Que faltava alguma coisa ela não tinha dúvida.
Sabia também que não se tratava de nada semelhante àquela falta eterna daquela coisa que provavelmente se concretizaria apenas com a morte.
Talvez fosse algum elemento sutil, mas que impossibilitava que se chegasse ao êxito sem a presença dele.
[O bom de ser realista, ou de se supor realista, é a possibilidade de poder livrar-se de grande parte dos clichês (e criar mais um série deles) que podam nossa evolução e justificam a mediocridade com artifícios ou elementos subjetivos que objetivam apenas aquele contentamento conformista, uma verdadeira hipnose para convencê-lo de que não tem dentes visando à aceitação da santa sopa de cada dia.
O fato é que, tendo sido justificado o meu não apego a tais preceitos, a fluência verbal desvincula-se de tais amarras, que mesmo sabendo de sua inconveniência e impertinência, é insistente em levar seu trabalho para todos os departamentos existentes.]
Esta parte ínfima, mas elementar, que imaginava faltar, provavelmente devia estar na ausência dos elementos complementares de compõem esse mundo sujo, ou talvez não sujo o suficiente, afinal, dentro já existia a ânsia, o potencial criativo era inegavelmente real, o que matavam eram as meias ausências, as semi-presenças, quase incompletudes.
Onde estavam os bruscos fins?
As ausências avassaladoras...
E o que fizeram das presenças transbordantes?
Para onde foram as pessoas que exacerbam?
Onde estariam aqueles que preenchem todo o espaço dos olhos,
dos ouvidos,
os que exalam tudo que há de mais singular,
ou até mesmo aqueles que impressionam com o próprio exagero da imbecilidade?
As pessoas estavam/eram opacas demais,
foscas demais,
amenas demais,
mas era um demais que se fazia “demenos”,
um exagero de falta seguido de um exagero de elementos ocos,
um vazio composto por tudo que há de mais nauseante.
Eles eram tão cheios, absorviam tudo que os cercavam de maneira poluente, não filtrada, não selecionada.
Ah! A santa seletividade!
Totalmente mal distribuída entre os seres que habitam a esfera terrestre!