terça-feira, 29 de setembro de 2009

Desproposital Nostalgia

Há situações que carregam consigo uma certa magia mesmo tendo sido comprovado empiricamente o quanto podem ser desagradáveis em seus desdobramentos.

Essa era uma daquelas noites em que ela gostaria de estar sentido o mau cheiro daquela rede molhada pela chuva e secada pelo sol incontáveis vezes, ouvindo “Sob um céu de blues” no volume mais incomodativo possível para os viventes dos arredores, colocando em risco a vida útil dos seus tímpanos, vendo aquela lua imensa ameaçando cair sobre sua cabeça no primeiro deslize em que ousasse dormir, ingerindo aquelas substâncias baratas totalmente características de todo o contexto, vagando pelo seu corpo na inútil tentativa de driblar os efeitos do frio, e todo aquele arsenal de palavras vãs, toda aquela banalidade falsamente poética, fatalmente inculta, totalmente desprovida da dignidade fabricada pela contemporaneidade.
Em noites como aquelas ela necessitava daquele caos, daquele cheiro de cigarro misturado com incenso, impregnados nas paredes, nos móveis, nas cortinas, na pele, no cabelo... Faltavam sensações aromaticamente definidas como aquelas.
Queria outro exemplar daqueles pseudo-intelectuais inconseqüentes lhe contando histórias de livros que ela depois chegaria a ler para tentar alcançar novamente aqueles sentidos indefiniveis . Doía um pouco saber que nenhum outro lhe contaria tão bem a história do “Como me tornei um estúpido”, em cima de um telhado que anunciava em sua estrutura que seus dias estavam contados...

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Nem sempre há uma explicação plausível, aceitável, justificável, digna, coerente... O que se sente em relação às coisas, em relação ao mundo, em relação às pessoas simplesmente flui de lugar algum, e não se direciona a nada, apenas paira no ar, deixando aquela sensação semelhante aos dias de calor quando não há vento. Abafa, sufoca, respira-se arduamente, pouco ar a ser dividido entre tantos seres.
Os sentidos que derivam de motivações especificas assemelham-se ao frescor do fim de uma tarde de inverno, quando o sol ainda aquece, mas de forma sutil, proporcionando sensações inexplicáveis na pele gélida, mesmo não se tratando de circunstâncias agradáveis, ainda se tem aquele leve resquício de algo inominável anunciando que a alteração de algum elemento poderia fazer com que as coisas se acertassem, são circunstâncias em que os argumentos habituais ainda têm alguma serventia, quando ainda é possível dizer que ‘vai passar’, ou outros artifícios de continuidade do mesmo gênero. Contudo, quando não se consegue identificar qualquer espécie de motivo, dilaceram-se as possibilidades.

Algo anunciava que o dia não seria bom, e ela sabia não estar equivocada em relação a isso, aquele distanciamento em relação ao que acreditava ser, e ao que realmente era, de acordo com as evidências irrefutáveis, acirrava-se nesses dias. Demorava tanto para os merecimentos, e antes deles era preciso passar pelas situações mais desagradáveis que se pode imaginar. Causava certa fúria a constatação daquele descaso tão espontâneo, algo premeditado certamente inflamaria menos a pele, definitivamente, personificar a irrelevância é um trabalho árduo que exige um longo percurso, porém, irreversível após feito.
Ela queria dizer tantas bobagens, tão imprecisas quanto os seus pensamentos. Queria que soubessem o quanto os achavam detestáveis, queria poder dizer que qualquer sentimento que transcendesse aquela dependência direcionava-se para maldizeres, mas não haviam sujeitos, sofria da falta de interlocutores.
Ela só tinha um cachorro e um cigarro, e considerando que o primeiro não ouviria e o segundo calaria sua boca, sentou-se naquele chão sujo e esperou... Incansavelmente esperou por tudo o que certamente não viria. Dias como estes são capazes de destruir a leveza conquistada por toda uma vida.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

(em caso de não continuidade - siga a marcha fúnebre)

