sexta-feira, 12 de março de 2010

Saudações, querida amiga!
Dirigir-me a ti já proporciona certo conforto incomparável.

Como pode perceber, até as manifestações mais frias, providas de teor genuíno, tem me causado comoções. Como era de se esperar, minha inteligência emocional foi deglutida, estou irreparavelmente exposta nas minhas fraquezas.
Contudo, deves imaginar que nem tamanha desolação seria capaz de diluir meu infindável ego, apesar das suas constantes manifestações com conotações poeticamente autodestrutivas, tenho sido capaz de manter sua sutil altivez, mesmo ficando sempre evidente o sentido de proteção.

Essa é uma daquelas horas em que me sinto a reencarnação de Augusto dos Anjos, nada poderia me expressar melhor do que as suas máximas, e nesse momento, posso dizer com a sinceridade mais dolorida que sou “a mais hedionda generalização do desconforto”.

Sabe aquela sensação de quando estamos com alguma peça de roupa furada em localidades estratégicas, ou quando nos sujamos ou molhamos em ocasiões inconvenientes, e há apenas duas possibilidades de olhares a serem voltados a nós, expressando ou aquela satisfação cômica que só a tragédia alheia pode despertar, ou aquela piedade altruísta que só desgraça manifesta inspira? Pois bem, são as duas facetas da minha degeneração emocional. Preciso identificar onde está a minha mancha, qual marca tem voltado olhos tão depreciativos para minha direção.

Andei ouvindo Oswaldo Montenegro para poder lembrar-se de ti, de nós, e de tudo o que compunha o nosso interminável vazio existencial, mas preciso confessar que não tenho mais estomago para Engenheiros do Hawaii, e Caio Fernando Abreu ainda me apetece!

Foi tão incrivelmente perfeita a fusão de todas as nossas erroneidades, éramos uma junção catastroficamente perfeita, com potencial infindo para o próprio extermínio, nem a sensatez que fazia parte constituinte de mim, e que supomos por muito tempo estar estocado o suficiente para ambas, era capaz de limitar nossos pensamentos ingênuos, mas absolutamente maquiavélico. Nossa contrariedade se desdobrava em todos os departamentos, podíamos ter sido ótimas caso tivéssemos insistido nas nossas excentricidades, ou poderíamos ter chegado ao tão almejado ‘não ser’.

Hoje somos aquilo que pensávamos ser impossível, separadamente, somos sós, eu poderia dizer “estamos” ao invés de “somos”, poderia dar um sentido mais esperançoso, poderia ser o eufemismo da nossa descontinuidade, mas a irreversibilidade é fatídica, somos agora uma sem a outra, o que pensávamos ser improvável, hoje faz-se fato, irrefutável, e ninguém mais vai entender quando eu disser que quero cortar meus pulsos, ninguém vai entender quando for necessário sentar na praça para contemplar a indigência, sem nenhuma comoção.

Não é mais preciso camuflar o cheiro do cigarro com artifícios claramente ineficientes, não é mais preciso as inúmeras super faturas, as intermináveis e aprisionantes mentiras que terceiros exigiam de nós, justo agora que já não somos, ou que ainda somos, mas sem estarmos, justo agora, é lamentável já não sermos!

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