terça-feira, 12 de agosto de 2008

Aniversário

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje
(e a casa dos que me amaram treme através das minhaslágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim..
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!Não penses!
Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

sábado, 9 de agosto de 2008

Eu podia sentir que não viriam mais outros abraços como aquele, ele possuia uma singularidade quando se tratava de abraço. Não sei se era pelo cheiro, ou somente por ter a pele mais macia de todas as outras que já havia sentido em abraços. Mas agora ele teria que partir, e eu que não posso poupar as palavras, mesmo elas sendo extremamente simplórias.
Mandei de mim o meu melhor pedaço, sei que não o terei de volta, mas me agrada saber que não o deixei partir só. (mesmo ele tendo me deixado só).

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Hoje percebo o quanto me faz falta, vejo a realidade na fala dos decadentes, sinto-me em estado mais decadente que o deles, vejo a razão em suas falas, e a falta de lógica na minha incoerencia. Como aquilo me pareceu agradável, como aquele me pareceu detestável, e como eu, aqui, bem mal localizada, desejei aquele que não deseja nem a si mesmo, e ao mesmo tempo quer a todas possuir, da maneira mais baixa e vulgar que se poderia pensar, "então essa é sua concepção de vulgar?" "deixe de falso moralismo minha cara" , "Eu? moralista?"
sigo os padrões conservadores mesclados de um pós modernismo decadente.
Fugir? mas para onde? é só um pouco de falta de sorte, meu bem.
Um dia as coisas se acalmam, um dia aquele abraço terá braços, mesmo não sendo os dos seus obejtos de desejos.
Mas por favor, não se renda as evidencias,e nem a primeira impressão.
Qual outro "caminho" poderia seguir?
Os horizontes não estão mais tão vastos como já foram um dia.
Hoje só resta esse aperto no peito, e a certeza de um desejo incomedido, irremediável e irrealizável.
perdestes todos seus fieis interlocutores, agora é só você e este nó na garganta. Mas não chores, as coisas ou terão seu fim, ou irão se ajeitar,o pulsar do coração mostra que a vida está passando, e eu vou ficando, um dia agente morre e tudo se finda.....
espera-se.
ansiosamente.
com o coração partido.
é passado o tempo de engolir os "nós" da garganta...