Ela e ele no mesmo sofá. Um em cada extremidade, como se reconhecessem o lugar que a enorme barreira de distância deveria ocupar bem no meio deles. Ela pouco dirige a palavra a ele e a recíproca é verdadeira. Nem parece que antes se apertavam contra o corpo do outro, como se quisessem ocupar o mesmo pequeno espaço na cama, como se quisessem misturar o calor e ter a certeza que as essências estavam entrelaçadas até durante o sono. Notaram-se como estranhos, ela não poderia acreditar que ele estava lendo aqueles livros, e ele se sentiu envergonhado por ter dividido a mesma cama com uma mulher que agora tinha que pagar para alguém lhe dizer o que fazer. Sim, mas agora se tornaram desconhecidos, é fato. Tão distantes... Ela não suportou, mudou de sofá e tratou de procurar outras coisas pra se entreter, escondendo as mãos suadas. Incrivelmente portando-se com uma naturalidade mais cínica impossível. E provavelmente muito bem notada por ele, que ainda devia conhecer muito de seus artifícios e reações nervosas. Depois de um tempo, ele se levantou para ir embora e ela resolveu lhe lançar um olhar consideravelmente firme, na porta do apartamento enquanto o elevador não chegava, expressando um misto esquisito de sentimentos como se quisesse dizer "viu como eu estou bem sem você?" e "a saudade agora apertou como um sapato de número menor no calcanhar".
sábado, 26 de janeiro de 2008
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Um comentário:
seu ócio tem sido magistralmente aproveitado. :)
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