segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Eu poderia agora me libertar desse claustro escuro, sair dessa prisão trancada por dentro.
Sairia em busca de remédios para o tédio, talvez chegasse a me render aos ópios habituais, poderia ingerir doses daquelas formulas mágicas que derrubam os muros do bom senso, ou então tragar aquilo que caracteriza um jovem do século XXI, me juntar aos modernos em seu ‘intercambio cultural’
orgiástico, deliciando-me com tantas presenças pornográficas fabricadas por encomenda. Eu gritaria meus ódios aos ouvidos presentes, cairia no riso junto com eles, participaria ativamente dos diálogos verborrágicos , zombaria de deus, clamaria por deus, cuspiria nos pés dos ateus que ali se encontrassem, carimbaria seus passaportes para o inferno, daria minhas gargalhadas reprimidas na face dos cristãos hipócritas, esfregaria em suas faces a verdade da impureza universal, faria deles motivo das mais cômicas chacotas.
Depois correria até o altar acenderia duas velas, uma para deus e outra para nietzche e voltaria em meios aos mortais, tão pura quanto antes.
Mas a situação ainda não pede medidas drásticas, apesar de a noite estar quente demais, da mediocridade estar presente, do tédio não dar trégua, do fracasso bater a porta, e da solidão estar aqui sentada ao lado com eu sorriso cínico e com aquele ar de superioridade que só é permissível aos vencedores, vendo as letras aparecer na tela vagarosamente devido à presença da delicada preguiça que se encontra deitada na cama ao lado.
Céus, eu deveria rezar, se restasse fé, ou então eu poderia agir em uma espécie de reflexo condicionado místico e ao menos acender uma vela, mesmo sem fé nenhuma. Ou então eu poderia acender apenas um cigarro, ficar nas drogas licitas, colocar uma musica qualquer cheia de melancolia, e bancar o artista americano em mais uma cena deplorável que algum crítico bem pago e mal intencionado chamaria de arte; mas só um completo idiota ou alguém totalmente perdido sentiria qualquer espécie de animação em tal atitude, e acho que ainda não me transformei em uma completa idiota.
Mas também não poderia ficar esperando o ‘deus acaso’ virar as paginas do seu roteiro chatíssimo e me mostrar a nova cena onde eu provavelmente ainda estaria chafurdada no pântano da depressão.
Vamos à vida, menina, mas sem exageros, doses homeopáticas de decadência diária mantêm o homem vivo.

Um comentário:

Eros disse...

És brilhante, só as bestas podem tolher o seu futuro.