sábado, 28 de novembro de 2009

"Tento me concentrar numa daquelas sensações antigas como alegria ou fé ou esperança.Mas só fico aqui parado, sem sentir nada, sem pedir nada, sem querer nada."
Caio F.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

"Como é que é? Vai ficar com essa náusea seca a vida toda? E não fique esperando que alguém faça isso por você. Ocê sabe, na hora do porre brabo, não há nenhum dedo alheio disposto a entrar na garganta da gente."
Caio F.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

(...) tudo é engodo e constante ilusão.

O infortúnio se esconde e se abisma no peito,(...)

(Goethe)

sábado, 21 de novembro de 2009

Ah, quem me salvará de existir? Não é a morte que quero, nem a vida: é aquela outra coisa que brilha no fundo da ânsia como um diamante possível numa cova a que se não pode descer.

Fernando Pessoa in Livro do Desassossego

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

"Oh Deus, como é triste lembrar do bonito que algo ou alguém foram quando esse bonito começa a se deteriorar irremediavelmente. C.F.A.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Quando eu quis você
Você não me quis
Quando eu fui feliz
Você foi ruim
Quando foi afim
Não soube se dar
Eu estava lá mas você não viu
Tá fazendo frio nesse lugar
Onde eu já não caibo mais
Onde eu já não caibo mais
Onde eu já não caibo mais
Onde eu já não caibo em mim
Quando eu quis você
Você desprezou
Quando se acabou
Quis voltar atrás
Quando eu fui falar
Minha voz falhou
Tudo se apagou você não me viu
Tá fazendo frio nesse lugar
Onde eu já não caibo mais
Onde eu já não caibo mais
Onde eu já não caibo mais
Onde eu já não caibo em mim
Mas se eu já me perdi
Como vou me perder
Se eu já me perdi
Quando perdi você
Mas se eu já te perdi
Como vou me perder
Se eu já me perdi
Quando perdi você

ARNALDO ANTUNES
de todas as pessoas que há no mundo
por que justo você?
foi cair na minha frente assim
como um agouro ruim
por que você?
por que você?
entre tantos homens e mulheres
e mulheres homens e homens mulheres
por que você?
será que eu te pedi pra ir embora
você não foi, e agora?
se quando eu te pedi para ficar você ficou.
por que coxas pelos pele seios
cabelos músculos pescoço
por que?
se o mundo é tão imenso e tudo tão distante
todos tão distantes uns dos outros
cada um por si
como é que eu fui cair
de boca aqui?
se tudo fica tão intenso
quando eu penso em você
e eu
vou ter agora e sempre que sofrer
sem nunca poder esquecer
você?
se existem tantos pensamentos possíveis e impossíveis por que só
a sua imagem vem a todo instante me assombrar
assim?
eu quis você sim
mas não assim
eu sei que eu fui a fim, sim,
mas não assim
se o que te impede de sair da minha vida
insiste em te dizer não
e magoar quem te deseja e te quer bem
também não deixa de querer mas nunca vem
pra mim
não quero nada de você
não quero nada de você
só vocêAlinhar ao centro
de você não quero agora
de você eu quis
você

ARNALDO ANTUNES

sábado, 14 de novembro de 2009



"carrego coisas pesadas e quase não mais flutuo. há tempos, navego sem encontrar portos pelo caminho. lugares onde se possa parar. descarregar as cargas amontoadas. atirar o que é sobra ao chão do cais. navego enquanto posso, sem conseguir me livrar da bagagem. das pedras dentro das malas. sabendo que a mudança foi com a embarcação e não com o mar. navego, sabendo que afundar é questão de tempo." (eduardo baszczyn)
"(...) a verdade é que eles formam para si uma casca de orgulho, um invólucro repugnante, uma sólida hipocrisia, mas no fundo são ocos. Asquerosos e ocos. E padecem da mais horrível variante da solidão: a solidão de quem não tem sequer a si mesmo." Retirado de A Trégua, Mario Benedetti

"O que eu queria era uma caverna no Colorado com um estoque de comida e bebida para três anos. Limparia minha bunda com areia. Qualquer coisa, qualquer coisa que me salvasse do afogamento desta existência trivial, covarde e estúpida." Buk

terça-feira, 10 de novembro de 2009

segunda-feira, 9 de novembro de 2009



"Que vontade escapista e burra de encontrar noutro olhar que não o meu próprio - tão cansado, tão causado - qualquer coisa vasta e abstrata quanto, digamos assim, um caminho" Caio F.

Caio F.

"Ou me quer e vem, ou não me quer e não vem. Mas que me diga logo pra que eu possa desocupar o coração. Avisei que não dou mais nenhum sinal de vida. E não darei. Não é mais possível. Não vou me alimentar de ilusões. Prefiro reconhecer com o máximo de tranqüilidade possível que estou só do que ficar a mercê de visitas adiadas, encontros transferidos..."

domingo, 8 de novembro de 2009

É noite. Sinto que é noite
não porque a sombra descesse
(bem me importa se a face é negra)
mas porque dentro de mim,
no fundo de mim, o grito
se calou, fez-se o desânimo.

Sinto que nós somos a noite,
que palpitamos no escuro
e em noite nos dissolvemos.
Sinto que é noite no vento, noite nas águas, na pedra.

Carlos Drummond de Andrade
Então me vens e me chega e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que jamais será comprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque assim que és...

Caio Fernando Abreu
Por favor, não me empurre de volta ao sem volta de mim, há muito tempo estava acostumado a apenas consumir pessoas como se consomem cigarros, a gente fuma, esmaga a ponta no cinzeiro, depois vira na privada, puxa a descarga, pronto, acabou. Desculpe, mas foi só mais um engano? E quantos ainda restam na palma da minha mão? Ah, me socorre que hoje não quero fechar a porta com essa fome na boca...
Caio F.
Fora isso o que sempre estivera nos meus olhos no retrato: uma alegria inexpressiva, um prazer que não sabe que é prazer - um prazer delicado demais para a minha grossa humanidade que sempre fora feita de conceitos grossos.

Clarice Lispector.

sábado, 7 de novembro de 2009

Encostei-me a ti, sabendo bem que eras somente onda.
Sabendo bem que eras nuvem, depus a minha vida em ti.
Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao teu destino frágil,
Fiquei sem poder chorar, quando caí.
Cecília Meireles.