quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

A menos de uma semana um amigo veio me perguntar se eu conhecia o livro ‘A insustentável leveza do ser’, e isso me fez lembrar o quanto eu chorei no capitulo da morte de Karenin. Na mesma época em que li o livro, Charles, o cão mais dócil que já tive, e olha que não foram poucos, acabara de falecer, não pude conter as lagrimas, foi como se Kundera narrasse o meu próprio drama. Mas até aí tudo bem, cheguei até a sentir um conforto ao lembrar que Sofia, o mais novo animal de estimação da casa, estava esbanjando saúde. E eis que o acaso me prega mais essa peça, Sofia adoeceu, há três dias recusa alimentar-se, e tem os olhos mais tristes que já vi.

(...)

É um amor desinteressado: Tereza não pretende nada de Karenin. Nem mesmo amor ela exige. Nunca precisou fazer perguntas que atormentam os casais humanos: será que ele me ama? será que gosta mais de mim do que eu dele? terá gostado de alguém mais do que de mim?

(...)


Mas sobretudo: nenhum ser humano pode oferecer a outro o idílio. Só o animal pode, porque não foi banido do Paraíso. O amor entre o homem e um cão é idílico. É um amor sem conflitos, sem cenas dramáticas, sem evolução.
"

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

As pessoas costumam ter suas atitudes agrupadas em duas categorias quando se trata da dor alheia. Temos aqueles que se assemelham a ‘livros de auto-ajuda ambulantes’, na primeira oportunidade que surge abrem seus sorrisos patéticos e miseravelmente felizes, com uma incurável visão seletiva dos fatos, e em questão de segundos deixamos de avistar a face do ser em questão, e nos deparamos com um Augusto Cury frustrado que na impossibilidade de escrever um livro cheio de atrocidades do tipo: ‘dez dicas para se feliz’, ‘você é insubstituível’, usa sua diarréia verbal para importunar um pobre ser possuidor de problemas corriqueiros e questões existenciais eternas, fazendo com que aquilo que não passava do resultado da condição humana imersa em acontecimentos decepcionantes, se torne motivo para o mais torturante suicídio, ou um violento homicídio, não mais pelo problema em si ou pela dor, mas sim pela ira que tal projeto mal desenvolvido de ser humano pensante nos causa.
Temos também aqueles que quando cruzam o caminho dos que admiram a categoria acima, são chamados com freqüência de chatos e incompreensíveis, eles se limitam a ouvir, só opinam quando existe alguma objetividade no que vão dizer, não tomam postura em relação ao problema alheio, nada de bancar o jesus cristo detentor da salvação, ou personificar o caminho a verdade e a vida, o máximo que fazem é ficar por perto, ou dispor de um abraço para derreter as camadas de orgulho, de raiva e de impaciência, tocando o coração do outro com a peculiaridade das coisas feitas para suavizar a crueza do mundo. Mas poucas vezes são compreendidos, principalmente quando se deparam com aqueles que limitaram a função dos sentidos apenas a ouvir e falar, e não entendem a sutileza e a complexidade dos sinais e do conforto dado pelos outros mesmo por um silencio ensurdecedor.

domingo, 27 de janeiro de 2008

Ela temia que a realidade continuasse sendo seus anseios ao avesso, se assustava com a possibilidade das palavras serem eternamente proferidas como ruído obrigatório, queria ouvir apenas aquilo que não fosse mera transgressão do silêncio, ansiava enfim encontrar aqueles que não se preocupavam em calar, e que diziam apenas o indispensável, queria as palavras sentidas, os diálogos secretos entre as mãos, a comunicação discreta entre os perfumes, ela só podia sentir o coração dos que não se escondiam atrás das palavras, queria um amor calmo, que desse tempo para que todos os sentidos usufruíssem do mesmo, e com a mesma intensidade. (cansou de confundir taquicardia com amor).

- O que está tirando seu sono?

- Tenho um homem atravessado nas minhas pálpebras.

- E por que não pede para ele ir embora?

- Outro me atravessa a garganta.



Existir.

[d]Existir.

[r]Existir.



[im]Pulsiv
a.

[re]Pulsiv
a.

[com]Pulsiv
a.

sábado, 26 de janeiro de 2008

Ela e ele no mesmo sofá. Um em cada extremidade, como se reconhecessem o lugar que a enorme barreira de distância deveria ocupar bem no meio deles. Ela pouco dirige a palavra a ele e a recíproca é verdadeira. Nem parece que antes se apertavam contra o corpo do outro, como se quisessem ocupar o mesmo pequeno espaço na cama, como se quisessem misturar o calor e ter a certeza que as essências estavam entrelaçadas até durante o sono. Notaram-se como estranhos, ela não poderia acreditar que ele estava lendo aqueles livros, e ele se sentiu envergonhado por ter dividido a mesma cama com uma mulher que agora tinha que pagar para alguém lhe dizer o que fazer. Sim, mas agora se tornaram desconhecidos, é fato. Tão distantes... Ela não suportou, mudou de sofá e tratou de procurar outras coisas pra se entreter, escondendo as mãos suadas. Incrivelmente portando-se com uma naturalidade mais cínica impossível. E provavelmente muito bem notada por ele, que ainda devia conhecer muito de seus artifícios e reações nervosas. Depois de um tempo, ele se levantou para ir embora e ela resolveu lhe lançar um olhar consideravelmente firme, na porta do apartamento enquanto o elevador não chegava, expressando um misto esquisito de sentimentos como se quisesse dizer "viu como eu estou bem sem você?" e "a saudade agora apertou como um sapato de número menor no calcanhar".

