“Ainda não te conheço
Desejo esse que distante padeço
Um coração aberto e livre
Apto a se encontrar com intimidades novas
Oculta-se em sua vontade mais nobre
Somente quem for digno retira a espada
“não se cansem de arriscar”
Grita em prol de uma vida que passa
“não se cansem de enamorar-se”
Clama em prol de um sentimento inquieto
Então a vida não se resolve em querer qualquer
Queira mesmo
Em prol de uma coragem não cotidiana”
[ps: eu não poderia deixar isso se perder]
domingo, 24 de outubro de 2010
Do esperar na poesia...
Tudo que tende a desfazer-se
Refaz-se em poesia
Essa beleza que foge
Esse romantismo idealizado
Ora dormindo, ora acordado...
[Sempre com poucos recursos reais e mal fundamentados]
Que de tantos elementos acoplados
Ora sucumbe
Ora explode
Essa busca desmedida
...pelas ilusões
Ora abandonadas pelo caminho
Ora substituídas
Ora com fortes requintes de crueldade: perdidas
Esse pensar-se a todo tempo
Essa tentativa de gentificar-se
Ahhh! Faça-se a poesia!
Refaz-se em poesia
Essa beleza que foge
Esse romantismo idealizado
Ora dormindo, ora acordado...
[Sempre com poucos recursos reais e mal fundamentados]
Que de tantos elementos acoplados
Ora sucumbe
Ora explode
Essa busca desmedida
...pelas ilusões
Ora abandonadas pelo caminho
Ora substituídas
Ora com fortes requintes de crueldade: perdidas
Esse pensar-se a todo tempo
Essa tentativa de gentificar-se
Ahhh! Faça-se a poesia!
sábado, 23 de outubro de 2010
Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
nem na polpa dos meu
dedos
se ter formado o afago
sem termos sido a cidade
nem termos rasgado pedras
sem descobrirmos a cor
nem o interior da erva
Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
minha raiva
de ternura
meu ódio de conhecer-te
minha alegria profunda
Maria Tereza Horta
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
James Tissot - Young Lady in a Boat
distinguir
memória de imaginação.
Lembro-me de coisas que nunca aconteceram
e recupero cenas que jamais vivi.
Quando ouço coisas que dizem
que fiz, que vi e vivi
então é um meigo espanto.
Está difícil compatibilizar as fotos
com as versões dos fatos
que eu pensei ou fiz.
Acho que inventei
também o meu país.
Affonso Romano de Sant'Anna
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
Do fado dos contemplativos...
Ser
Ver
Ser a pessoa Vendo
Ver a pessoa Sendo
Ser visto Vendo pela pessoa Sendo
Vimo-nos!
...mas não vivemo-nos
Do permitir-se... [ou deixar-se sentir]
Deixe que hoje eu usufrua irrestritamente o amargor do meu tormento
Já que o amanhã condena tudo com a claridade branda que encaminha-nos ao esquecimento
Que então, por meio de meus pensamentos
Eu vague em companhia da poeira leve e sem rumo que movimenta-se com o vento
Eu vague em companhia da poeira leve e sem rumo que movimenta-se com o vento
Minha cara, Hilda...
Ama-me. É tempo ainda. Interroga-me.
E eu te direi que o nosso tempo é agora.
Esplêndida altivez, vasta ventura
Porque é mais vasto o sonho que elabora
Há tanto tempo sua própria tessitura.
Ama-me. Embora eu te pareça
Demasiado intensa. E de aspereza.
E transitória se tu me repensas.
Hilda Hilst
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
De manhã eu sei que o sol vai morrer
depois das dezoito horas.
Mas não me apavoro.
Ele pode morrer antes, se quiser.
Há muito tempo que a minha vida é uma sucessão de expectativas.
Nenhuma delas realizada.
Por isso espero o sol morrer depois das dezoito horas
e ele morre.
Uma tarde, quando o sol era uma estrela cadente,
eu pedi para uma bailarina nascer no lugar da lua.
Mas não nasceu.
Primeiro porque nenhuma bailarina vai nascer no lugar da lua.
Depois porque, se nascesse, não seria uma bailarina.
Mas uma deusa. Eu ri. Não porque fosse impossível
uma deusa nascer no lugar da lua.
Mas porque as deusas não nascem mais.
Elas se afogaram nos Lusíadas e nunca mais emergiram.
Estão lá, no fundo de um poema,
presas às barbas e aos cabelos de Netuno.
Camões que o diga. Ele que teceu
os raios de luar no rosto de Netuno
e deu-lhe o nome de Vasco da Gama.
Natalício Barroso
Vai tudo dormir...
Fico sozinho com o universo inteiro.
Não quero ir à janela:
Se eu olhar, que de estrelas!
Que grandes silêncios maiores há no alto!
Que céu anticitadino! —
Antes, recluso,
Num desejo de não ser recluso,
Escuto ansiosamente os ruídos da rua...
Um automóvel — demasiado rápido! —
Os duplos passos em conversa falam-me...
O som de um portão que se fecha brusco dóí-me...
Vai tudo dormir...
Só eu velo, sonolentamente escutando,
Esperando
Qualquer coisa antes que durma...
Qualquer coisa.
Alvaro de Campos
terça-feira, 19 de outubro de 2010
"(...)
e o chão me faltou:
vertigens
Corri para um piso/pouso seguro
a poesia,
meu inutensílio favorito
depois da psicanálise
Só elas me aprumam
me rumam
me fumam
até que só fique a guimba,
o bagaço
até que só reste um traço
como na tela, o eletro de um morto
um porto,
onde a alma ancora
e o corpo é que vai embora"
e o chão me faltou:
vertigens
Corri para um piso/pouso seguro
a poesia,
meu inutensílio favorito
depois da psicanálise
Só elas me aprumam
me rumam
me fumam
até que só fique a guimba,
o bagaço
até que só reste um traço
como na tela, o eletro de um morto
um porto,
onde a alma ancora
e o corpo é que vai embora"
Ana Guimarães
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