sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Anoiteceu
Ouviu-se os gritos
Acontecia a discussão 

Mas ninguém haveria de socorrer uma insignificante Maria

Amanheceu
Encontraram o corpo
Esfaqueada pelo filho

Mas ninguém haveria de verter uma lágrima por uma insignificante Maria

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Senhora M.C.

Seguindo o padrão de complexidade presente na vida de tantas Marias
Senhora M.C. transmitia em seu olhar angustiado a lógica simplista que as culpabiliza. 
"Onde teria errado?". Via-se a indagação em seus atos resignados, 
tendo um dos filhos desvirtuado o caminho previsto enquanto mãe dedicada, 
entre seus três bem sucedidos rebentos. 

As entidades divinas lhe confortavam frente a parede incendiada.
 Tudo que fosse perecível era passível de fazer-se alvo da fúria daquele que tanto amava.
Menos seu inquebrável coração de mãe 

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Senhora M.A.

Descansa agora, Senhora M.A.
Sossega seu coração das angústias da vida
Tens agora o seu canto irrenunciável
Que acolherá o que foi contigo,
 sem cobrar retorno

Imagino ainda de ti o olhar pesaroso 
da ingratidão  dos viventes
Aquieto com certo conforto por recordar 
Que ainda lhe havia o prazer do chocolate

Imagino-te em sua partida solitária
E lamento pelo pertencimento a espécie humana

Pouco importa que teu fim seja reflexo do percurso realizado
Desejo a ti o descanso que só o findar proporciona
Deixo-te esse poema solto no vazio
 de nossa compartilhada insignificância 
Como teu último chocolate.