sábado, 25 de junho de 2011

Há tanto ainda por ser visto, 
e meus olhos permanecem ávidos na busca do desconhecido. 
O desconhecido descobre-se frente a minha existência
E a minha existência despe-se perante o que não sei denominar
O inominável me apetece, mas me cansa deveras
Me restauro na reclusão, alimento da sanidade, 
Não me assusto com o transcorrer do tempo
que ainda não sei se curto, ou se longo em demasia
Fluo pelo meu percurso rumo ao que há de ser
E se houver pressa nos que me acompanham
Ou inércia desmedida nos meus momentos de rompantes

....Continuo só rumo ao nada

"e o homem taciturno ficou imóvel, 
sem compreender nada, numa alegria atônita...
A súbita, a dolorosa alegria de um espantalho inútil
Aonde viessem pousar os passarinhos."



Mário Quintana

domingo, 12 de junho de 2011

Sendo....

Assusta a velocidade com que as circunstâncias se alteram
O bom de outrora não mais comove no agora
O que antes era desprezo, hoje nutro um frutífero apreço

Por isso não mais me exauto e alardeio os paradigmas
As coisas que passem e fiquem o quanto quizerem
Eu nada mais abraço e nada mais rejeito

Contradições e paradoxos multiplicam-se infindavelmente
E minha inconformidade momentânea que se acerte
no caminho das minhas entranhas até a ponta da lingua,
... e que não ouse saltar!

domingo, 5 de junho de 2011

Talvez eu gostasse mesmo era das janelas
As portas estavam todas abertas
Nada se interpunha a minha possibilidade de atravessá-las
E o mundo se anunciava com cores convidativas
Em placas luminosas a vida vendia seus inúmeros atrativos
Uma série de  prazes fáceis e acessíveis

Mas talvez eu gostasse mesmo era das janelas
Ficar aqui debruçada vendo o mundo passar
Voltada para a luminosidade do meu mundo interior
Contemplando as intempéries decorrentes do abismo de me ser
Nada aparente na superfície
Algo que nenhum olhar raso desmistifique
Oscilando entre o prazer e a angústia de ser imperscrutável

sábado, 4 de junho de 2011

"Trocando em miúdos pode guardar as sobras de tudo que chamam lar, as sombras de tudo que fomos nós... as nossas melhores lembranças"

meus pés estavam demasiadamente gelados

era preciso cautela e controle
 para que o coração também não gelasse
as gavetas que guardavam as meias da subjetividade 
quando encontradas
só se abriam com muito custo


pensei ter ouvido a voz de minha mãe chamando pelo meu nome
o devaneio doce de uma realidade improvável, 
não me desloquei em busca da verificação 
o que outrora surgiria como reflexo
hoje aparenta uma elucubração tomada pela ingenuidade
de uma prolixidade  vazia e desprovida de nexo
ninguém haveria de me chamar

quarta-feira, 1 de junho de 2011

"Tá fazendo frio neste lugar, onde eu já não caibo mais... e já não caibo em mim"


Acordo deslocada,
a perplexidade não me permite caber em mim

Recordo que a realidade é mutável
e encontro acalanto naquilo que vejo transbordar

estranho tudo o que existe ao meu redor
quero correr dessa estranhesa

mas o que ficou
de tudo que foi deixado
perdeu os ares de porto

e aqui é a minha parada
naquilo que não entendo
em tudo o que possivelmente nunca se esclarecerá

na incerteza mágica que me sufoca
na certeza amarga das linhas tortas
na tortura da lentidão e do frio do passar das horas

uma música agradável adentra os meus ouvidos
um som impertinente vindo de fora insiste em competir
e a contrariedade que confunde,
minhas sensações obscuras difunde

um gosto doce sobe das entranhas
as sensações contraditórias se fundem
a satisfação do afeto compartilhado
e a frustração do prazer inconcluso

TRANSBORDA A MINHA PERPLEXIDADE