quarta-feira, 30 de junho de 2010

Roubaram a minha calma

... e me deixaram em troca quantidades de sono excessivas
Tenho ansia de vida pela falta de calma

...e desenvolvo o desespero pela falta de coragem trazida pelo sono
Quero que a vida venha até mim

...há pouca habilidade prática em meus atos para buscá-la

Mãos fortes e precisas oprimem meu grito

...algo sufoca, me atravessa a garganta



Esse grito não efetuado ensurdece os ouvidos da alma.....
"É preciso abraçar a volúpia
Fartar-se de prazeres
Não ter medo da morte"

Goethe

DESENCANTO



Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre.


Manuel Bandeira

terça-feira, 29 de junho de 2010


Tudo sempre meticulosamente fabricado:

A calma
A tranqüilidade
A serenidade

Fabricam-se todas as necessidades

Fazemo-nos quantos for necessário

E em meio a toda essa multiplicidade
Sufocamos!

Não tenho feito muito sentido
Mas muito tenho sentido

Pouco se sabe quando não se faz sentido
Mas muito se sente quando pouco se sabe

As limitações são sempre inevitáveis!
E os sentidos são infindos!
Não quero me perder por entre os rastros da poeira dos dias.

Mas o que resta da vida além da poeira dos dias?
O que resta de nós além da poeira dos dias?

[E o que resta de mim além de uma série de perguntas que pouco sentido fazem aos meus interlocutores?]
De onde pode ter saído esse desejo insensato por tais circunstancias, as quais nunca fizeram parte efetiva do meu cotidiano? Por que esse encantamento por essa realidade inventada? Seriam apenas válvulas de escape para ludibriar o meu bom gosto da triste e decadente realidade das minhas reais circunstâncias?

Todos os elementos que compõem esse espaço são demasiadamente feios e desagradáveis. Sim, simplório assim como soa, banal como pode vos parecer. Demasiadamente feio, minhas corriqueirices apenas inflam meu arsenal gigantesco de descontentamento, essas cores destoantes, pessoas destoantes (eu destoante?)...

Na pior (e última e única) das hipóteses, ao menos eu poderia de estar ouvindo Claudette Soares, tomando um vinho barato em uma taça barata na companhia de pessoas indiscutivelmente baratas.
Os perdidos! Sempre me interessaram os perdidos, principalmente os perdidos que não sabem de sua situação. Esses são os perdidos mais encantadores!
(E fazem falta os perdidos que deixei nos meus descuidos pelo caminho).

As pessoas encontradas são cansativas e desencantadas, essas pessoas caras me afetam negativa e traumaticamente...




Céus!
A tanto estamos fadados!
Tantos são os percalços inevitáveis.
Tantas são as fraturas irreparáveis.
Tantos são os desagrados,
os desafetos,
os desatinos
descaminhos.
Tantos...
Incontáveis...
Mesmo na pasta cotidiana,
mesmo nas ações irrefletidas,
Sempre restam vestígios de certa angustia.
Sempre o desagradável imperando.
Sempre um desconforto leve trazendo sensações bruscas de que a vida não tem jeito.
O fato é que se teme o erro,
não exatamente pela falta de tempo,
e do provável atraso que os erros proporcionam,
mas pelo seu caráter dilacerante.
Os erros são dilacerantes,
deixam a carne exposta,
os erros beliscam para não serem esquecidos
...e deixam hematomas incuráveis,
qualquer momento em que se contemple,
ou que se busque contemplar a própria imagem,
lá estarão as marcas estéticas e emocionalmente depreciáveis do erro,
das escolhas equivocadas,
dos tropeços bruscos arrancadores de cabeças de dedão...
Lá estará aquela dor latejando,
[ dor esta que ainda não foi possível encontrar analgésico suficientemente potente para detê-la.]
Nada poderia.
Nada teria a eficiência necessária.
Nada seria capaz de devolver a limpidez da ausência dos primeiros erros...
Nada,
...em absoluto,
nada poderia ser capaz de proporcionar alívio, alento,
está-se fadado.
F-A-D-A-D-O.
[Toda aquela sensibilidade aflorada não traria respostas
As respostas não viriam dessa maneira:
aflorada,
brusca,
desesperada
... isso já era de conhecimento prévio,
Contudo, o que traria as respostas?
Quais elementos seriam necessários acrescentar para que algo esclarecedor ocupasse essa lacuna obscura e pouco explorada que é o campo das possibilidades?]

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Maldita vida moderna
Tolos preceitos norteadores de nossa existência

Somos todos fadados ao conflitante paradoxo que permeia a medíocre cotidianidade: Administrar as múltiplas e intermináveis tarefas
num tempo que parece estar sempre escapando,
e em contrapartida,
não morrer do tédio
que eterniza as horas vazias

'E eu me sinto oco
de paixão e de música.
Louco relógio que canta
mortas horas antigas.
Eu pronuncio teu nome,
nesta noite escura,
e teu nome me soa
mais distante que nunca
.
Mais distante que todas as estrelas
e mais dolente que a mansa chuva.
Amar-te-ei como então
alguma vez? Que culpa
tem meu coração?
Se a névoa se esfuma,
que outra paixão me espera?
Será tranqüila e pura?
Se meus dedos pudessem
desfolhar a lua'


Federico García Lorca

Caio faz doer... ou seria a vida que faz doer?

