quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Alguns sentimentos são tão torturantes que seus danos são aparentes antes mesmo de serem provocados por fatos concretos. É o que acontece com a rejeição, antes que qualquer ato possa indicá-la, apenas a possibilidade de que ela ocorra, já é tão traumático quanto o fato em si.
Não seria por menos, segundo a definição da palavra, fica evidente que não se passa por tal situação ileso:
Rejeição: ato ou efeito de rejeitar; repulsa
Rejeitar: lançar fora; expelir; vomitar; repelir; recusar, negar; desaprovar; desprezar.
Para consolo dos mais sensíveis, a palavra rejeição não tem sido usada com muita frequência de forma brusca, devido a sugestão de hostilidade que o conceito tráz consigo, então dificilmente alguém irá dizer de forma explicita:

_ Você está sendo rejeitado!

Para isso foram inventados os eufemismo, para que você não seja "expelido", "vomitado", "repelido", "recusado" e todas as outras derivações da palavra, o máximo que irá ouvir será um:

_Você não é apto para (...)

_ Você não possui o perfil que estamos procurando.


Se é que isso serve realmente de consolo.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

A condição primordial para uma boa convivência em grupo é a tolerância. Sabe-se bem que cada indivíduo é formado por particularidades que não dependem unicamente da escolha do mesmo, são influências externas que atuam significantemente sobre cada um. Traços culturais, sociais, econômicos, tem ação coercitiva sobre cada um de nós, nossa capacidade de filtrar as informações que recebemos possui um certo limite que nem sempre é perceptível.
Tolerar, respeitar, ter noção consciente que as diferenças existem sem tentar catalogá-las como melhores ou piores é aceitável, mas isso não implica necessariamente que deva existir uma convivência com seres de "ideologias" incompatíveis, forçar convivência é nauseante.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008



Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.
O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.
Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.
Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humor?
A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.
Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.


(Carlos Drummond de Andrade)

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Poucas chances,
Poemas experimentais,
Filosofia existencial,
Novas velhíssimas canções,
Alguém que muito te gosta,
Mas que te causa repulsa,
Alguém que você gosta mas que diz:
Você é interessante,mas não estou interessado,
Ah! a eterna quadrilha de Drummond...
Sessão de cinema,
Vinho tinto,
Um disco novo daquela banda,
Eh! quem sabe as coisas melhorem...
Acho que Nietzsche tinha razão quando disse que Deus está morto.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008


Milágrimas
Alice Ruiz

Em caso de dor ponha gelo
Mude o corte de cabelo
Mude como modelo
Vá ao cinema dê um sorriso
Ainda que amarelo, esqueça seu cotovelo
Se amargo foi já ter sido
Troque já esse vestido
Troque o padrão do tecido
Saia do sério deixe os critérios
Siga todos os sentidos
Faça fazer sentido
A cada mil lágrimas sai um milagre

Caso de tristeza vire a mesa
Coma só a sobremesa coma somente a cereja
Jogue para cima faça cena
Cante as rimas de um poema
Sofra penas viva apenas
Sendo só fissura ou loucura
Quem sabe casando cura
Ninguém sabe o que procura
Faça uma novena reze um terço
Caia fora do contexto invente seu endereço
A cada mil lágrimas sai um milagre

Mas se apesar de banal
Chorar for inevitável
Sinta o gosto do sal do sal do sal
Sinta o gosto do sal
Gota a gota, uma a uma
Duas três dez cem mil lágrimas sinta o milagre
A cada mil lágrimas sai um milagre