Todos aqueles pensamentos eram insistentes, diariamente apareciam nem que fosse pelo simples fato de fazer-se notar, nada muito marcante nem muito dolorido.
Na verdade doía, mas era aquela dor que não compensava o efeito colateral de qualquer analgésico, uma dor de anunciação querendo reclamar um passado mal digerido, como se alguém dentro abrisse as janelas da alma, ou daquilo que chamamos de alma, e despejasse pequenos fragmentos de vida concretizada ou meramente imaginada, deixando-as fluir pelas frestas, almejando livrar-se ou apenas compartilhar todas aquelas lembranças indigestas, lembranças estas que ainda traziam um gosto na boca, um som aos ouvidos e todo aquele excesso de imagens em tão pouco tempo, nada assimilado por completo.
E aquele nó impossível de ser desatado ou então simplesmente empurrado estomago adentro, e aquele “nós” impossível de ser resgatado ou apenas esquecido, guardado no fundo de uma gaveta qualquer junto com todas aquelas coisas as quais estamos totalmente cientes de que nunca mais terão utilidade, mas que por uma espécie de piedade, guardamo-las com aquela sensação enganosa de um dia precisar novamente, nem que seja apenas como forma de materialização de um passado significativo.
Mas a persistência em se mostrarem vivas causava uma perturbação que impedia o enterro, um eterno funeral de lembranças ainda vivas, quase um rito, uma espécie de cerimônia para adverti-las de que mesmo estando apenas “meio mortas” haveriam de ser enterradas, seus últimos momentos seriam a asfixia.
Entretanto, analisando o requinte de crueldade de uma asfixia, foi então que decidi matá-las...
Ao se analisar com frieza todas as situações que permeiam a existência, certamente têm-se um sentimento absurdo de banalidade, nada escapa do crivo de uma reflexão mais apurada e estritamente racional.
Absolutamente previsíveis, e inescapáveis, as situações se desenvolvem com pequenas variações de tempo, espaço e personagens.
Os que pensam estar preservando certa individualidade e exclusividade em relação a sua interação com todas as facetas do próprio eu, e com o todo que os envolvem, certamente, em algum momento, em meio a qualquer fato banal, ou então, no que pensam ter ou ser de mais excêntrico e incomum, inevitavelmente, em algum dos momentos deixarão cair os óculos com as lentes que distorcem a realidade, ou então se distanciarão demais da neblina enganadora que os envolvia, e indiscutivelmente se darão conta do roteiro pré-estabelecido que estavam seguindo, ludibriados apenas com sutis e quase imperceptíveis variáveis, que ao serem colocadas no cálculo geral, não servem de agravantes de peso significativo.
Não se trata de pensar em ideologia, manipulação, alienação, ou qualquer derivação de tais termos repugnantes, a nossa própria biologia, que independe de qualquer fator influenciável pela “inteligência” humana, já faz de nós essa coisa genérica, totalmente substituível.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Sensações
Náusea crônica
Totalidade indigesta
Vomitar-se do mundo

sábado, 19 de setembro de 2009

Definitivamente, não sou capaz de manter uma relação amigável com minhas estratégias de auto-engano, sempre acabo sendo sabotada por essas calhordas. E tenho que suportar seus risinhos cínicos, e sua eloquência inconfundível , despejando sobre mim seus bem articulados verbetes anunciando que eu já sabia que elas não eram confiáveis.
O fato é que há sempre algum atrativo nas mesmas que me induz a compactuar com elas. O que as tornam tão atraentes, e irresistívelmente convincentes, é o fato de servirem como auxílio no enfrentamento dos percausos subjetivos. São resolutoras incomparáveis para as circunstâncias que criamos no imaginário, porém, nunca resistem quando verdadeiramente e objetivamente são colocadas à prova.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Eu quero
Ser exorcizado
Pela água benta
Desse olhar infindo
Que bom
É ser fotografado
Mas pelas retinas
Dos seus olhos lindos
Me deixe hipnotizado
Prá acabar de vez
Com essa disritmia...

Z.B.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Abraça tua loucura antes que seja tarde demais

