domingo, 20 de janeiro de 2008

O ambiente estava favorável para que ela se sentisse segura, a música adentrava seus ouvidos meigamente de forma quase imperceptível, o som havia sido minuciosamente preparado para confortá-la de deixá-la leve, o espaço fora escolhido de maneira que a manteria estrategicamente afastada de qualquer interrupção brusca, ele já sabia o quão frágil e vulnerável a sustos ela havia se tornado, nada indesejado ocuparia seu campo visual – como ela mesma costumava dizer – ela não escondeu seu riso ao perceber que aquelas cores só se faziam presentes porque a deixaria feliz, no fundo ela sabia que ele se sentiria muito mais seguro se as rosas fossem vermelhas – ele não compreendia como ela podia preferir as brancas. Na sua busca por informações, descobriu o quanto ela gostava de espelhos, e lá estavam eles por todos os lados, ela dizia que não era narcisismo, mas fazia o ambiente se tornar familiar, caso se sentisse angustiada poderia avistar sua própria imagem – ela sempre ria de si e analisava suas expressões faciais depois que algo inesperado que lhe causava emoções incontroláveis ao seu tão precioso bom senso acontecia . Em cada passo que ela dava percebia como ele havia assimilado bem suas palavras – e como suas mãos lhe foram gratas quando sentiram a maciez das inúmeras almofadas que ele colocara no sofá ,organizadas por cores e tamanho – ela sempre temia em pensar o que fazer com as mãos, tinha medo de que elas falassem algo inadequado, algumas leituras a respeito de linguagem corporal a deixou ainda mais cheia de paranóias. Ele deixou que ela decidisse a distancia entre eles, não conseguia compreender porque estava agindo daquela forma, depois de sentir o calor de tantos corpos e tê-los sob seu controle, tudo o que ele desejava agora é que ela escolhesse estar entre seus braços. Ela, com sua insegurança, bem provável que proveniente de sua imaturidade, se manteve um pouco distante, teve medo que ele percebesse que sua respiração ainda estava ofegante, ele por sua vez não deixou de notar, apesar de ter cogitado a possibilidade de ser efeito da subida das escadas, tinha medo da responsabilidade que sentiria se admitisse o quanto a desconcertava. A doçura com que ele a olhava a deixou incompreensivelmente segura, tomou para si as mãos dele, ele sorriu ao perceber o quanto um simples gesto havia exigido dela. Ficaram sem pronunciar uma palavra, nem um dos dois teve a audácia de correr o risco de estragar tudo com palavras, tudo era novo demais para ser dito.

Mantiveram as mãos e os olhos unidos, e apesar da incredulidade que compartilhavam, rezaram para que aquela noite fosse eterna. Ela não conseguiu resistir, os sentimentos estavam transbordando de tal forma que seria injusto demais não usar todas as maneiras que detinha para expressá-lo. Docemente pediu:

- Permite que eu viva nesses olhos?

Nenhum comentário: