domingo, 30 de novembro de 2008

Quando você vai embora de nós
o pronome parte-se ao meio
você diz que só leva o s
e o que adianta?
se comigo sobra o nó
na garganta.
Então, quando você me beijar,
vai sentir o gosto da minha escrita,
pois a fim de nunca esquecê-las
eu trago todas as minhas palavras
na ponta da língua.

sábado, 29 de novembro de 2008

... as luzes apagadas poupavam meus olhos da efusividade das cores, seria uma afronta qualquer objeto ao meu redor possuir algum brilho enquanto tudo que parte de mim é fosco e opaco. pensei em acender um cigarro, mas frustrantemente lembrei que não fumo. quis me embriagar. contudo. o senso de responsabilidade me fez recordar das atribuições a mim conferidas para o dia seguinte. esperei que o telefone tocasse. não. ele não tocou. colho a solidão do silêncio do telefone. do silêncio da sua voz. a noite prossegue seu percurso. tenho apenas a insônia como companheira fiel.

Só por hoje queria ter aquela voz suave novamente me dizendo:
- "Uma rosa para deixar seu dia mais bucólico"
- "Um livro para sua alma impulsiva serenar"
Hoje quero me nutrir de toda melancolia que tenho ao meu alcance, vou esquecer o quão patética e monotona é a minha vida, e sofrer junto e com a intensidade do drama dos que realmente usufruem de suas existências.
Vou esquecer que meu coração não está partido, que ninguém foi embora e que tudo em mim é extremamente convencional a ponto de eu ser quase invisivel.
Hoje eu quero apreciar a fossa, como se minha vida pudesse servir de inspiração para um blues, quero acreditar que tudo está perdido, que existe alguém que foi embora para nunca mais voltar, e que minha ressaca moral será eterna.
"Podia esperar de qualquer um essa fuga, esse fechamento. Mas não de você, se sempre foram de ternura nossos encontros e mesmo nossos desencontros não pesavam, e se lúcidos nos reconhecíamos precários, carentes, incompletos. Meras tentativas, nós. Mas doces. Por que então assim tão de repente e duro, por que?"
- Caio Fernando Abreu

sábado, 22 de novembro de 2008

Meu prazer está nas festas literárias, onde minha vaidade consiste em, antes e sair, ir ao dicionário retocar o verbo..

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Não há puritanismo, moralismo, cristianismo capaz de esconder a volúpia que salta dos olhos (...)
O processo criativo continua bloqueado, mas o desejo de expressar se desenvolve a cada dia, é uma evolução crescente e gradativa, creio que um surto, que certamente virá em breve, trará a luz uma imensidão de algo ainda não identificável, mas que já aponta a serenidade e o brilho leve que trará a calmaria plena para o que entendo por alma.
Que seja firmado na inconsequência, que as bases não se sustentem por muito tempo... Quero o efêmero, a fragilidade de um castelo de areia, e a profundidade da ternura das coisas findas.
Interno, inteiro, intenso.. sinto por si só, as influências externas são meros agravantes... Deixo que os objetos idealizados tenham a autonomia de se enquadrarem (ou não) em minhas definições.

Amante dos leitores de entrelinhas!
Os humanos são detestavelmente previsíveis, prezam por tolas banalidades e supervalorizam as mais fúteis superficialidades. Vivem presos a preceitos inexistentes, não ousam, não extrapolam, seguem a risca o roteiro que recebem de mentes doentias e controladoras, deixam de viver para preservar valores invisíveis e deixam escapar das suas possibilidades o prazer do que lhes pode ser palpável.
Quão terrível é a sua limitação!

domingo, 16 de novembro de 2008

Pior do que idealizar algo, é encontrar um objeto correspondente a suas idealizações e se ver inapto para usufruto do mesmo.
(Não se trata de reflexões de cunho conservador, retrogrado, arcaico, ultrapassado, desatualizado, é apenas a manifestação em prol dos sentimentos genuínos).
Em meio a tanta vulgaridade, as coisas perdem o sentido estrito que antes lhes eram atribuidos. E enquanto uns forjam amizades, outros forjam amores.
Seriam todos hipócritas, ou estariam simplesmente se adaptando ao contexto?
O problema é que só tenho o caos, não me foi dado o potencial criador. E caos, meramente caos, só resulta em desordem, sem cor, sem som e sem palavras meticulosamente alinhadas.
(a vida me veio como um soco na cara. nenhum rompante de bom senso me impede o furor de revidar)
nada além de palavras
unidas por um conjunto de sutilezas,
uma tramóia confortável,
uma cultura de palavras
muito elegantes e cuidadosas