" Uma pessoa quando tá longe vive coisas que não te comunica e tu aqui vive coisas que não comunica a ela. Então vocês vão se distanciando e quando vocês se encontram, vocês vão falar assim: 'oi, tudo bom e tal, como é que vão as coisas?' E aí ele vai te falar por cima de tudo o que ele viveu e, não sei, vai ser uma proximidade distante. Não adianta, no momento que as pessoas se afastam elas estão irremediavelmente perdidas uma pra outra... "

Caio F.Abreu


'Eu sei dizer sem pudor que o escuro me ilumina'


Manoel de Barros
Negligenciando as possibilidades
Negando a riqueza imensurável dos sentidos
Negociamos a indução de nossa sensibilidade

Fizemo-nos escrita em detrimento da escuta...
Circunstancialmente bucólicas
Karmicamente melancólicas
Induzidamente alcoólicas

Eis o fardo de nossas últimas íntimas palavras...

Armando Freitas

quarta-feira, 23 de junho de 2010

'Seja o que for, era melhor não ter nascido,
Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,
A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair
Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas,

(...)

Cruzo os braços sobre a mesa, ponho a cabeça sobre os braços,
É preciso querer chorar, mas não sei ir buscar as lágrimas...
Por mais que me esforce por ter uma grande pena de mim, não choro,
Tenho a alma rachada sob o indicador curvo que lhe toca...
Que há de ser de mim? Que há de ser de mim?

(...)

Oh mágoa imensa do mundo, o que falta é agir...
Tão decadente, tão decadente, tão decadente...
Só estou bem quando ouço música, e nem então.
Jardins do século dezoito antes de 89,
Onde estais vós, que eu quero chorar de qualquer maneira?
Como um bálsamo que não consola senão pela idéia de que é um bálsamo,
A tarde de hoje e de todos os dias pouco a pouco, monótona, cai.
Acenderam as luzes, cai a noite, a vida substitui-se.
Seja de que maneira for, é preciso continuar a viver.
Arde-me a alma como se fosse uma mão, fisicamente.
Estou no caminho de todos e esbarram comigo.'

(...)

Álvaro de Campos

Sorrio do conhecimento antecipado da coisa-nenhuma que serei.
Sorrio ao menos; sempre é alguma coisa o sorrir...
Produtos românticos, nós todos...
E se não fôssemos produtos românticos, se calhar não seríamos nada.


Álvaro de Campos

Caio Fernando Abreu - Ovelhas Negras


“Vem, que eu quero te mostrar o papel cheio de rosas nas paredes do meu novo quarto, no último andar, de onde se pode ver pela pequena janela a torre de uma igreja. Quero te conduzir pela mão pelas escadas dos quatro andares com uma vela roxa iluminando o caminho para te mostrar as plumas roubadas no vaso de cerâmica, até abrir a janela para que entre o vento frio e sempre um pouco sujo desta cidade. Vem, para subirmos no telhado e, lá do alto, nosso olhar consiga ultrapassar a torre da igreja para encontrar os horizontes que nunca se vêem, nesta cidade onde estamos presos e livres, soltos e amarrados. Quero controlar nervoso orelógio, mil vezes por minuto, antes de ouvir o ranger dos teus sapatos amarelos sobre a madeira dos degraus e então levantar brusco para abrir a porta, construindo no rosto um ar natural e vagamente ocupado, como se tivesse sido interrompido em meio a qualquer coisa não muito importante, mas que você me sentisse um pouco distante e tivesse pressa em me chamar outra vez para perto, para baixo ou para cima, não sei, e então você ensaiasse um gesto feito um toque para chegar mais perto, apenas para chegar mais perto, um pouco mais perto de mim. Então quero que você venha para deitar comigo no meu quarto novo, para ver minha paisagem além da janela, que agora é outra, quero inaugurar meu novo estar-dentro de- mim ao teu lado, aqui, sob este teto curvo e quebrado, entre estas paredes cobertas de guirlandas de rosas desbotadas. Vem para que eu possa acender incenso do Nepal, velas da Suécia na beira- da da janela, fechar charos de haxixe marroquino, abrir armários, mostrar fotografias, contar dos meus muitos ou poucos passados, futuros possíveis ou presentes impossíveis, dos meus muitos ou nenhuns eus. Vem para que eu possa recuperar sorrisos, pintar teu olho escuro, salpicar tua cara com purpurina dourada, rezar, gritar, cantar, fazer qualquer coisa, desde que você venha, para que meu coração não permaneça esse poço frio sem lua refletida. Porque nada mais sou além de chamar você agora, porque tenho medo e estou sozinho, porque não tenho medo e não estou sozinho, porque não, porque sim, vem e me leva outra vez para aquele país distante onde as coisas eram tão reais e um pouco assustadoras dentro da sua ameaça constante, mas onde existeum verde imaginado, encantado, perdido. Vem, então, e me leva de volta para o lado de lá do oceano de onde viemos os dois.”


