sexta-feira, 8 de julho de 2011
sábado, 2 de julho de 2011
Completando o período de transição
Comodismo suscita lamento
Eu abdico do meu direito à calmaria
E abarco do novo o seu tormento
Escolher sempre causa certa apreensão, tanto pelo medo do desconhecido que se encontra no caminho em que se é possível trilhar, pelo que as circunstâncias e os anseios aplicados proporcionaram, como pelo medo de ter o espaço conquistado anteriormente esfriado pela ausência do calor do próprio corpo.
E de fato por um período fica-se desaquecido. Na mudança, no processo de transição, sempre há um espaço de tempo em que se tem que tolerar o frio causado pelo ninho que esfriou por não estarmos mais lá, e pelo tempo curto que ainda não permite que o nosso corpo reconheça a familiaridade e aqueça o novo espaço em que se está. É um período deveras devastador da sanidade, em que a vulnerabilidade mostra-se inquestionavelmente em cena, trata-se do momento em que os ditos "por um triz" ou o "caminhar na corda bamba" se aplica na sua essência, escancara-se cru aos nossos olhos, mostra-se despudoradamente despido e sobre a luz dos holofetes, e não há consolo nem subterfúgios, a resistência frente ao novo, que dói e dilacera a pele ainda acostumada com a corriqueira rotina cotidiana, é o que se tem que digerir antes do usufruto das doçuras futuras....
sábado, 25 de junho de 2011
Há tanto ainda por ser visto,
e meus olhos permanecem ávidos na busca do desconhecido.
O desconhecido descobre-se frente a minha existência
E a minha existência despe-se perante o que não sei denominar
O inominável me apetece, mas me cansa deveras
Me restauro na reclusão, alimento da sanidade,
Não me assusto com o transcorrer do tempo
que ainda não sei se curto, ou se longo em demasia
Fluo pelo meu percurso rumo ao que há de ser
E se houver pressa nos que me acompanham
Ou inércia desmedida nos meus momentos de rompantes
....Continuo só rumo ao nada
domingo, 12 de junho de 2011
Sendo....
Assusta a velocidade com que as circunstâncias se alteram
O bom de outrora não mais comove no agora
O que antes era desprezo, hoje nutro um frutífero apreço
Por isso não mais me exauto e alardeio os paradigmas
As coisas que passem e fiquem o quanto quizerem
Eu nada mais abraço e nada mais rejeito
Contradições e paradoxos multiplicam-se infindavelmente
E minha inconformidade momentânea que se acerte
no caminho das minhas entranhas até a ponta da lingua,
... e que não ouse saltar!
domingo, 5 de junho de 2011
Talvez eu gostasse mesmo era das janelas
As portas estavam todas abertas
Nada se interpunha a minha possibilidade de atravessá-las
E o mundo se anunciava com cores convidativas
Em placas luminosas a vida vendia seus inúmeros atrativos
Uma série de prazes fáceis e acessíveis
Mas talvez eu gostasse mesmo era das janelas
Ficar aqui debruçada vendo o mundo passar
Voltada para a luminosidade do meu mundo interior
Contemplando as intempéries decorrentes do abismo de me ser
Nada aparente na superfície
Algo que nenhum olhar raso desmistifique
Oscilando entre o prazer e a angústia de ser imperscrutável
sábado, 4 de junho de 2011
"Trocando em miúdos pode guardar as sobras de tudo que chamam lar, as sombras de tudo que fomos nós... as nossas melhores lembranças"
meus pés estavam demasiadamente gelados
era preciso cautela e controle
para que o coração também não gelasse
as gavetas que guardavam as meias da subjetividade
quando encontradas
só se abriam com muito custo
pensei ter ouvido a voz de minha mãe chamando pelo meu nome
o devaneio doce de uma realidade improvável,
não me desloquei em busca da verificação
o que outrora surgiria como reflexo
hoje aparenta uma elucubração tomada pela ingenuidade
de uma prolixidade vazia e desprovida de nexo
ninguém haveria de me chamar
quarta-feira, 1 de junho de 2011
"Tá fazendo frio neste lugar, onde eu já não caibo mais... e já não caibo em mim"
Acordo deslocada,
a perplexidade não me permite caber em mim
Recordo que a realidade é mutável
e encontro acalanto naquilo que vejo transbordar
estranho tudo o que existe ao meu redor
quero correr dessa estranhesa
mas o que ficou
de tudo que foi deixado
perdeu os ares de porto
e aqui é a minha parada
naquilo que não entendo
em tudo o que possivelmente nunca se esclarecerá
na incerteza mágica que me sufoca
na certeza amarga das linhas tortas
na tortura da lentidão e do frio do passar das horas
uma música agradável adentra os meus ouvidos
um som impertinente vindo de fora insiste em competir
e a contrariedade que confunde,
minhas sensações obscuras difunde
um gosto doce sobe das entranhas
as sensações contraditórias se fundem
a satisfação do afeto compartilhado
e a frustração do prazer inconcluso
TRANSBORDA A MINHA PERPLEXIDADE
terça-feira, 31 de maio de 2011
segunda-feira, 30 de maio de 2011
Do que não deveria ser dito...