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Deixe que essa noite eu cuido de você, puxe as cobertas que a noite está fria, deixe essa tristeza e chegue perto de mim. Deixa eu te embalar no sono, tirar seus medos, to aqui do seu lado, vem dormir, encosta sua cabeça em meus ombros, deixe-se dormir.
A noite vem, e vem escura, o vento já bate forte balançando as janelas, mas durma tranqüilo, estou aqui do seu lado.
Tirei a noite pra cuidar de ti, velarei teu sono, e se do teu sonho fizer parte, que seja dos mais belos passeios no parque de mãos dadas, ao raiar do sol, bem de manhãzinha, sentindo ainda o cheiro do orvalho por sobre as plantas.
Deixa-me ficar aqui, só te olhando, não farei barulho, prometo não te acordar, apenas ficar aqui te admirando.
Isso, assim mesmo, durma bem, enquanto fico aqui do seu lado, sem nada dizer, apenas imaginando o que poderia viver ao seu lado.
Dorme tranqüilo, estou aqui, te afagando com os olhos.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Por alguns segundos ela chegou a pensar que aquilo fosse excesso sensibilidade e escassez de compreensão, julgou-se injusta, pensou nunca poder se perdoar, de fato ela realmente havia sido dura demais com as palavras, mas foi a única saída que ela encontrou para tapear o seu ego, afinal, ele estava a deixando, ela se sentia no direito de vencer ao menos esse ultimo jogo de palavras, apesar de saber que diferente das outras circunstancias, o vencedor não poderia olhar para seu oponente com um olhar cheio de afeto e apertá-lo em seus braços, agora era definitivo, teriam que traçar caminhos opostos, mesmo sabendo que poderiam usar o mesmo percurso para sempre, compartilhavam das mesmas preferências em tudo, era justamente essa afinidade absurda que havia os unido. Mas ele decidiu partir. Ela compreendia o fim, sempre soube que os sentimentos eram findos, efêmeros, transitório, nunca esperou que ele lhe fizesse juras eternas, e nunca cometeu a atrocidade de fazer o mesmo, julgava-se racional demais, tanto que cometeu o erro de aplicar isso aos seus sentimentos a ponto de tornar-se fria, pensava que isso daria aos seus relacionamentos alicerces seguros, tudo parecia estável e dentro dos seus planos, fazia do amor um negocio, regras, investimentos, lucros, juros, tudo era pré-estabelecido com antecedência, o caminho até seu coração era mapeado, placas explicativas poupava todo o trabalho daqueles que ela permitia transcorrer por ele. Mas ainda assim, algo havia fugido do seu controle, ele avisara que partiria essa noite, mas como ela mesma disse aos gritos diversas vezes, o problema não era ele estar indo embora, nem ao menos o vazio que ela teria que enfrentar, ou o martírio que o medo da solidão lhe traria, ela só queria um motivo. As últimas palavras daquele homem que ela tanto amava foram responsáveis por uma angustia que ela levaria mais do que alguns dias, alguns livros, alguns filmes e vinhos para esquecer. O ópio habitual não seria suficiente. Ela esperava que os finais seguissem sempre o mesmo roteiro : duas ou três frases frias ou sarcásticas, reclamações explicativas em forma de pretexto, e o adeus. Mas ele não permitiu que ela ditasse as regras até o fim, segurou-a contra a parede, calou-a com seu ultimo beijo, deslizou seus dedos pelos cabelos dela delicadamente pela ultima vez, passou suas mãos pelo rosto dela, que nesse momento já estava umedecido por duas ou três lágrimas, e por alguns instantes se reportou ao primeiro encontro que tiveram, e notou que a pele ainda possuía a mesma suavidade, observou-a ... notou que estava mais bela do que nunca. Ela só lhe pediu um motivo, não que esperasse que ele não fosse, esse era um dos tantos motivos que fazia ela o amar tanto, ele não tomava decisões irrefletidas. E sem nenhuma crueldade ou ironias, ele listou as qualidades dela de forma impecável, suas palavras exprimiam a mesma doçura de sempre, dizia não haver motivos, simplesmente sentiu que aquele era o momento de partir. Por que ele estava partindo? Era tudo o que se podia escutar entre o choro e os soluços ... Ele havia profanado o ritual de partida.