Estômago da alma alvorotado de eu ser...

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Eu me vi falando,[Por alguns segundos fiz-me duas para ver aquela metade a dizer tantas coisas desvairadamente] fato este que só ocorria quando o desespero fazia-se presente da forma mais intensa e absurdamente incontrolável, e na impossibilidade de gritar, eu falava, verborragias baratas chulas e dispensáveis misturadas com as mais duras verdades que até mesmo eu, em momentos de desvairos, temia proferir.

Eu falava em demasia apenas nesses momentos, minha presença sempre fez-se em silêncio e dúvida, eu nunca me fiz clara e transparente, por mera omissão ou falta de habilidade em expor-se[ não que eu não me soubesse, ou não me sentisse existindo suficientemente].

Agora, não sei ao certo as motivações, não sei ao certo por quando tempo irá durar essa efusividade de palavras soltas e muitas vezes desconexas, sinto-me liberta das amarras que reprimiam minhas palavras e as deixavam fluir apenas em meio aos surtos.
Hoje me saboto, dou tiros verbais nos próprios pés... mas não poderia dizer que isso é de todo inconveniente... [Ei de saber um dia]
"Tenho que escolher o que detesto - ou o sonho, que a minha inteligência odeia, ou a ação, que a minha sensibilidade repugna; ou a ação, para que não nasci, ou o sonho, para que ninguém nasceu.
Resulta que, como detesto ambos, não escolho nenhum; mas, como hei de, em certa ocasião, ou sonhar ou agir, misturo uma coisa com outra." (Bernardo Soares)
A mentira, a mentira perfeita, acerca das pessoas que conhecemos, sobre as relações que com elas tivemos, sobre o nosso móbil em determinada acção formulado por nós de uma forma completamente diferente, a mentira acerca do que somos, acerca do que amamos, acerca do que sentimos pela criatura que nos ama e que julga ter-nos tornado semelhante a ela porque passa o dia a beijar-nos, essa mentira é das únicas coisas no mundo que nos pode abrir perspectivas sobre algo de novo, de desconhecido, que pode abrir em nós sentidos adormecidos para a contemplação do universo que nunca teríamos conhecido.

Marcel Proust, A Prisioneira


"Eu quero um colo, um berço, um braço quente em torno ao meu pescoço, uma voz que cante baixo e pareça querer me fazer chorar. Eu quero um calor no inverno, um extravio morno de minha consciência e depois sem som, um sonho calmo, um espaço enorme, como a lua rodando entre as estrelas..."




O Livro do Desassossego
"Sermões e lógicas jamais convencem;
O peso da noite cala bem mais
Fundo em minha alma. "

Walt Whitman

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Caio... Caio...

[...coisas inexplicáveis, carências incuráveis...
Ninguém acredita, mas eu sou uma pessoa muito sozinha.
Não pense que isso é ruim não,
porque ruim é não sentir nada,
a solidão faz parte.
Tenho sentido uma vontade sobrenatural
de ligar para alguém que já não me atenderia mais,
tenho vontade de dizer que faz falta o que não vivi. ]
"Ora veja... é o que sempre acontece às pessoas românticas: enfeitam uma criatura, até o último momento, com penas de pavão, e não querem ver, nela, senão o que é bom, muito embora sentindo tudo ao contrário.
Jamais querem, antecipadamente, dar às coisas o seu devido nome.
Essa simples ideia lhes parece insuportável.
A verdade, repelem-na com todas as forças, até o momento em que aquela pessoa, engalanada por elas próprias, lhes mete um murro na cara."

in Crime e Castigo.
As coisas se perdem,
simplesmente desaparecem,
simplório desinteressante e sem nenhum requinte, assim como vos parece

as bases vão ruindo gradativamente,
escapam pelos vãos dos dedos,
vão esvaindo aos poucos

...até não mais estarem presente,

até não ser mais possível referenciar-se,
um vazio pleno faz-se embaixo dos pés

...e vaga-se,

sem nenhuma firmeza,
sem nenhuma estrutura...



[Eu queria ser uma ilha]

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Pois é, Caio, por quê?

"Por que, na segunda-feira, eles (nós) não revelam a carência do fim de semana e se dizem coisas duras?"

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Proporcione-me a sensação de poder estar desencontrada em meio à estranheza da existência.
Que adentre frio pela janela e petrifique meus anseios incansáveis;
Chopin pelos meus ouvidos distraindo os meus fantasmas e assombros persistentes;
Vinho pelos meus lábios deixando minhas angustias ébrias livremente imorais e profanadoras das minhas lamúrias injuriosas;
Que o desalento me dê um abraço forte ao ponto de esfacelar os ossos para que eu possa prostrar-me sobre uma superfície macia absolutamente resignada,
absolutamente entregue,
dispersa,
vagando vagarosamente na superfície,
totalmente vazia,
totalmente rasa,
insustentavelmente leve...