"Esse espaço branco entre dois encontros pode esmagar completamente uma pessoa. Por isso eu acho que a gente se engana, às vezes. Aparece uma pessoa qualquer e então tu vai e inventa uma coisa que na realidade não é. E tu vai vivendo aquilo, porque não agüenta o fato de estar sozinho."
sábado, 30 de janeiro de 2010
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
O tempo piorou. Talvez eu pensasse isso porque estava escurecendo e o sol já não trazia sequer o pouco calor ao campo. Examinei o quanto aquela situação era desesperadora, percebi até onde minha leitura havia me levado. Talvez caia a noite e sejamos esquecidos. Não é isso que significa estar vivo? Surge a luz, cai a escuridão, e você é esquecido. Substituído. Seus amigos encontram outros amigos. Afinal, eles também tem de viver. A natureza da amizade: a substância mais forte e brilhante do mundo.
É preciso observar os fatos e planejar a sobrevivência, porque ninguém mais o fará, isto é certo. Levante todas as bandeiras que puder, esconda-se sob elas e não mostre a cara ao mundo. Concorde com todos. Fale todas as línguas e, ao mesmo tempo, nenhuma. Aprenda a ser invisível. Não defenda nenhuma causa. Viva sob pedaços de papelão dentro dos túneis e respire um ar secreto, que se ferre o doce mundo do romantismo. Ferrem-se todos, eles podem ir para o inferno. Meus amigos me deixaram totalmente sozinho e não se importaram. Sobrevivi, contudo. Não preciso desse tipo de apoio agora. Minha força é minha indiferença. Sobrevivi às suas crueldades.
Gerard Donovan. O telescópio de Schopenhauer (Novo Século, pg. 141).
É preciso observar os fatos e planejar a sobrevivência, porque ninguém mais o fará, isto é certo. Levante todas as bandeiras que puder, esconda-se sob elas e não mostre a cara ao mundo. Concorde com todos. Fale todas as línguas e, ao mesmo tempo, nenhuma. Aprenda a ser invisível. Não defenda nenhuma causa. Viva sob pedaços de papelão dentro dos túneis e respire um ar secreto, que se ferre o doce mundo do romantismo. Ferrem-se todos, eles podem ir para o inferno. Meus amigos me deixaram totalmente sozinho e não se importaram. Sobrevivi, contudo. Não preciso desse tipo de apoio agora. Minha força é minha indiferença. Sobrevivi às suas crueldades.
Gerard Donovan. O telescópio de Schopenhauer (Novo Século, pg. 141).
SIM, POR FAVOR
Sem Você
(Chico Buarque)
Sem você
Sem amor
É tudo sofrimento
Pois você
É o amor
Que eu sempre procurei em vão
Você é o que resiste
Ao desespero
E à solidão
Nada existe
E o tempo é triste
Sem você
Meu amor
Meu amor
Nunca te ausentes de mim
Para que eu viva em paz
Para que eu não sofra mais
Tanta mágoa assim
No mundo sem você
Bêbados solitários, cães vadios, inquietos
delimitam seus espaços, seus escuros.
Senhores da noite que são
constróem seus miseráveis impérios
nos escombros que sobraram do dia, que sobraram da vida.
Quanto aos demais, impermeáveis em seus silêncios e mistérios,
uns dormem seus merecidos medos, outros sonham seus sonhos acovardados.
Enfim, se infartam de segredos e pecados, os normais.
delimitam seus espaços, seus escuros.
Senhores da noite que são
constróem seus miseráveis impérios
nos escombros que sobraram do dia, que sobraram da vida.
Quanto aos demais, impermeáveis em seus silêncios e mistérios,
uns dormem seus merecidos medos, outros sonham seus sonhos acovardados.
Enfim, se infartam de segredos e pecados, os normais.
Darci Borges
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
- Quando a noite chegar cedo e a neve cobrir as ruas, ficarei o dia inteiro na cama pensando em dormir com você.
- Quando estiver muito quente, me dará uma moleza de balançar devagarinho na rede pensando em dormir com você.
- Vou te escrever carta e não mandar. (...)
- E que uma palavra ou um gesto, seu ou meu, seria suficiente para modificar nossos roteiros.
(...)
- Mas não seria natural.
- Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem.
- Natural é encontrar. Natural é perder. (...)
Caio Fernando Abreu
- Quando estiver muito quente, me dará uma moleza de balançar devagarinho na rede pensando em dormir com você.
- Vou te escrever carta e não mandar. (...)
- E que uma palavra ou um gesto, seu ou meu, seria suficiente para modificar nossos roteiros.
(...)
- Mas não seria natural.
- Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem.
- Natural é encontrar. Natural é perder. (...)
Caio Fernando Abreu
sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
Parece muito doce aquela cana.
Descasco-a, provo-a, chupo-a... ilusão treda!
O amor, poeta, é como a cana azeda,
A toda a boca que o não prova engana.
Quis saber que era o amor, por experiência,
E hoje que, enfim, conheço o seu conteúdo,
Pudera eu ter, eu que idolatro o estudo,
Todas as ciências menos esta ciência!
Certo, este o amor não é que, em ânsias, amo
Mas certo, o egoísta amor este é que acinte
Amas, oposto a mim. Por conseguinte
Chamas amor aquilo que eu não chamo.
Oposto ideal ao meu ideal conservas.
Diverso é, pois, o ponto outro de vista
Consoante o qual, observo o amor, do egoísta
Modo de ver, consoante o qual, o observas.
Porque o amor, tal como eu o estou amando,
É Espírito, é éter, é substância fluida,
É assim como o ar que a gente pega e cuida,
Cuida, entretanto, não o estar pegando!
É a transubstanciação de instintos rudes,
Imponderabilíssima e impalpável,
Que anda acima da carne miserável
Como anda a garça acima dos açudes!
Para reproduzir tal sentimento
Daqui por diante, atenta a orelha cauta,
Como Mársias -- o inventor da flauta --
Vou inventar também outro instrumento!
Mas de tal arte e espécie tal fazê-lo
Ambiciono, que o idioma em que te eu falo
Possam todas as línguas decliná-lo
Possam todos os homens compreendê-lo.
Para que, enfim, chegando à última calma
Meu podre coração roto não role,
Integralmente desfibrado e mole,
Como um saco vazio dentro d’alma!
Descasco-a, provo-a, chupo-a... ilusão treda!
O amor, poeta, é como a cana azeda,
A toda a boca que o não prova engana.
Quis saber que era o amor, por experiência,
E hoje que, enfim, conheço o seu conteúdo,
Pudera eu ter, eu que idolatro o estudo,
Todas as ciências menos esta ciência!
Certo, este o amor não é que, em ânsias, amo
Mas certo, o egoísta amor este é que acinte
Amas, oposto a mim. Por conseguinte
Chamas amor aquilo que eu não chamo.
Oposto ideal ao meu ideal conservas.
Diverso é, pois, o ponto outro de vista
Consoante o qual, observo o amor, do egoísta
Modo de ver, consoante o qual, o observas.
Porque o amor, tal como eu o estou amando,
É Espírito, é éter, é substância fluida,
É assim como o ar que a gente pega e cuida,
Cuida, entretanto, não o estar pegando!
É a transubstanciação de instintos rudes,
Imponderabilíssima e impalpável,
Que anda acima da carne miserável
Como anda a garça acima dos açudes!
Para reproduzir tal sentimento
Daqui por diante, atenta a orelha cauta,
Como Mársias -- o inventor da flauta --
Vou inventar também outro instrumento!
Mas de tal arte e espécie tal fazê-lo
Ambiciono, que o idioma em que te eu falo
Possam todas as línguas decliná-lo
Possam todos os homens compreendê-lo.
Para que, enfim, chegando à última calma
Meu podre coração roto não role,
Integralmente desfibrado e mole,
Como um saco vazio dentro d’alma!
[Augusto dos Anjos]
(...) Andei amando loucamente, como há muito tempo não acontecia. De repente a coisa começou a desacontecer. Bebi, chorei, ouvi Maria Bethânia, fumei demais, tive insônia e excesso de sono, falta de apetite e apetite em excesso, vaguei pelas madrugadas, escrevi poemas (juro). Agora está passando: um band-aid no coração, um sorriso nos lábios – e tudo bem. Ou: que se há de fazer.
[Caio Fernado de Abreu]
[Caio Fernado de Abreu]
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
Qual é a desses macacos?
Então, além de piolhos, vocês possuem consciência?
E, além de possuí-la, vez ou outra ela pesa?
Ora! Macacos! Ao menos eu, do alto do meu ceticismo, poderia ser poupada!
Afinal, por que, diabos, suas c0nsciências só pesam quando os equivocos, vigarices e cambalachos de seus atos se evidenciam?
Por que não pesam também quando suas cretinices e calhordagens lhes são vantajosas?
Então, além de piolhos, vocês possuem consciência?
E, além de possuí-la, vez ou outra ela pesa?
Ora! Macacos! Ao menos eu, do alto do meu ceticismo, poderia ser poupada!
Afinal, por que, diabos, suas c0nsciências só pesam quando os equivocos, vigarices e cambalachos de seus atos se evidenciam?
Por que não pesam também quando suas cretinices e calhordagens lhes são vantajosas?
sábado, 2 de janeiro de 2010
dos meus dias de cão
Passos curtos, leves e vagarosos
Sucumbindo ao peso de me serEntre os inúmeros “seres” e “estares”, mútua apatia evidencia-se
Entre a melancolia e o saudosismo nostálgico irremediável,
Apenas gestos sutis e invariavelmente esnobes
Cuida-se para que se mantenha velada a existência dessa tensão emotiva
Incomunicabilidade perturbadora ecoando....
Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?
Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento
que lembra a Terra e sua púrpura
demente?
E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz
do inocente que não sou?
Ninguém responde, a vida é pétrea
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?
Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento
que lembra a Terra e sua púrpura
demente?
E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz
do inocente que não sou?
Ninguém responde, a vida é pétrea
(Carlos Drummond de Andrade )
'E que então pensei numas tardes em que você sempre vinha, e numa tarde em especial, não sei quanto tempo faz, e que depois de pensar nessa tarde e nessa chuva e nessa roda-gigante, uma frase ficou rodando nítida e quase dura no meu pensamento. Qualquer coisa assim: depois daquela nossa conversa - depois daquela nossa conversa na chuva, você nunca mais me procurou.'
(Caio Fernando Abreu)
(Caio Fernando Abreu)
"Penso em você apesar de não sentir sua falta e muito menos sua presença. Penso em você porque sinto um vazio que eu não sei do quê e nem por quê. Revelo, então, mais uma vez, minha estupidez, já que não é você quem vai me salvar e nem muito menos me catapultar pra uma dimensão mais tranquila e menos ansiosa de coisas que não tem nome."
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