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Lembro daqueles dias de caos quando demonstrávamos ao mundo toda a nossa incoerência, e que por ser a idade das máximas manifestações de tolices, nem nós notávamos o quanto tudo aquilo não fazia o mínimo sentido, e nem os outros conseguiam perceber a falta de lógica, mas por ser aquela fase também a que dava inicio as percepções mais apuradas, tanto nós como eles tinham a certeza de que algo ali estava errado. Nós respondíamos a isso perpetuando aquela atitude insana, e eles a respeitavam como se fosse um ritual sagrado.
Foi um ano de tentativas arriscadas, queríamos sustentar um mundo inteiro em um tripé onde cada perna possuía uma altura diferente, e só quem já teve o desprazer de tentar se equilibrar em uma cadeira de três pernas, sabe o quanto o trabalho é árduo. Mas as circunstancias nos levaram a forçar essa união, e quando demos por si já não estava mais em tempo de ativar o campo de retração, o vinculo havia sido formado.
O ritual aos poucos foi se tornando sagrado. De segunda a sexta, lá estávamos nós, o que dava marco ao inicio do ritual era o tocar do sinal que anunciava o termino da aula, e o fato do nosso lugar ser estrategicamente localizado ao lado da porta nos garantia que saíssemos primeiro. Tinha-se algo que compartilhávamos ,o pânico do corredor no inicio e no final da aula. Os meninos do ultimo ano, na tentativa de firmar sua imagem de suposta superioridade, alinhavam-se encostados na parede, uma fila de ogros de cada lado, e quando os nerd’s, cdf ‘s e afins por ali passavam, eram feitos de bolas humanas, sendo literalmente arremessados de um lado para outro, com as meninas era diferente, aquele era o momento de cortejo, no momento em que as moças por ali passavam a animalidade era até amenizada. Mas conosco a atitude era outra, o espaço era aberto de modo que pudéssemos passar sem ser interrompidas, os mais ousados faziam sinais de educação com os olhos, mas mantendo sempre atitude de reverencia e respeito, fatos estes que indago o motivo até nos dias de hoje, mas estou quase certa de que era porque nossos atributos físicos não contribuíam.
Como havia dito, sempre éramos as primeiras a sair no termino das aulas, e eis que tinha inicio o ritual. Eu, a passos largos ia ao encontro de minha bicicleta, a moça dos cabelos roxos sempre tinha algum caso pendente com algum bípede do sexo oposto para resolver, a outra, a mais imponente entre nós, era quem garantia que o ambiente do nosso ritual fosse mantido desocupado. E em questão de minutos lá estávamos nós, a posição era sempre a mesma, eu e a moça imponente de um lado e a moça dos cabelos roxos do outro, e nossas pernas no meio do caminho impedindo a passagem de todos – ou quase todos -, aquela esquina havia se tornado o comitê dos nossos encontros e debates. Primeiro esperávamos todos saírem, havia certa glória em ver aquelas pessoas pelas quais nutríamos uma antipatia desmedida terem que desviar seus caminhos pela rua, e chegávamos a cogitar possibilidades de nos aproximarmos dos que ousavam pular nossas pernas, de fato nunca nos aproximamos – com exceção do caso Lasek Junior - , mas apesar de mantermos distancia, os ousados ganhavam nosso respeito, alguns até conseguiram fazer com que tirássemos as pernas no caminho para que pudessem passar, mas foram raros. O ultimo a passar era sempre o admirável professor de química, eu e a moça imponente o víamos como modelo de homem ideal - apesar da química -, a moça dos cabelos roxos naquela época já se livrava dos últimos parâmetros de seletividade que lhe restava, e nesse caso, o via como ideal pelo simples fato de ser homem.
Quando percebíamos que nada mais iria interromper iniciávamos a conversa, cada assunto era discutido em seus pormenores, nunca saímos de lá sem antes tomar inúmeras decisões, que a cada dia se alteravam substancialmente, íamos de suicídio a casamento - que dá quase na mesma – de futilidades a situação monetária do país, discussões filosóficas quase sempre fomentadas por aquela professora principiante que só eu e a moça imponente ouvíamos, nos torturávamos a cada dia que passava com a tão difícil escolha do curso para o vestibular, e tantas outras irrelevâncias.
Como era de se esperar, o desequilíbrio só poderia resultar em queda. Fizemos tudo diferente do planejado, cada uma com seu erro peculiar sustentou seus absurdos, e como é de se esperar de toda construção com maus alicerces , a ruína foi inevitável.

