domingo, 3 de fevereiro de 2008

Admirei aqueles olhos que me observavam da mesma maneira como os críticos ficam boquiabertos diante de Michelangelo .O mesmo prazer que uma leitura de Schopenhauer me proporciona, seguido da mesma sutil ira que suas demonstrações de machismo me provocam. O olhar era de uma vulgaridade semelhante aos romances do velho Bukowski, o rubor fácial que me aparece a cada linha, agora se dava a cada passo que me aproximava dele. O sorriso, diferente dos olhos, exprimia um romantismo tão enojante quanto as dramaturgias de Shakespeare. Não era belo, e já pecava por se mostrar tão sorridente, mas aquele rosto possuía uma simetria perfeita. Naquele momento eu era o foco, notava-se o esforço que ele fazia para demonstrar que nada seria capaz de movê-lo em qualquer outra direção, o mundo naquele segundo se resumia a mim. Cheguei imaginá-lo ao meu lado, poderíamos passar horas vagando sem sermos percebidos, apesar da efusividade do sorriso, ele possuía uma aparência discreta, só era visto por quem ele mesmo desejava.
Por um segundo,e numa piscadela pude experimentar uma eternidade de conforto.
Certas almas são tão espantosamente ligadas por um estranho magnetismo que o normal da natureza seria mantê-las fisicamente distantes, mas eis que inexplicavelmente ele aparecera em minha frente.
E eu não consegui fazer nada mais do que abaixar os olhos - e passar o resto da noite tentando descobrir o que ele teria visto em mim.

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