sábado, 27 de dezembro de 2008

Ah! Velho Buk!




-Você acha que se deva glorificar a bebida?
-Não mais do que qualquer outra coisa
-Beber nao é uma doença?
-Respirar é uma doença
“Com ignorância e vileza absolutas, nossos genitores, isto é, nossos pais, nos põem no mundo e, feito isso, não conseguem lidar conosco, todas as suas tentativas fracassam, eles desistem logo, mas sempre tarde demais, sempre e somente quando já nos destruíram faz tempo" (Thomas Bernhard)

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Shakespeare criou o mundo em sete dias

No primeiro dia fez o céu, as montanhas e os abismos da alma.
No segundo dia fez os rios, os mares, os oceanose os outros sentimentos -e deu-os a Hamlet, a Júlio César, a Antônio, a Cleópatra e a Oféliaa Otelo e outros,para os dominarem, eles e os seus descendentes,até o fim dos tempos.
No terceiro dia reuniu todos os homense ensinou-lhes o gosto:o gosto da felicidade, do amor, da desesperança,o gosto do ciúme, da glória e assim por diante,até se terem acabado todos os gostos.
Chegaram então alguns indivíduos que se tinham atrasado.
O criador afagou-lhes a cabeça compadecidoe disse-lhes e que não lhes restava senão tornarem-secríticos literáriose contestaram-lhe a obra.
O quarto e o quinto dia reservou-os para o riso.
Soltou os palhaçospara darem cambalhotas,e deixou os reis, os imperadorese outros infelizes divertirem-se.
No sexto dia resolveu alguns problemas administrativos:pôs no caminho uma tempestadee ensinou ao rei Learcomo se deve usar a coroa de palha.
Ainda haviam sobrado alguns desperdícios da criação do mundoe então fez Ricardo III.

No sétimo dia viu se ainda tinha algo por fazer.
Os diretores de teatro já tinham enchido a terra com cartazes,e Shakespeare pensou que depois de tanto trabalhomerecia ele próprio ver um espetáculo.
Mas antes, como estava exaustivamente cansado,foi morrer um pouco.

Marin Sorescu
tradução de Luciano Maia

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008



Escrever fora o único jeito que ela havia encontrado para suportar a vida.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

_ As vezes eu não sinto nada, não escuto, não falo, tenho vontade de não ver também, mas se eu fecho os olhos eu quebro a cara, tô de saco cheio dessa falta de sentido, dessa palhaçada nonsense, sacou?
_ Relaxa, meu amor, relaxa.
_ É preciso reconhecer o espaço, eu não tenho mais que cinco minutos, é preciso que as coisas se resolvam, se demorar muito eu vou continuar sem entender.
_ Relaxa, meu amor, relaxa.
_ Se ficar muito tempo ninguém aguenta, tem que saber onde se pisa, entendeu?
_ Relaxa, meu amor, relaxa.
_ Se relaxar o negócio sai mal feito, é preciso dedicãção, saber onde tá se metendo. Geralmente a gente não sabe que tá com a cabeça dentro da boca de um leão, e o bicho tá louco para matar a fome!

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

quão detestáveis são as noites de verão. quão incoveniente é o riso. as falas desconexas. as efusividades desses hóspedes temporários dos prazeres.
Ah! Esse medo de morrer (essa aflição por estar no mundo)
De braços cruzados, a vida segue (e eu: imóvel)

[vou me esfacelando contra as palavras]

domingo, 21 de dezembro de 2008

Ah! Oscar Wilde, meu caro, eu poderia ser uma mera reprodutora de ti sem nenhum trauma!




Aquela dama estava usando arrebique demais, ontem à noite, e roupa de menos. Isso é sempre sinal de desespero, numa mulher.

sábado, 20 de dezembro de 2008



Eu não estou doente, só sei que a vida não vale a pena ser vivida.


Os olhos parados numa expressão estranha, misto de ironia e tristeza. Mas não se pode negar que tinha algo diferente - alguma coisa assim que transcendia o corpo e ficava pairando como... como uma névoa vaga de manhã de outono. O fato é que ela possuía uma graça especial, talvez o jeito como se debruçava à janela, ou mesmo o jeito de sorrir apertando os lábios, como se temesse revelar no sorriso todo o seu mundo interior.

Caio Fernando Abreu


" vai pelo caminho da esquerda, boy, que pelo da direita tem lobo mau e solidão medonha " (c.f.a.)

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008



É o fim , bela amiga
De nossos planos detalhados... o fim
O fim do riso e das leves mentiras
O fim das noites em que tentavamos morrer

sábado, 13 de dezembro de 2008

esse estado de expectadora da existência.
essa doce morbidez.
essa fuga em busca de uma falsa segurança no mundo interior.

[ah! a patética confissão desse desejo de fuga...
nostalgia de distância e novidade,
esse anseio por libertação, desobrigação e esquecimento!]

esse ar nas entrelinhas de texto batido de amante mal amado.
essas falsas e densas complexidades psicológicas.

[ah! como eu queria me aconchegar no seu colo acolhedor e sentir que estas a me poupar dessas presentes e futuras dores dilacerantes. olha! nada mais quero que não seja ter entre as minhas tuas mãos]

talvez eu me firme na certeza de que há sempre alguém que não vemos nos deixando flores.


