'Se a vida é o acaso e talvez, por acaso, seja mesmo; se tudo pode mudar de um minuto pra outro e tudo muda mesmo, que vale, então, tudo? Ou, se, por outro lado, a vida é o acaso e se, por acaso, as coisas não mudam, nem de um minuto pra outro nem de um dia pra outro e à noite, todos estarão lá, nos mesmos postos, como se o sol não tivesse ardido e não tivesse se posto, e eu também passarei por lá, à mesma hora, com a mesma sensação e os mesmos pensamentos, por que, então, me deixar tomar por tanta dor? Entender, pensar, concluir – velho hábito das provas escolares: justifique – e eu justificava tudo o que podia, tudo o que sabia, e até o que não sabia, só para garantir o dez, e agora, o justifique se repetindo, como prova de maturidade: pense, entenda, aceite-se, justifique, “justifique-se”. Justificar a vida, a miséria, a morte, o amor, o desamor…- como?'
Do conto “Por Acaso”, de Nilza Rezende.
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