segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Jessica Harrison




Kees van Dongen



O corpo não espera. Não. Por nós
ou pelo amor. Este pousar de mãos,
tão reticente e que interroga a sós
a tépida secura acetinada,
a que palpita por adivinhada
em solitários movimentos vãos;
este pousar em que não estamos nós,
mas uma sêde, uma memória, tudo
o que sabemos de tocar desnudo
o corpo que não espera; este pousar
que não conhece, nada vê, nem nada
ousa temer no seu temor agudo...

Tem tanta pressa o corpo! E já passou,
quando um de nós ou quando o amor chegou.


Jorge de Sena

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Caio Fernando Abreu - PEQUENAS EPIFANIAS

Nada de mal me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas.

Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Estais de volta!
Espirais de luz...
Múltiplas faces!
Cala em mim
a corrosão do desencanto.

Dá-me o direito
de tê-la assim:
desejada e liberta
— infinitamente! —


Helena Amin

Kees van Dongen

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Elaine G. Coffee

Thomas Wilmer Dewing (1851-1938)






É possível que a poesia não lhe toque da mesma maneira que deveras paralisa os meus sentidos, e que as palavras sejam apenas algo que lhe surgem como meio óbvio e elementar de interação com os demais. E que minhas músicas cheguem até você como mera prova cabal do meu pieguismo desmedido, descontextualizado, e fora de tudo o que poderia esperar dentro dos padrões que lhe foram apresentados. Pode ser também que a minha cafonice o envergonhe em determinadas circustâncias. Ou que, por vezes, o que eu venha a dizer seja totalmente estranho, descolado da aparente realidade que tomas como única e certa. Mas, meu bem, estas em tudo aquilo que sou e que amo, mesmo sendo possível que talvez nunca entenda...

Francesco Brunery (1849 – 1926)



sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

“E tem gente maravilhosa que, de repente, vai ficando longe, difícil de ver – e aí dança. Mas também acho que aquilo que é bom, e de verdade, e forte, e importante – coisa ou pessoa – na sua vida, isso não se perde. E aí lembro de Guimarães Rosa, quando dizia que “o que tem de ser, tem muita força”. A gente não tem é que se assustar com as distâncias e os afastamentos que pintam.”




- Caio Fernando Abreu.

Amanheceu!