O mais decepcionante de tudo aquilo era que todas as pessoas firmavam-se na vida defendendo algo. Havia sempre alguma mensagem, nem sempre tão subliminar como deveria, ou como o bom senso sugeriria, ou até mesmo como o interlocutor gostaria, por traz de tudo aquilo que estavam dizendo ou fazendo, e eu sentia um prazer tão imensurável de contrariá-las, poder olha-las e encher a boca com o meu famoso "não concordo", era um dos prazeres pacaminosos que eu costumava acariciar para me manter existindo. E o que eu queria de fato não era convencê-los de seu falso ativismo, ou de que suas ideologias pouco (ou nada) fundamentadas não passavam de um credo fajuto, eu acreditava realmente na possibilidade redentora de ser convencida de algo. Mas ahhhh, como eram fracos os argumentos, pobres os discursos, tudo demasiadamente corriqueiro, todos absurdamente banais. E eu seguindo a cada dia mais cética e só...
domingo, 29 de maio de 2011
Álvaro de Campos
Ah a frescura na face de não cumprir um dever!
Faltar é positivamente estar no campo!
Que refúgio o não se poder ter confiança em nós!
Respiro melhor agora que passaram as horas dos encontros,
Faltei a todos, com uma deliberação do desleixo,
Fiquei esperando a vontade de ir para lá, que'eu saberia que não vinha.
Sou livre, contra a sociedade organizada e vestida.
Estou nu, e mergulho na água da minha imaginação.
E tarde para eu estar em qualquer dos dois pontos onde estaria à mesma hora,
Deliberadamente à mesma hora...
Está bem, ficarei aqui sonhando versos e sorrindo em itálico.
É tão engraçada esta parte assistente da vida!
Até não consigo acender o cigarro seguinte... Se é um gesto,
Fique com os outros, que me esperam, no desencontro que é a vida.
DEVANEIOS TOLOS
Tem se tornado idéia fixa a minha insistência em dizer que a vida é estranha.
Contudo, o que tomo como normalidade para atestar a estranheza da vida?
O que conheço da estranheza para atribuí-la a algo?
E o que, mais ainda, conheço da vida para adjetivá-la tão enfaticamente?
Estaria eu me aproximando do sentido verdadeiro daquilo que outrora observava de longe e chamava de vida?
Ou identificando a verdadeira personificação da estrenheza naquilo que executo como vida?
sexta-feira, 27 de maio de 2011
FATO
" Não gosto é quando pingam limão nas minhas profundezas e fazem com que eu me contorça toda"
(Lispector, Água Viva - p. 31 - 7ª ed. Nova Fronteira )
quinta-feira, 26 de maio de 2011
Das descobertas inéditas... [e do abuso descarado do pleonasmo]
O meu jeito era ser só. Havia habilidades naturais que me associava a tal característica. Aquilo que outrora amedrontava, agora parecia me cair maravilhosamente bem, por alguns segundo houve paz nessa falta de familiaridade.
Tornar-se um sujeito estranho, solitário, alheio aos arredores, ainda que temporariamente.
Havia certa graça, certo prazer e contentamento nessa condição que escolhera, depois abdicara, mas que por fim colhera.
Era estranho ver-se só, absolutamente só, pela primeira vez, o que antes seria separado apenas por uma parede, alcançado com a mesma facilidade do emitir um grito de desespero, agora faz-se milhas de distância, que possivelmente ultrapassara a esfera espacial para se tornar um muro psicológico intransponível.
[Pela primeira vez Clarice fez sentido objetivamente ao dizer: "Agora sei: sou só. Eu e minha liberdade que não sei usar".]
quarta-feira, 25 de maio de 2011
Algumas constatações deveriam ser bloqueadas automaticamente pelo cérebro, em prol da nossa saúde mental. Mas invariavelmente não são. Ao contrário daquilo que necessitaríamos, é justamente nos momentos mais inoportunos do percurso existencial, onde seria necessário sublimar, abstrair, que tais elementos propulsores das válvulas conclusivas, que passam boa parte da nossa estadia como viventes desativado, surgem energicamente.