entre tantos
loucos e livres
existe um
que é doce
e que me falta

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Preferia não pensar tanto assim em você, mas meu lado humano-fraco-e-imerso-no-sentimentalismo-barato impede que a racionalidade atue nesse setor. O afeto que há em mim, que só se manifesta em/para ocasiões/pessoas especiais, costuma ser muito atencioso com o meu estado psicológico, predominantemente perturbado; quando ele nota o quão feliz me faz uma existência tão humana e complexa, de imediato ele ocupa as vias centrais dos meus pensamentos e busca espaço para a expansão desse sentimento benévolo. E o sentimento brando e carinhoso por ti insistentemente cresce a cada dia.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Decadência mesmo é se ver discutindo marxismo com um cara que vê toda mulher, única e exclusivamente, como uma parceira sexual em potência... Todo o resto pode ser relativizado.


terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Não devemos tomar a arte muito ao pé da letra, especialmente no que diz respeito ao 'amor', as orgias verdadeiras nunca são tão excitantes como nos livros pornográficos.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Tudo bem que por mim uma mente insana poderia se apoderar de armas biológicas ou bombas nucleares e por fim em toda humanidade, a decadência já ergueu seu império, o intelecto da maioria das pessoas já se encontra em estado deplorável e irreversível, pouco me importa o futuro da nação, a salvação do universo, e isso tudo não é egoísmo da minha parte, é só indiferença mesmo. Mas isso não significa que vou me calar ou fazer cara de paisagem frente a qualquer discurso demagogo.
A preocupação em relação a escassez dos recursos naturais tem feito surgir ditos preparados pelos meios de comunicação para disfarçar as verdadeiras causas e culpados da degradação ambiental, por pouco não se é levado a crer em coisas do tipo : 'Somos todos responsáveis', 'Só depende de nós salvar e preservar a natureza'.
Ora, deixemos de ingenuidade, estratégia antiga essa de deixar sujeitos indefinidos em frases, quem são esses 'todos' e esses 'nós' de quem depende os seres viventes?
A humanidade inteira paga as consequências da ruína da terra, da intoxicação do ar, do envenenamento da agua, dos distúrbios do clima. Mas as estatísticas confessam e os números não mentem: os dados, ocultos sob a maquiagem das palavras, revelam que 25% da humanidade é responsável por 75% dos crimes contra a natureza.
Fazendo uma comparação entre as médias do norte e do sul, cada habitante do norte consome dez vezes mais energia, dezenove vezes mais alumínio, quatorze vezes mais papel e treze vezes mais ferro e aço. Cada norte-americano lança em média no ar, vinte e duas vezes mais carbono do que um hindu e treze vezes mais do que um brasileiro.
As empresas que mais devastam o planeta, são as que mais dinheiro ganham, e também são as que mais gastam em publicidade, que milagrosamente transforma a contaminação em filantropia.
Fiquem a vontade com suas atuações, o monopólio já está conquistado, a população já se tornou povo, a humanidade já está massificada, mas poupem os ouvidos daqueles que são ao menos um pouco esclarecidos de tanta hipocrisia, definam os sujeitos, por favor.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

















Fui em busca da paciência para cruzar os dias sem me deixar esmagar por eles...




...volto junto com o inverno.
“A religião é o ópio do povo.” (Karl Marx)

“O marxismo é o ópio dos intelectuais.” (Raymond Aron)


