expectadora, a vida não lhe interessava o suficiente para haver vontade de coexistência, os poros da vida jorravam algo patético que ela achava deplorável, não queria ter parte naquilo. Se acontecesse de forma espontânea, assim como ela imaginava ocorrer com as outras pessoas, seria de certa forma, aceitável, mas ela não fora preparada para simplesmente existir, havia algo que ultrapassava o existir, ou que ficava anterior a este, a medida exata imprescindível a qualquer ser vivente, havia lhe faltado.
O ônibus haveria de chegar, para fim da sua pré-angústia.
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