“Danem-se”, repetiu olhando enfrentativa em volta. Mas “danem-se” não era suficiente para aquela gentalha. Então rosnou: “Fodam-se!” em voz baixa, mas com ódio suficiente...


"Vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno, bem no meio duma praça, então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta, mas tanta coisa que eu vou ficar calada um tempo enorme...só olhando você, sem dizer nada só olhando e pensando: Meu Deus, mas como você me dói de vez em quando!"

(Caio Fernando Abreu)

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008



Horas a fio,

esperando que a ausência se vá..


hoje
se soubesse morrer,
morreria

tédio, ócio e ausências desencadeiam uma série de possibilidades absurdas em nossas cabeças...

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

fazia um friu insuportável. lá fora caia a chuva enfurecida prometendo vingar-se de qualquer um que tentasse afrontá-la. não havia possibilidade de nenhum dos dois fugir.
o líquido tombado dos copos misturava-se com a cinza dos cigarros. restava ainda na mesa pedaços de um passado passado a limpo. cada minuto fazia-se interminável. o acaso havia condenado os dois a digerirem aquela história frente a frente. qualquer manifestação de desalento seria derramada nos olhos do outro. ela que sempre teve os olhos fugitivos agora o inundava de sentimentos gélidos. ele martirizava-se por tê-la apunhalado com tantas delicadezas e falsas promessas que jamais seriam cumpridas. nada mais se poderia esperar daquela junção de insonias profundas e sonos intermináveis. era o fim das noites de ciclos etílicos bukovskiano.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Havia apenas uma certeza em sua mente: não iria mais proceder da mesma forma! era definitivo, nada faria com que ela mudasse de idéia, afinal, depois de ter cometido o mesmo erro tantas vezes seguidas sem refletir por nenhum segundo, de fato não teria como não ter criado alguma resistencia, ainda mais quando se tratava dele, que pouco a motivava sentimentalmente, mas que sempre a convencia com sua argumentação bem pouco coerente e articulada, contudo, dessa vez ela estava preparada, ele não a convenceria.
Como era de se esperar, a situação estava ocorrendo assim como ela imaginou, e no momento exato, exatamente na hora em que ela havia suposto, eis que ele aparece, o semblante de sempre, aquele ar transmitindo a impressão de que haviam se visto apenas a poucas horas e que ele estava sendo esperado, em outras situações isso já havia lhe causado uma certa irritação, mas agora não lhe provocava nenhum sentimento negativo, o que ela sentia era uma profunda satisfação por estar certa de que dessa vez os planos dele seriam frustrados.
Cheia de si ela foi até onde ele estava e deixou que ele falasse, ela se limitava apenas a responder o que ele perguntava, e eis que surge a proposta, como sempre, nada inovador, ela não compreendia como foi capaz de perder tanto tempo com um humano que a fez ler um livro de micro história, e que tinha em mente apenas programas detestáveis em lugares e com pessoas igualmente detestáveis.
Surtou por alguns segundos e começou repetir baixinho para si: "Ah, então foi pra ele que eu dei meu coração e tanto sofri? Amor é falta de QI, tenho cada vez mais certeza". Apesar de nem ao menos ter chegado a amá-lo, ela sempre se feria por seu excesso de sentimentalismo em todo relacionamento que se envolvia.
Voltou a si. Perguntou a ele se recordava quanto tempo não se encontravam, riu descaradamente na cara dele com o ar mais debochado que encontrou ao ouvi-lo dizer que deviam fazer umas três semanas, e aproveitou para dar um de seus conselhos sarcásticos de que ele deveria levar mais a sério a multidisciplinariedade, a História deve ter deteriorado o senso numérico dele, ou ele realmente pensou que a enganaria? afinal, confundir dois meses com três semanas não é algo tão comum de acontecer, não dava para relevar mais uma de suas tolices.
No fundo o que ela queria era encontrar uma forma categorica de mandá-lo para o inferno, não poderia abrir mão de sua sutileza por tamanha insignificancia, ela poderia passar muito tempo desinflando o ego e destruindo-o com seu imenso arsenal de ofensas travestidas de eufemismos, mas não, isso prolongaria a presença dele, e quanto maior fosse o periodo em que ela passasse falando, ele se sentiria no direito de usar a mesma proporção de tempo com explicações, e não era isso que ela desejava... se limitou a mandá-lo embora e dizer que não era mais bem vindo em sua vida... (se livrara de mais um 'fantasma').

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

"É uma honra arruinar-se pela poesia".



Bêbadas,brancas,bacantes o beijam
Suas artérias hírcicas latejam
sentindo o odor das carnações abstêmias
e anoite vai gozar,ébrio de vício
no sombrio bazar do meretrício
o cuspe afrodisíaco das fêmeas.



chama-se Dor, e quando passa enluta
e todo mundo que por ela passa
há de beber a taça da cicuta
e há de beber até o fim da taça!!


Melancolia! Estende-me a tua asa! És a árvore em que devo reclinar-me... Se algum dia o prazer vier procurar-me dize a este monstro que eu fugi de casa!


"...porque neste mundo em que habitas não tens outro direito que não o de chorar."
(augusto dos anjos)