Eis que me encontro em um fim de ciclo, tentando assimilar tudo o que for possível dentre os elementos que se fizeram substanciais na fase que encontra-se sendo superada, ou então, buscando um viés de observação otimista, fase que encontra-se sendo substituida pelo iniciar inevitável de um novo ciclo. Dessa forma, os olhares se voltam nostalgica analítica e saudosamente para tudo aquilo que foi ficando pelo caminho.
Depois de um longo processo de construção de relações, vínculos, desafetos, eis que definitivamente encontro-me partindo. Diferente das outras vezes, e sem nenhum teor de drama ou lamentação, dessa vez para não mais voltar.
Ok, até então, saudável e passível de assimilação!
A questão descabelatória fez-se da seguinte maneira. Supondo que você passe um período de tempo notável dividindo o mesmo ambiente com um determinado grupo de pessoas, que você imagina ser conhecedor ao menos dos aspectos elementares do seu ser. Imagina-se como um exímio suicida super sincero das relações sociais, sem titubear ao expor os comentários e opiniões que são solicitados, sem medir o grau de antipátia dos mesmos. E justamente quando você está de saída, passando possivelmente última vez pela porta em que corriqueiramente cruzava 'n' vezes ao dia, recebe um presente revelador que o leva do céu ao inferno num tempo incalculável de tão breve: Um livro dos Augusto Cury.
Sim, esse mesmo, justamente esse que cultivo o hobbie agradabilíssimo de criticar.
A princípio, ao ver que o presente tratava-se de um livro, a primeira idéia que surgiu foi: "Bahhh, todo esse tempo foi o bastante para esses caras me sacarem com precisão, afinal, o último ser a partir foi agraciado com um objeto proveniente dos desejos fúteis que nos toma!", e que sorriso largo botei no rosto! Mas, por mero padrão de comportamento, as coisas desandaram quando meus olhos identificaram a 'preciosidade' com que estava sendo agraciada.
Sim, um livro do Augusto Cury. E se isso não fosse o bastante (como nunca é), não se tratava simplesmente de tal. O conteúdo do livro, exatamente, o conteúdo do livro completou por absoluto a fatalidade: "Mulheres inteligentes, relações saudáveis", e como golpe final e fatal, o título da receita do bolo, quer dizer, do livro, vem com o complemento: "O livro que toda mulheres deveria ler antes de se relacionar".
Como condicionamento proveniente da minha elegância e gentileza, o sorriso continuou, mas a testa franziu em nome da minha sinceridade incurável.
E as perguntas se multiplicam ad infinitum desde então!
Afinal, transmiti uma imagem assim tão confusa a ponto que deixar brecha para que talvez tal leitura fosse capaz de me apetecer? Eu estava sendo sutilmente provocada? O responsável por comprar o livro seria um leigo absoluto em literatura? etc, etc...
Possivelmente morrerei na dúvida.
terça-feira, 24 de maio de 2011
“Me escondo dessas tuas histórias que me enredam cada vez mais no que não és tu, mas o que foste. Tento fugir para longe e a cada noite, como uma criança temendo pecados, punições de anjos vingadores com espadas flamejantes, prometo a mim mesmo nunca mais ouvir, nunca mais ter a ti tão mentirosamente próximo, e escapo brusco para que percebas que mal suporto a tua presença, veneno, veneno, às vezes digo coisas ácidas e de alguma forma quero te fazer compreender que não é assim, que tenho um medo cada vez maior do que vou sentindo em todos esses meses, e não se soluciona, mas volto e volto sempre, então me invades outra vez com o mesmo jogo e embora supondo conhecer as regras, me deixo tomar por inteiro por tuas estranhas liturgias, a compactuar com teus medos que não decifro, a aceitá-los como um cão faminto aceita um osso descarnado, essas migalhas que me vais jogando entre as palavras e os pratos vazios, torno sempre a voltar, talvez penalizado do teu olho que não se debruça sobre nenhum outro assim como sobre o meu. Tornarei sempre a voltar porque preciso desse osso, dos farelos que me têm alimentado ao longo deste tempo…”
- Caio Fernando Abreu.
sexta-feira, 13 de maio de 2011
De volta à velha cumplicidade...
Versos Íntimos
Augusto dos Anjos
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
quinta-feira, 12 de maio de 2011
Busca Vida
"Se for mais veloz que a luz,
então escapo da tristeza
Deixo toda a dor pra trás,
perdida num planeta abandonado no espaço.
E volto sem olhar pra trás"
então escapo da tristeza
Deixo toda a dor pra trás,
perdida num planeta abandonado no espaço.
E volto sem olhar pra trás"
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