domingo, 20 de janeiro de 2008

O ambiente estava favorável para que ela se sentisse segura, a música adentrava seus ouvidos meigamente de forma quase imperceptível, o som havia sido minuciosamente preparado para confortá-la de deixá-la leve, o espaço fora escolhido de maneira que a manteria estrategicamente afastada de qualquer interrupção brusca, ele já sabia o quão frágil e vulnerável a sustos ela havia se tornado, nada indesejado ocuparia seu campo visual – como ela mesma costumava dizer – ela não escondeu seu riso ao perceber que aquelas cores só se faziam presentes porque a deixaria feliz, no fundo ela sabia que ele se sentiria muito mais seguro se as rosas fossem vermelhas – ele não compreendia como ela podia preferir as brancas. Na sua busca por informações, descobriu o quanto ela gostava de espelhos, e lá estavam eles por todos os lados, ela dizia que não era narcisismo, mas fazia o ambiente se tornar familiar, caso se sentisse angustiada poderia avistar sua própria imagem – ela sempre ria de si e analisava suas expressões faciais depois que algo inesperado que lhe causava emoções incontroláveis ao seu tão precioso bom senso acontecia . Em cada passo que ela dava percebia como ele havia assimilado bem suas palavras – e como suas mãos lhe foram gratas quando sentiram a maciez das inúmeras almofadas que ele colocara no sofá ,organizadas por cores e tamanho – ela sempre temia em pensar o que fazer com as mãos, tinha medo de que elas falassem algo inadequado, algumas leituras a respeito de linguagem corporal a deixou ainda mais cheia de paranóias. Ele deixou que ela decidisse a distancia entre eles, não conseguia compreender porque estava agindo daquela forma, depois de sentir o calor de tantos corpos e tê-los sob seu controle, tudo o que ele desejava agora é que ela escolhesse estar entre seus braços. Ela, com sua insegurança, bem provável que proveniente de sua imaturidade, se manteve um pouco distante, teve medo que ele percebesse que sua respiração ainda estava ofegante, ele por sua vez não deixou de notar, apesar de ter cogitado a possibilidade de ser efeito da subida das escadas, tinha medo da responsabilidade que sentiria se admitisse o quanto a desconcertava. A doçura com que ele a olhava a deixou incompreensivelmente segura, tomou para si as mãos dele, ele sorriu ao perceber o quanto um simples gesto havia exigido dela. Ficaram sem pronunciar uma palavra, nem um dos dois teve a audácia de correr o risco de estragar tudo com palavras, tudo era novo demais para ser dito.

Mantiveram as mãos e os olhos unidos, e apesar da incredulidade que compartilhavam, rezaram para que aquela noite fosse eterna. Ela não conseguiu resistir, os sentimentos estavam transbordando de tal forma que seria injusto demais não usar todas as maneiras que detinha para expressá-lo. Docemente pediu:

- Permite que eu viva nesses olhos?

sábado, 19 de janeiro de 2008

Talvez o pecado dela tenha sido perder o interesse...
Ela que sempre havia sido tão aplicada na arte de conhecer e deliciar-se com as descobertas que o mundo lhe proporcionava, em um súbito instante, descobre que nada poderia ser mais aconchegante e lhe dedicar mais afeto, do que os seus travesseiros e seus lençóis sem estampa, dentro de si havia um conforto seguro, um amor sem duvida, que não necessitava que constantes conquistas, ela não teria mais que se confundir com cheiros e gostos, poderia se tornar neutra assim como as cores - tão criticadas - que ela sempre preferiu, mas abdicou em prol de outras sensações (e como ela se sentia livre e limpa na presença delas), foi como se essas cores tão sem graça e sem emoção – assim como ela – criassem vida, e lhe desse um abraço forte jurando que sempre a protegeria.
...o único esforço que ela teria que fazer era continuar sendo...

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Foram tantas interrogações, exclamações e reticências...
...cansei
de fazer amor com as palavras.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Estou exausta de construir e demolir fantasias. Não quero me encantar com ninguém.


eles estavam certos...

...excesso de glicose não preenche determinados vazios.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Pensas mesmo que torna tua existência poética pelo simples fato de articular bem as palavras ? ... no fim só resta o tédio ou o caos, meu bem, toda essa beleza é descartável ...
Existir é mera vulgaridade.
Não, meu bem, não adianta bancar o distante
lá vem o amor nos dilacerar de novo...

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

"Produz-se então uma antítese terrível entre a profusão tropical da vida exterior e a negra esterelidade do túmulo. Nossos olhos vêem o verão, nosso pensamento visita o túmulo; a gloriosa claridade está ao nosso redor e em nós estão as trevas. E essas duas imagens, entrando em colisão, emprestam-se reciprocamente uma força exagerada"

Baudelaire, Paraísos artificiais.
Será que esses projetos mal desenvolvidos de "super homem" não notam a vulgaridade que é a existência, ou estariam tão ocupados com feitos e conquistas efêmeras para não se dar conta ?