... e o meu ópio, é a tolice alheia.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Eu poderia agora me libertar desse claustro escuro, sair dessa prisão trancada por dentro.
Sairia em busca de remédios para o tédio, talvez chegasse a me render aos ópios habituais, poderia ingerir doses daquelas formulas mágicas que derrubam os muros do bom senso, ou então tragar aquilo que caracteriza um jovem do século XXI, me juntar aos modernos em seu ‘intercambio cultural’
orgiástico, deliciando-me com tantas presenças pornográficas fabricadas por encomenda. Eu gritaria meus ódios aos ouvidos presentes, cairia no riso junto com eles, participaria ativamente dos diálogos verborrágicos , zombaria de deus, clamaria por deus, cuspiria nos pés dos ateus que ali se encontrassem, carimbaria seus passaportes para o inferno, daria minhas gargalhadas reprimidas na face dos cristãos hipócritas, esfregaria em suas faces a verdade da impureza universal, faria deles motivo das mais cômicas chacotas.
Depois correria até o altar acenderia duas velas, uma para deus e outra para nietzche e voltaria em meios aos mortais, tão pura quanto antes.
Mas a situação ainda não pede medidas drásticas, apesar de a noite estar quente demais, da mediocridade estar presente, do tédio não dar trégua, do fracasso bater a porta, e da solidão estar aqui sentada ao lado com eu sorriso cínico e com aquele ar de superioridade que só é permissível aos vencedores, vendo as letras aparecer na tela vagarosamente devido à presença da delicada preguiça que se encontra deitada na cama ao lado.
Céus, eu deveria rezar, se restasse fé, ou então eu poderia agir em uma espécie de reflexo condicionado místico e ao menos acender uma vela, mesmo sem fé nenhuma. Ou então eu poderia acender apenas um cigarro, ficar nas drogas licitas, colocar uma musica qualquer cheia de melancolia, e bancar o artista americano em mais uma cena deplorável que algum crítico bem pago e mal intencionado chamaria de arte; mas só um completo idiota ou alguém totalmente perdido sentiria qualquer espécie de animação em tal atitude, e acho que ainda não me transformei em uma completa idiota.
Mas também não poderia ficar esperando o ‘deus acaso’ virar as paginas do seu roteiro chatíssimo e me mostrar a nova cena onde eu provavelmente ainda estaria chafurdada no pântano da depressão.
Vamos à vida, menina, mas sem exageros, doses homeopáticas de decadência diária mantêm o homem vivo.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Admirei aqueles olhos que me observavam da mesma maneira como os críticos ficam boquiabertos diante de Michelangelo .O mesmo prazer que uma leitura de Schopenhauer me proporciona, seguido da mesma sutil ira que suas demonstrações de machismo me provocam. O olhar era de uma vulgaridade semelhante aos romances do velho Bukowski, o rubor fácial que me aparece a cada linha, agora se dava a cada passo que me aproximava dele. O sorriso, diferente dos olhos, exprimia um romantismo tão enojante quanto as dramaturgias de Shakespeare. Não era belo, e já pecava por se mostrar tão sorridente, mas aquele rosto possuía uma simetria perfeita. Naquele momento eu era o foco, notava-se o esforço que ele fazia para demonstrar que nada seria capaz de movê-lo em qualquer outra direção, o mundo naquele segundo se resumia a mim. Cheguei imaginá-lo ao meu lado, poderíamos passar horas vagando sem sermos percebidos, apesar da efusividade do sorriso, ele possuía uma aparência discreta, só era visto por quem ele mesmo desejava.
Por um segundo,e numa piscadela pude experimentar uma eternidade de conforto.
Certas almas são tão espantosamente ligadas por um estranho magnetismo que o normal da natureza seria mantê-las fisicamente distantes, mas eis que inexplicavelmente ele aparecera em minha frente.
E eu não consegui fazer nada mais do que abaixar os olhos - e passar o resto da noite tentando descobrir o que ele teria visto em mim.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

"Deus Todo-Poderoso, lamento ser agora um ateu, mas o Senhor leu Nietzsche? Ah, que livro! "
John Fante

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Não foi culpa do inverno, que chegou mais cedo do que o previsto, nem do tédio habitual que se vincula com a insônia para atormentar os dias e transformar as noites em momentos caóticos, o fato de todos os dias estarem impregnados com o cheiro de terça feira, de a redoma ter se partido em pedaços suficientes para impossibilitar a reconstrução, também foi mero detalhe.


A culpa foi do ceticismo que tirou férias.