Havia apenas uma certeza em sua mente: não iria mais proceder da mesma forma! era definitivo, nada faria com que ela mudasse de idéia, afinal, depois de ter cometido o mesmo erro tantas vezes seguidas sem refletir por nenhum segundo, de fato não teria como não ter criado alguma resistencia, ainda mais quando se tratava dele, que pouco a motivava sentimentalmente, mas que sempre a convencia com sua argumentação bem pouco coerente e articulada, contudo, dessa vez ela estava preparada, ele não a convenceria.
Como era de se esperar, a situação estava ocorrendo assim como ela imaginou, e no momento exato, exatamente na hora em que ela havia suposto, eis que ele aparece, o semblante de sempre, aquele ar transmitindo a impressão de que haviam se visto apenas a poucas horas e que ele estava sendo esperado, em outras situações isso já havia lhe causado uma certa irritação, mas agora não lhe provocava nenhum sentimento negativo, o que ela sentia era uma profunda satisfação por estar certa de que dessa vez os planos dele seriam frustrados.
Cheia de si ela foi até onde ele estava e deixou que ele falasse, ela se limitava apenas a responder o que ele perguntava, e eis que surge a proposta, como sempre, nada inovador, ela não compreendia como foi capaz de perder tanto tempo com um humano que a fez ler um livro de micro história, e que tinha em mente apenas programas detestáveis em lugares e com pessoas igualmente detestáveis.
Surtou por alguns segundos e começou repetir baixinho para si: "Ah, então foi pra ele que eu dei meu coração e tanto sofri? Amor é falta de QI, tenho cada vez mais certeza". Apesar de nem ao menos ter chegado a amá-lo, ela sempre se feria por seu excesso de sentimentalismo em todo relacionamento que se envolvia.
Voltou a si. Perguntou a ele se recordava quanto tempo não se encontravam, riu descaradamente na cara dele com o ar mais debochado que encontrou ao ouvi-lo dizer que deviam fazer umas três semanas, e aproveitou para dar um de seus conselhos sarcásticos de que ele deveria levar mais a sério a multidisciplinariedade, a História deve ter deteriorado o senso numérico dele, ou ele realmente pensou que a enganaria? afinal, confundir dois meses com três semanas não é algo tão comum de acontecer, não dava para relevar mais uma de suas tolices.
No fundo o que ela queria era encontrar uma forma categorica de mandá-lo para o inferno, não poderia abrir mão de sua sutileza por tamanha insignificancia, ela poderia passar muito tempo desinflando o ego e destruindo-o com seu imenso arsenal de ofensas travestidas de eufemismos, mas não, isso prolongaria a presença dele, e quanto maior fosse o periodo em que ela passasse falando, ele se sentiria no direito de usar a mesma proporção de tempo com explicações, e não era isso que ela desejava... se limitou a mandá-lo embora e dizer que não era mais bem vindo em sua vida... (se livrara de mais um 'fantasma').