Quando o monólogo interior ultrapassa o estritamente interior, com essa necessidade gritante de materialização em palavras, e não se possui um interlocutor para tal, a insanidade torna-se certa. Entretanto, que propriedade eu teria para falar sobre o que pode vir a ser insanidade?
Eis-me aqui! A personificação do que se pode chamar de "homem do senso comum!
Pode ser que seja uma tentativa de falar sobre essa loucura que se gesta, evidenciando-se através de abruptas sutilezas...
Afinal, nada poderia se caracterizar mais como loucura do que tornar-se ao mesmo tempo locutor e interlocutor, trata-se do momento em que o monólogo já não basta, a necessidade sem possibilidade de ultrapassar essa condição.
Contudo, hoje em dia é possível atribuir um distúrbio psicológico para cada indivíduo, principalmente porque todas as caracteristicas inerentes ao ser humano são apontadas como sintomas de algo passível de medicação.
Sendo assim, nenhum escrúpulo me impede de ser o louco, mesmo porque, sendo eu mesma o locutor e o interlocutor, em nenhuma das duas posições eu colocaria obstáculos maiores do que os possíveis de serem ultrapassados pelo tamanho das minhas pernas (não nesse caso), que pudessem me impedir de exercer essa papel.
Essa auto atribuição de loucura é uma espécie de auto proteção contra a verdadeira loucura. Me protejo contra a verdadeira, sufocando minhas angústias e neuras nessa pseudo loucura, ou seja, eu a abraço antes e a mantenho no meu controle, eu a internalizo para que fique no meu domínio para que o oposto não ocorra.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Sei rir mostrando os dentes e a língua afiada
mais cortante que um velho blues
Mas hoje eu só quero chorar
como um poeta do passado
e fumar o meu cigarro
na falta de absinto
Eu sinto tanto
eu sinto muito
eu nada sinto

Z.B.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

São só palavras: teço, ensaio e cena
A cada ato enceno a diferença
Do que é amor ficou o seu retrato
A peça que interpreto
Um improviso insensato
Essa saudade eu sei de cor
E há muito estou alheio a quem me entende
Recebe o resto exato e tão pequeno
E dor, se há - Tentava, já não tento
E ao transformar em dor o que é vaidade
E ao ter amor se este é só orgulho
Eu faço da mentira, liberdade
E de qualquer quintal, faço cidade
Insisto que é virtude o que é entulho:
Baldio é o meu terreno e meu alarde.

R.R.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A vida tem sido deveras medíocre ultimamente, entretanto, em algum momento ela não foi, ou apenas existia um certo caos em relação a mediocridade, ou seja, ela se fazia presente, porém, o fato da sua extrema consciência deixavam maiores as possibilidades de livrar-se dela?
A diferença não estaria no fato de agora a mediocridade estar envolta em uma certa imobilidade ainda mais intensa?
Existiria um total estado de imobilidade na mediocridade ou um total estado de calmaria inconsciente de qualquer mediocridade mas totalmente imerso na mesma?
[estaria eu caminhando para tal?]
Creio que esse desespero seja apenas imaturidade, uma sensação tipíca de quem ainda está na infancia existencial.
O fato é que a vida sempre segue o seu fluxo, independente dos percausos desses seres pequenos que somos; ok! sem generalização, desse ser pequeno que sou. Mas tirar o resto da humanidade dessa generalização de pequenez não seria superestimá-los? Afinal, pelo que a minha constatação embasada em observação de um insignificante ser em sua infância existencial, a mesquinhez impera sobre a humanidade. Mas que credibilidade, que sanidade, que capacidade eu poderia ter para fazer tais constatações? Em contrapartida, eu não estaria me subestimando?
É de fato característico de seres pertencentes a infância existencial apelar para os extremos, e a consciência disso não ameniza absolutamente a situação, trata-se de uma daqueles situações em que se tem plena consciência de que o fato de ter certa postura é totalmente decorrência da posição em que se está ocupando, porém, no que difere? Afinal, como já disse anteriormente, o fato de se ter consciência de algo não altera susbstancialmente a situação, porém, o que a alteraria?

[algo realmente se altera? e se ocorre a tal alteração, quais são as garantias de direção ao exito? e o que seria esse tal exito?[

Acalmaria na mediocridade serviria para algo? E o caos na mediocridade, do que poderia servir? E o que seria extingui-la? E o que fazer do estado de total ausência de mediocriade? Imaginar tal estado e analisá-lo porteriomente já se demonstra como algo falho, resta sempre pequenos vestigios de algo extremamente pequeno em tudo o que é imaginável....
Mas o inimaginável não é alcançável, é algo que apenas se sabe, ou se pensa saber, mas não se mensura, um estado ideal, termo que não deveria ser aplicado, totalmente falho, ele sempre nos escapa, e desse modo, não se aplica, usa-se apenas para demonstrar ainda mais mediocridade, aquela que se remete a falta de compreensão em relação a tudo que se faz presente, mesmo dentro de tanta pequenez, ainda falta... O fato é que a falta sempre impera.

[mesmo não sendo o caso, qual seria a utilidade de expressar-se? No que isso resolveria, ou ao menos amenizaria qualquer situação?]

É um vazio pleno... a plenitude no vazio.