sábado, 15 de agosto de 2009

que exista em ti
minha casca
minha casa
deixa-me ficar
em ti e por ti
para sempre
[me faltam os músculos de existir se te vais]
Luminosidade opaca que me habituei a tomar como certa e que sempre me untou a alma de uma angústia sem razão.
Creio que nunca abandonei de fato a falta de coragem que me persegue desde pequena, que me encurrala no medo diário de me procurar, de atingir aquilo a que devia ter aspirado, a metamorfose final em mulher, o ponto de chegada do ciclo de eterna gestação em que me arrasto.
Nunca tinha me visto sem máscara como agora, onde está a minha ironia, o meu escárnio, a minha força inabalável?
[senti uma súbita auto-piedade e detestei-me por isso]
Sou afinal tão igual, tão igual a toda a gente, que me dói sem que saibam suspeitar-me assim indefesa, assim humana, que me magoa sem que eu demonstre, descobrir-me tão à sua medida agora que tenho de partir, que uma vez mais tenho de partir..

terça-feira, 11 de agosto de 2009


"Alguém que tenha sobrevivido a duas ou três gerações encontra-se na mesma dis­posição de espírito que um espectador que, sentado numa barraca de saltimbancos na feira, vê as mesmas farsas repetidas duas ou três vezes sem interrupção: é que as coi­sas estavam calculadas para uma única re­presentação e já não fazem nenhum efeito, uma vez dissipadas a ilusão e a novidade." (Schopenhauer - Dores do Mundo)

sábado, 1 de agosto de 2009

- Quando foi que se apegou tão fortemente às tais condições objetivas? Ora, procuremos algo de sensato dentro dessa infinda insensatez. Como podes? É improvável que consiga exito dentro desse paradoxo... tentas ser um louco consciente e controlador da própria loucura?
Esse discurso pautado nas "condições objetivas" é para os que estão em pleno estado de sanidade, e o simples fato de eu ser o seu interlocutor nesse momento já o liberta das responsabilidades para com esses parâmetros.
Permanecerás grávida de um futuro que não se atreveu a arriscar por conta das ditas "condições objetivas", com a insatisfação de relembrar um passado de dias abortados? Esse caminho que vos obriga a seguir, e que tens caminhado penosamente por ele, unicamente será capaz de levar-lhe para um estado de constante e imparável multiplicação de uma solidão sem remédio. Se persiste em provocar arranhões nesse 'tipo ideal' que tens seguido, torturantemente, por que não quebras de uma só vez?